Um compilado dos melhores momentos da Live com a geriatra especialista em cuidados paliativos Letícia Mayer sobre doenças neurodegenerativas
O Parkinson, que teve seu dia de conscientização no último dia 11 de abril, foi um dos temas abordados pela geriatra especialista em cuidados paliativos Letícia Mayer na live realizada nesta quarta-feira (13) e transmitida pelos canais do portal Cannabis & Saúde no com transmissão nos canais do portal Cannabis e Saúde no YouTube, Facebook e LinkedIn.
Com o uso medicinal da Cannabis no tratamento de doenças neurodegenerativas, a médica (cuja história já contamos aqui) abordou patologias que mais encontram indicações para o tratamento canabinoide na área: Alzheimer, Esclerose Múltipla e Esclerose Lateral Amiotrófica, além do Parkinson.
Para quem perdeu, separo aqui o que de mais esclarecedor rolou na conversa:
Doenças Neurodegenerativas
“A gente acaba colocando essas doenças no mesmo saco, mas as doenças neurodegenerativas têm causas e mecanismos diferentes entre si. O que elas têm em comum é que no processo ocorre morte de neurônios, tanto no cérebro quanto na medula. Por razões diferentes esses neurônios vão morrendo e com isso perdendo suas funções. Em geral, começa lentamente e vai aumentando com o passar do tempo da doença. A pessoa vai ficando cada vez com menos funções, mais debilitada, e, dependendo de qual das doenças que ela tem, isso é mais rápido ou mais lento.”
“Em comum, elas também têm o fato de que não tem uma cura. Até hoje a ciência não conseguiu para nenhuma dessas doenças desenvolver um tratamento que pare, reverta ou recupere o que já foi perdido. São doenças degenerativas porque aquele processo, depois que inicia, a gente não consegue parar. Vai se agravando com o tempo, independente dos tratamentos que a gente faça. Outra coisa que elas têm em comum é que, infelizmente, eu tenho que dizer que a ciência também não descobriu a causa.”
Doença de Parkinson
“Acontece uma morte de neurônios numa região do cérebro que é a substância negra. Ela produz um neurotransmissor que se chama dopamina, que é responsável por passar a informação do cérebro pros músculos do corpo. Essa transmissão fica prejudicada quando existe uma diminuição importante da dopamina. Normalmente essa diminuição começa muitos anos antes dos sintomas. Quando a pessoa começa com sintomas, essa diminuição da dopamina está acontecendo há muito tempo. Então a gente acaba demorando para fazer diagnóstico.”
“O sintoma que a gente mais conhece são os temores, mas no Parkinson, com a mesma importância, tem a rigidez do corpo, lentificação dos movimentos e problemas de equilíbrio. Esses são sintomas motores da doença. Mas não se resume à parte motora. Tem sintomas não motores. Eles podem ser tão ou mais importantes para o paciente no comprometimento da sua qualidade de vida. Muitas vezes, quando o próprio paciente manifesta sua queixa, as principais não são relacionadas ao tremor, mas a todo o resto que acontece.”
“É uma doença sistêmica. Afeta o corpo inteiro. Os sintomas não motores podem ser ansiedade, depressão, problemas de sono, pernas inquietas, problemas intestinais, urinários, dores. Essas outras coisas podem estar influenciando a vida da pessoa e causando muito mais problemas na sua rotina e na sua qualidade de vida.”
Cannabis no tratamento de Parkinson
“Já existem bastante estudos sobre a doença de Parkinson com cannabis. Neles, a gente vê principalmente melhora dos sintomas não motores para a doença. Se a gente pensa que causam muito prejuízo na qualidade de vida, a boa notícia é que os estudos mostram uma melhora nesses casos. Pode acontecer de melhorar o tremor, mas o resultado mais forte é nos outros sintomas. Nas dores, o THC é um canabinoide com um bom potencial para esse tratamento, muito mais do que com outros medicamentos. O CBD também melhora o sono, que é um grande problema nos pacientes.”
“Em estudos pré-clínicos, feitos em animais em laboratório, a gente já visualiza um efeito neuroprotetor. É um efeito que os canabinoides têm de impedir a morte de neurônios e estimular a formação de novos. Aumentam sinapses, que são as formas que os nossos neurônios se comunicam. A gente pensa que se isso tá acontecendo aqui, a gente está visualizando, será que isso não pode ser transformado num tratamento? É muito mais difícil a gente comprovar que isso esteja acontecendo num humano. A gente não pode fazer biópsia no cérebro de um humano, mas a gente imagina que provavelmente esse efeito neuroprotetor também está acontecendo nos humanos. O que a gente visualiza no tratamento, é a melhora dos sintomas. O que também deve estar acontecendo lá é o efeito neuroprotetor, que a gente não consegue ver.”
Alzheimer
“Ele acontece por causa do acúmulo de proteínas Beta amiloide no cérebro. Formam placas e emaranhados e com isso os neurônios passam a funcionar mal e a morrer. Diminui a circulação de sangue, a nutrição desses neurônios e das células, diminui a capacidade do cérebro de se limpar de toxinas. Tudo isso vai prejudicando o funcionamento do cérebro e causando a morte neuronal. É isso dessas placas é a principal hipótese pro Alzheimer, mas possivelmente existem outras. Algumas pessoas têm placas, mas não têm Alzheimer.
