A médica de família e psiquiatra Gianna Testa foi a convidada da LIVE do portal Cannabis & Saúde que abordou a saúde mental de crianças e adolescentes e as possíveis indicações de Cannabis medicinal para esse público.
Clique aqui se você perdeu a LIVE e deseja assistir na íntegra.
A entrevista desta quarta-feira (28) encerrou a programação especial do Setembro Amarelo, que buscou despertar a conscientização para a importância do cuidado com a saúde mental e a prevenção do suicídio.
Clique aqui para conferir todas as LIVEs já realizadas pelo portal Cannabis & Saúde.
Abaixo, os destaques da entrevista com a psiquiatra Gianna Testa.
A opção pelo atendimento de crianças e adolescentes
“Antes da psiquiatria eu fiz medicina de família, que adota uma abordagem sistêmica da família. Na prática, vi que muitos transtornos e sintomas para os quais as pessoas buscavam tratamento na idade adulta já estavam presentes desde pequenos.”
“Cerca de 50% das pessoas já tinham os sintomas antes dos 14 anos. Quando não temos intervenção precoce adequada, os desfechos ao longo da vida são muito ruins. quando adulto, vai evoluir com problemas no trabalho, de aprendizagem e nas relações pessoais. A intervenção precoce é fundamental e foi o que me levou a me especializar e cada vez mais.”
O que prejudica a saúde mental de crianças e adolescentes?
“Não tem como a gente não atribuir a pandemia essa piora, mas existem alguns fatores anteriores à pandemia. Eu acho que a questão da internet, as redes sociais com excesso de informação traz prejuízo no desenvolvimento. Na formação da autoestima.”
“A pandemia foi um grande desafio que piorou bastante a questão de transtorno de ansiedade e humor. Agora, pós-pandemia, se apresenta na dificuldade de relacionamentos. As crianças, às vezes, ficam mais violentas na escola e com dificuldade de voltar ao ritmo de estudo. Tem sido bem desafiador para os profissionais e também para os pais.”
Os principais transtornos de saúde mental de crianças e adolescentes
“Na fase mais precoce, a gente chama de transtornos de neurodesenvolvimento. Como o autismo e suas várias apresentações. O TDAH também, um transtorno de neurodesenvolvimento que em algumas crianças não é tão grave e vai aparecendo mais para frente, com uma maior exigência do aprendizado.”
“Na idade escolar, vem os transtornos de humor e alguns sintomas que a gente precisa identificar, como depressão, bipolaridade e transtornos de ansiedade.”
“Na infância, os sintomas da depressão não estão relacionados só aos emocionais, mas também aos neurovegetativos. Ela manifesta isolamento, irritabilidade, falta de interesse em brincar. O natural é que a criança desenvolva a vontade de interagir.”
“Em crianças maiores e adolescentes, primeiro ela começa a ter falta de vontade e prazer em atividades que ela gostava de fazer. Se a gente não intervir e não tratar, até mesmo as atividades que são obrigações passam a ser muito difíceis. Acompanhar a escola se torna muito angustiante.”
Idealizações suicidas
“Nessa faixa etária, o suicídio é muito relacionado a um transtorno. 98% das pessoas que cometem o suicídio tem um transtorno mental associado.”
“Além do transtorno, o fácil acesso aos meios e o comportamento de contágio. Criança e adolescente tem um conceito de morte diferente dos adultos. A gente só forma a ideia abstrata de que é finita vida lá pelos 11, 12 anos, na fase de abstração de acordo com conceitos de desenvolvimento emocional de Piaget.”
“A gente tem que passar a mensagem para eles de que não é uma solução considerável. O problema é a banalização e o contágio do comportamento. É preciso controlar o acesso aos meios, como às armas, e o que eles olham na internet. O perigo está dentro de casa e a gente precisa monitorar.”
Comportamento de contágio
“Tem um termo técnico: efeito Werther, que se refere a obra do escritor alemão Goethe. Um caso de suicídio pode afetar até 50 pessoas direta e indiretamente.”
“Para uma criança ou adolescente que fica sabendo de um amigo ou de um colega da escola, a primeira coisa é não relacionar uma causa a um acontecimento. Outras pessoas que estejam passando pelo mesmo problema, numa situação de vulnerabilidade emocional, pode achar que aquilo é uma solução plausível e banal.”
“Acho que é importante abrir conversa sempre que eles estiverem sentindo alguma coisa ruim. Vivendo um um sofrimento ou uma tristeza, quando aconteceu alguma coisa trazer conversar. Criar esse canal de comunicação e falar que não é uma solução plausível. É uma solução definitiva para um problema temporário.”
Tratamento para saúde mental de crianças e adolescentes
“Quando a gente fala em tratamento, nem sempre é medicamentoso. Primeiro a gente vai mesmo atuar no ambiente e entrar com processo psicoterapêutico.”
“Se a criança ou adolescente apresenta um transtorno base, talvez precise do suporte medicamentoso .É muito importante avaliação médica para ver se existe uma psicopatologia que precise de intervenção medicamentosa. De preferência com psiquiatra que tenha conhecimento de infância e adolescência.”
A Cannabis pode ajudar a saúde mental de crianças e adolescentes?
“O que a gente tem de evidência para essa faixa etária é no autismo e na epilepsia. Já temos evidências e estudos robustos sobre a segurança clínica. Quando a gente associa os derivados da Cannabis, tem uma resposta muito legal.”
“Infelizmente não temos estudos na área de depressão e ansiedade para essa faixa etária. Nos adultos e na prática clínica, os resultados são bons. Eu espero que a gente consiga incentivar cada vez mais estudos nessa área de infância e adolescência.”
“O sistema endocanabinoide modula os outros sistemas do organismo, mas a gente precisa de mais estudos. Tem tudo para ser uma substância com menos efeito colateral que as outras que a gente usa, mas a gente tem que ter responsabilidade para prescrever.”
Uso medicinal e recreativo
É importante falar que fumar maconha faz mal nessa faixa etária e a gente tem que ficar de olho para os nossos filhos não usarem recreativamente. A maconha tem THC muito alto e isso é muito danoso ao cérebro, principalmente na fase de formação cerebral.”
“Na poda neural, que acontece até os 23 anos, tudo que a gente dá de estímulo vai permanecer ao longo da vida. A gente não pode dar estímulos errados. Nenhum tipo de uso de substância que pode desencadear, por exemplo, uma predisposição esquizofrenia ou uma piora na depressão.”
“Para a prescrição, a gente tem que ter segurança no medicamento. Eu preciso ter um fármaco que eu saiba a concentração exata de THC e CBD, com toda a pureza e certificado de produção.”
Considerações finais
“A gente tem que prescrever de forma responsável. Tem que ter mais acesso a todos, mas de forma responsável, com fármacos que a gente possa confiar na prescrição.”
“A Cannabis é uma ferramenta terapêutica promissora em várias patologias de diversas especialidades, mas o especialista tem que saber como e quando usar. Tem que estudar um fármaco novo com muita responsabilidade.”
“De uma forma geral, eu tenho boas respostas e pouquíssimo efeito colateral. Acho que é bem promissor, mas a gente tem que estudar bastante ainda pois é um conhecimento que não para de evoluir.”
Agende sua consulta
Pais, mães e cuidadores que lidam com algum problema de saúde mental em crianças e adolescentes podem clicar aqui para dar início ao acompanhamento com a psiquiatra e médica de família Gianna Testa.
A médica é uma dos mais de 200 profissionais da saúde habilitados para prescrever Cannabis medicinal que você encontra na plataforma de agendamento do portal Cannabis & Saúde.