Em LIVE do portal Cannabis & Saúde, a médica Marcela Agostinho explicou as causas dos sintomas pós-COVID e como a Cannabis pode ajudar
A live do portal Cannabis & Saúde desta quarta-feira (22) abordou o potencial da Cannabis medicinal no tratamento dos sintomas da COVID longa. A neurologista e neurofisiologista Marcela Agostinho explicou quais são e como são causados os sintomas que persistem após o organismo já ter se livrado da infecção viral.
A médica também explicou qual a relação do sistema endocanabinoide com o vírus e confirmou que a Cannabis medicinal é indicada e tem apresentado boa resposta contra os sintomas, que vão de cansaço à dor crônica.
A live semanal do portal Cannabis & Saúde acontece às quartas-feiras, às 19h, com transmissão por YouTube, Facebook e LinkedIn. Quem perdeu a conversa com a médica e quiser assistir na íntegra, basta clicar em sua plataforma preferida.
Abaixo, os destaques do que rolou na live sobre o potencial da Cannabis medicinal no tratamento dos sintomas da COVID longa.
Síndrome pós-COVID
“A COVID é uma doença altamente inflamatória. Ela causa alterações em todos os nossos órgãos, no sistema nervoso central e periférico e traz alterações cardíacas também. A Covid longa, quando a gente fala esse termo, são sintomas que permanecem mesmo após a cura da infecção. O paciente já não está mais infectado, mas ele ficou com sintomas remanescentes que restaram é pós- covid.”
“Os mais comuns são dor de cabeça, cansaço, ansiedade e insônia. Mas pode causar alterações nos nervos periféricos, como polineuropatia. Dor no corpo é muito comum por ser uma doença altamente inflamatória. Tem algumas pessoas que desenvolveram miocardite e outras sequelas no coração. Pode causar AVC na fase aguda, pois tem fatores pró-trombóticos.”
“Quanto mais grave for a doença, maior é o índice de sequelas e a quantidade de sintomas pós-covid. Então, se é um paciente que ficou muito tempo internado em UTI, a chance dele desenvolver mais sintomas é maior.”
“Estudos colocam que 80% dessas pessoas têm distúrbios de memória. É uma queixa que tem chamado bastante atenção nos consultórios dos neurologistas.”
“Tem o cansaço crônico. A pessoa fala que depois da COVID ficou preguiçosa. Que não era assim, mas o rendimento caiu e se sente o tempo todo cansada. Muita ansiedade e insônia também.”
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A Cannabis e a COVID
“Tem um estudo muito interessante que mostra como que o vírus age no cérebro dos pacientes. Eles conseguem entrar no cérebro e fazer uma inflamação difusa no tecido cerebral. Ai pode aumentar a produção de interleucinas, citocinas, alterar a função da microglia, que é a célula inflamatória no cérebro e fazer um desbalanço de neurotransmissores, serotonina, noradrenalina, e dá uma desregulada no sistema endocanabinoide.”
“O canabidiol é muito potente nessa questão. Ele tem é ele tem várias ações a nível cerebral, até porque tem muitos receptores para o CDB no nosso cérebro. E faria essa regulação e reduziria o nível de citocinas pró-inflamatórias, reduziria a produção dessas interleucinas, que são pro-inflamação e também conseguiria fazer uma organização desses neurotransmissores que estão todos desregulados pós covid.”
“É por isso que deixa aquela sensação de mente confusa, diminuir foco, atenção, concentração. Tudo porque o vírus tem uma ação direta lá no cérebro.”
“Temos aí uma grande quantidade de pacientes que estão indo no nosso consultório com muita dor de cabeça e muito abuso de analgésico. As pessoas elas ficam demorando para procurar um neurologista. Está sofrendo com dor de cabeça, não investiga e fica usando Dipirona, Dorflex, Neosaldina. Se entupindo de remédio, usando analgésico com excesso, e começa a piorar.”
“A insônia é outra coisa. Se a gente não orientar da forma correta, a pessoa vai usar medicamentos tarja preta, que que levam a dependência. Rivotril, Diazepam, todo tipo de benzodiazepínico, são medicamentos que geram uma dependência extrema e não resolvem o problema. Não é tratamento. O canabidiol age como um tratamento porque atua no sistema endocanabinoide, nos receptores CB1 e CB2, fazendo uma modulação desse sistema.”
