Na última quarta-feira, dia 15, contamos com o médico Dr. João Carlos Normanha Ribeiro em nossa live para falar sobre deficiência endocanabinoide e sua relação com a fibromialgia.
A condição é uma síndrome crônica que causa dores em todo o corpo e em diferentes variações e intensidades, provocando também problemas de sono, fadiga e sofrimento emocional e mental.
Veja a live Fibromialgia e Deficiência endocanabinoide na íntegra
Embora seja uma condição sem causa definida e sem cura, estudos mostram que pacientes que sofrem de fibromialgia apresentam níveis reduzidos de endocanabinoides no organismo, o que poderia estar relacionados à manifestação de sintomas clínicos associados à condição.
Neste cenário, a abordagem terapêutica com Cannabis seria capaz de regular este sistema e oferecer mais bem-estar e qualidade de vida aos pacientes fibromiálgicos.
Diagnóstico da fibromialgia
O diagnóstico da fibromialgia pode ser desafiador, pois os sintomas são muitas vezes inespecíficos e podem se sobrepor a outras condições. Além disso, não há um exame específico para diagnosticar a fibromialgia, o que pode dificultar a identificação da doença.
Muitas vezes, os pacientes com fibromialgia passam por vários médicos e exames antes de receberem o diagnóstico correto. Isso ocorre porque os sintomas da fibromialgia, como dor generalizada, fadiga, distúrbios do sono e dificuldade de concentração, são comuns a outras condições médicas, como artrite, síndrome da fadiga crônica e distúrbios do sono.
“O diagnóstico da fibromialgia é baseado em em caráter de sintomas e avaliações feitas de forma subjetiva. O que não conhecemos, tendemos a tratar os sintomas. E existem inúmeras teorias sobre o que é a fibromialgia. Já foi inclusive tratado como distúrbio psiquiátrico. Até que entrou no campo da reumatologia. Acho que ela seria muito bem inserida na área da endocanabinologia”, explicou o médico durante a live.
Deficiência endocanabinoide
A teoria da deficiência endocanabinoide foi apresentada pelo Dr. Ethan Russo em 2001. Essa teoria sugere que a deficiência no sistema endocanabinoide do corpo humano pode comprometer diversas funções fisiológicas, como o limiar da dor, a qualidade do sono, a motivação, o humor, a memória e o controle muscular.
“Segundo o Dr. Ethan Russo a partir do momento que temos menos endocanabinoides há sintomas. E estes sintomas são ligados à mais de 40 condições. Mas lá em 2001 eles começaram esta teoria com a fibromialgia, enxaqueca e síndrome do intestino irritável. E quase sempre está associado à ansiedade e depressão. E quando esta deficiência é grave, pode estar envolvida no processo neurogenerativo. Pois os endocanabinoides são neuroprotetores”, explicou Dr. João.
Ainda conforme essa teoria, a deficiência do sistema endocanabinoide pode afetar a regulação de diversas funções corporais, levando ao desenvolvimento de sintomas e condições de saúde.
O mito do uso sublingual dos óleos à base de Cannabis
Independente da via de acesso, que pode ser importação, associação ou compra na farmácia, os produtos à base de Cannabis podem ser utilizados de diversas maneiras como uso tópico, cápsulas, por exemplo. Porém, o consumo oral, que são os óleos à base de Cannabis, é o mais popular entre pacientes brasileiros e profissionais da saúde prescritores.
Neste panorama, o médico defendeu que o uso sublingual dos óleos é um mito.