“Fizeram um estudo onde eles analisaram através de autópsia pessoas com Alzheimer. Visualizaram o cérebro e viram várias alterações do sistema endocanabinoide. Tinha alteração das enzimas, da quantidade de receptores endocanabinoides, e concluíram que provavelmente o sistema do endocanabinoide tem a ver com essa doença. Eles acenderam uma faísca muito forte nos pesquisadores, para que eles levem isso para investigação e viram que principalmente ao redor dessas placas de proteínas Beta amiloide, se encontrava as principais alterações do sistema endocanabinoide. A gente tem vários indícios de que realmente o sistema endocanabinoide tem relação com esse tipo de doença.”
“O principal sintoma que todo mundo sabe do Alzheimer é a perda de memória. Mas não é o único Alzheimer. É uma síndrome que pode ser muito variada, com sintomas do Alzheimer muito heterogêneos. Variam de uma pessoa pra outra. Pode aparecer problemas de humor, ansiedade, depressão, apatia. Pode ficar agitada, agressiva, ter delírios, alucinações, problemas de sono, dores. Coisas que causam muito comprometimento na qualidade de vida. Bastante transtorno para pessoa e para sua família, seus cuidadores. A pessoa que tem Alzheimer não dorme bem e ela pode fazer barulhos à noite, gritar, caminhar pela casa, ter comportamentos perigosos. No tratamentos com a Cannabis, esses sintomas melhoram muito.”
Esclerose Múltipla
“É mais uma doença que acontece pela morte de neurônios, mas ela tem uma causa totalmente diferente das outras. A Esclerose Múltipla é uma doença que tem um fundo autoimune. Como lúpus, artrite reumatoide, que são doenças onde o nosso sistema imunológico tem uma reação errada e ataca algum componente no nosso próprio organismo. Na Esclerose Múltipla, ataca a as membranas que recobrem os axônios
dos neurônios que se chama Bainha de mielina. Esse canal é usado para passar as informações dos neurônios e, se estão danificados, passam a informação danificada do cérebro para os músculos e o resto do corpo. Não é uma doença que começa e
é linear sua progressão. Acontecem surtos. Cada vez que tem, a pessoa fica com sintomas que pode acometer a visão, causar fraqueza muscular, dormências, dores, formigamentos, cãibras. várias coisas desse tipo. Com o passar do tempo, vai ficando mais frequente e é agravado esses sintomas. Podendo ficar com dificuldade para se locomover ou problemas visuais mais graves.”
“Nesse contexto, com a Cannabis, aquela função neuroprotetora serve também. Tem estudos que demonstram esse efeito. Mas para os sintomas da esclerose a Cannabis funciona tão bem, é tão comprovado, que virou medicamento vendido nas farmácias. Um spray oral que a gente usa para espasticidade e as dores. Tem melhora nesses dois sintomas, mas também todas aquelas outras coisas. Ansiedade, depressão, sono.”
Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA)
A doença ficou bastante conhecida por causa do físico Stephen Hawking. É uma doença bastante debilitante que, infelizmente, não existe uma causa totalmente esclarecida pela medicina. Acontece pela morte de dois neurônios específicos, o primeiro e segundo neurônios motores, que fazem a conexão entre o cérebro e a espinha, de onde saem os nervos que vão pros nossos músculos. Vai acontecendo uma atrofia da musculatura, que a pessoa não consegue mandar informação que ela gostaria para os músculos voluntários. Aqueles músculos começam a ficar fracos, vão atrofiando e podem ficar enrijecidos.”
“O Stephen Hawking é uma pessoa que viveu muitos anos com a doença. Outras pessoas não têm uma evolução de tanto tempo de vida. Vai perdendo as funções de outros músculos também, com o passar do tempo, até da musculatura respiratória, de engolir. A pessoa vai passando a ter dificuldade para engolir, para respirar.”
“Pacientes com ELA tem tendência de ter dores pela pouca utilização daquela musculatura. Pode pode ser bastante desconfortável e o THC é uma molécula que gera um bom relaxamento muscular. Então isso causa uma melhora na qualidade de vida da pessoa. Às vezes melhora até a higiene da pessoa, porque a pessoa que fica contraturada e não consegue fazer a sua. A gente então promove um relaxamento e consegue que a pessoa faça sua higiene sem dor. A pessoa consegue dormir melhor. A ansiedade e depressão que são super comuns de aparecer também.”
“A gente não consegue é dizer que seja um tratamento para isso porque os estudos ainda não nos permitem afirmar. Mas provavelmente está acontecendo uma uma proteção dos neurônios para que isso não venha se agravando tão rapidamente. O CBD é uma molécula que tem um efeito anti-inflamatório importante, o CBG também. Diminuem a neuroinflamação, que é um processo bem importante. O THC é uma molécula que consegue fazer um bloqueio da percepção de dor do organismo.”
Se você gostou das explicações da médica e acredita que a Cannabis medicinal pode contribuiu para a melhora de sua qualidade de vida, o primeiro passo é marcar uma consulta. Pela plataforma de agendamento do portal Cannabis & Saúde, você pode entrar em contato com a Letícia Mayer e outros mais de 150 médicos prescritores de Cannabis medicinal.