“A gente sabe que o CBD melhora a memória, melhora a dor, age nessa questão inflamatória diminuindo a inflamação, não só no cérebro, como em todo o organismo. Tem receptores CB1 em várias partes do corpo. No cérebro é muito rico, mas tem também nos músculos e em outras partes do corpo, que podem ter benefícios. A gente fala que o canabidiol é um tratamento.”
Insônia, ansiedade e depressão
“O medicamento à base de canabidiol puro ajuda muito, porque melhora a ansiedade e o sono. Sabemos que, se melhora a qualidade do sono, com certeza vai melhorar a memória de forma indireta. O sono é fundamental no processo de memória saudável.”
“O CBD faz uma organização desses neurotransmissores. Faz um equilíbrio dos neurotransmissores. A gente sabe que a depressão é uma doença que tem um déficit de substâncias químicas. Tem um desbalanço de serotonina, noradrenalina e de endocanabinoides produzidos pelo nosso organismo.”
“Usando o CBD, a gente consegue aumentar a nossa produção interna, porque ele acaba estimulando a produção dos endocanabinoides. O CBD inibe uma enzima que degrada na anandamida, que é um endocanabinoide. Se a gente consegue tratar esses neurotransmissores que estão em baixa, o paciente consegue sentir uma qualidade de vida maior. Bem-estar melhor, o sono, a ansiedade, que anda muito junto com a depressão. Melhora é muito essa questão da tristeza, angústia, sono e a qualidade de vida como um todo.”
Procedência e composição da Cannabis
“A gente sempre teve o sistema endocanabinoide no nosso corpo, mas os estudos são novos. Agora que a gente tem tanta elucidação, tantos estudos, tanta pesquisa, porque antigamente ficava naquela questão preconceituosa de pensar que era uma droga, que era maconha.”
“Hoje a gente já sabe o quão poderoso é um medicamento à base de Cannabis. A Cannabis medicinal é diferente da planta, porque a planta In natura, se eu fazer um chá, eu não sei o que que tem ali. A gente não é determinada as concentrações. A gente não sabe a quantidade de canabidiol e THC.”
“A planta tem mais de 500 substâncias e tem substâncias que a gente nem sabe o potencial. A gente sabe muito bem do THC, que a gente precisa saber o que está dando para o paciente. O THC é psicoativo e é a parte da planta que dá alucinação, confusão, euforia. Pode dar agressividade.”
“O paciente que usa a formulação artesanal não sabe o que está ingerindo. Já chegou paciente no meu consultório com um frasquinho artesanal sem nem rótulo. Eu pergunto para o paciente: você tem coragem de usar? O que é isso que você está tomando?”
“Eu particularmente não teria coragem de usar essa formulação artesanal, porque eu colocaria no meu corpo uma substância química. Não é porque vem da planta que é zero o risco. Nós temos que prescrever para o nosso paciente uma medicação que tem segurança. O medicamento eu tenho segurança de laboratório.”
Cannabis para a redução de opioides
“Eu quero falar uma coisa que é fundamental a gente colocar aqui: a importância da Cannabis na não utilização de opioides na dor. Os opioides são problemáticos. É um problema de saúde pública porque gera tolerância, dependência e não resolve a dor crônica. Esse medicamento vai me causar dependência e tolerância com o tempo, vai ter que usar mais e mais e não vai resolver o meu processo de dor. Ele não trata.”
“Eles podem até causar a morte. Nos EUA muita gente morre por overdose de opioides. A Cannabis veio justamente para evitar o uso desses opioides. Já existem muitos estudos e nenhum comprova que alguém já morreu por overdose de maconha.”
“Fizeram um estudo com vários idosos que desenvolveram demência pelo abuso de opioides. A Cannabis é totalmente o contrário disso. Tem um efeito neuroprotetor e até previne a neurodegeneração e lesões no nosso cérebro. O benefício da Cannabis é muito maior no sistema nervoso central, no cérebro, do que as outras medicações que estão sendo usadas de forma excessiva e tóxica.”
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