“O uso sublingual dos óleos à base de Cannabis é uma das maiores lendas que existem na medicina canábica. Sobre pingar o óleo embaixo da língua. Pois nenhum tipo de produto derivado de gordura é absorvido na mucosa oral. Para que ele seja absorvido na mucosa sublingual esse produto tem que ser desenvolvido para isso. Existem empresas hoje que estão gastando bilhões para desenvolver isso. E se o óleo fosse absorvível essas empresas não estavam gastando esse dinheiro para desenvolver polímeros, nanoencapsulados, produtos hidrofílicos e etc. Porque o óleo não é absorvido sublingual. Existem derivados lipossômicos mas é uma tecnologia muito avançada. Existem produtos de Cannabis que são assim mas é raro. É 1%. É um mito, não há nada nos livros de farmacologia”.
Quais são os principais tratamentos para fibromialgia hoje e qual é a diferença do uso da Cannabis?
Os principais tratamentos para a fibromialgia incluem uma abordagem multidisciplinar que envolve medicamentos, terapias físicas, mudanças no estilo de vida e terapias complementares.
Segundo o médico, a diferença do uso da Cannabis no tratamento da fibromialgia está relacionada aos seus efeitos analgésicos e anti-inflamatórios. E principalmente aos efeitos colaterais diminutos e à regulação do sistema endocanabinoide.
Alguns estudos sugerem que a planta pode ajudar a reduzir a dor, melhorar o sono e a qualidade de vida em pacientes com fibromialgia. Fato que o Dr. também observa em seu consultório. As moléculas da planta, como o THC e o CBD, interagem com o sistema endocanabinoide do corpo, que desempenha um papel na regulação da dor, do humor e da inflamação.
“Para o tratamento da fibromialgia hoje nós temos basicamente dois medicamentos no Brasil aprovados: duloxetina, que age através da serotonina, e nós temos também a pregabalina, que é um anticonvulsivante que foi adaptado para o uso dessas pessoas com fibromialgia. É uma questão empírica. E vamos tratar os sintomas. Mas agora quando você olha para a Cannabis, não temos isso. O que a gente precisa é conhecer os produtos para que você adapte eles ao paciente, para que o paciente possa utilizar. E a partir de então se vê os resultados, é sobre modular o sistema endocanabinoide. É a partir do momento que você ajusta a dose ela passa a fazer efeito. Em geral, os resultados, quando acontecem, tendem a acontecer em vários sintomas como fadiga, dor e simultaneamente vai alterando esses sintomas para melhor”.
O papel do sistema endocanabinoide para a nossa saúde
O sistema endocanabinoide desempenha um papel fundamental na regulação de diversas funções do nosso corpo e na manutenção da saúde. Este sistema é composto por receptores de canabinoides, endocanabinoides (substâncias produzidas pelo próprio corpo) e enzimas responsáveis pela sua síntese e degradação.
“O sistema endocanabinoide começou a ser investigado na década de 1990. Quando foi estudada a planta, o CBD e o THC. E estudarem como ela atua no nosso corpo, descobriu-se que temos o sistema endocanabinoide que funciona como fechaduras e chaves. E isso acontece em todos os tecidos do nosso corpo. Temos sistema endocanabinoide integrado em todo o nosso corpo. É como se ele fosse o maestro da orquestra”.
Alguns dos principais papéis do sistema endocanabinoide incluem:
- Regulação da dor: O sistema endocanabinoide está envolvido na modulação da dor, ajudando a regular a sensação de dor no corpo.
- Controle do humor e do estresse: Os endocanabinoides desempenham um papel na regulação do humor, ansiedade e estresse, contribuindo para o equilíbrio emocional.
- Regulação do sono: O sistema endocanabinoide está envolvido na regulação do ciclo sono-vigília, podendo influenciar a qualidade do sono.
- Função imunológica: Os endocanabinoides podem modular a resposta imunológica do corpo, ajudando a regular a inflamação e a resposta do sistema imunológico a agentes externos.
Em resumo, o sistema endocanabinoide desempenha um papel crucial na manutenção do equilíbrio e da homeostase do organismo, contribuindo para a saúde e o bem-estar geral. A sua regulação adequada é essencial para o funcionamento adequado do corpo e para a prevenção de diversas condições de saúde.