O linalol é mais uma daquelas substâncias com as quais a natureza nos brinda para ajudar no tratamento de doenças, alívio de sintomas e melhora da qualidade de vida e bem-estar.
Você provavelmente já ouviu falar do canabidiol, um dos componentes encontrados na planta Cannabis e que dá origem a medicamentos, cosméticos e outros produtos.
Mas talvez se surpreenda ao saber que o linalol é um dos mais de 200 terpenos identificados nas flores dessa mesma Cannabis.
Em outras palavras, ele é um dos responsáveis pelo aroma proveniente da planta e é nele que se concentra ao menos 6% do óleo extraído para fins medicinais.
Neste conteúdo, vamos trazer mais detalhes sobre o que é o linalol, para que serve, quais são suas propriedades e benefícios.
Também iremos listar as enfermidades cujo tratamento se beneficia desse terpeno e apresentar mais informações sobre o avanço de seu uso medicinal.
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O que é linalol?
O linalol é um terpeno – apenas um dos muitos (mais de 200) produzidos nas flores das plantas do gênero Cannabis.
Mas o que, afinal, são terpenos?
Esses compostos têm papel fundamental no aroma característico da Cannabis.
No entanto, é importante deixar claro que não é somente dela – os terpenos conservam também fragrâncias frescas e cítricas em diversos outros vegetais, frutas e ervas.
A preservação do odor ocorre pela função que o elemento tem de evitar a ação destruidora de bactérias, fungos e pragas.
Pimenta, louro, lavanda, orégano, uva, limão, gengibre, hortelã, canela e alecrim são exemplos de vegetais que contêm a substância.
Os terpenos, portanto, estão por toda a parte e são bem mais comuns do que podemos imaginar.
E não é diferente no caso do linalol encontrado nas flores da Cannabis.
Nesse cenário, esse terpeno específico concentra ao menos 6% do óleo que pode ser extraído da planta, como mencionamos.
E isso é essencial para a produção e a aplicação terapêutica dos fármacos à base de canabidiol.
Linalol: para que serve?
O linalol, que dá o cheiro característico de muitas frutas e plantas, tem função que vai além da preservação do aroma e do combate a pragas e fungos.
Para tratamentos terapêuticos à base de Cannabis, o composto tem características sedativas, antibactericidas, anticonvulsivantes, antitumorais, antidepressivas, antioxidantes, neuroprotetoras, hepatoprotetoras e antibactericidas.
Ou seja, isso quer dizer que o linalol pode ajudar no combate, na prevenção e também nos diferentes métodos de tratamento a doenças por meio das propriedades encontradas na Cannabis.
Na prática, estudos já indicam várias maneiras diferentes de esses compostos agirem no corpo humano.
Com versatilidade, junto com os canabinoides, os terpenos podem influenciar fatores importantes como a qualidade do sono e o apetite.
Consequentemente, também agem no humor e na melhora da imunidade.
Linalol: propriedades e benefícios
De que forma, afinal, o linalol age no corpo humano e pode beneficiar a saúde de milhares de pessoas?
É o que vamos destacar neste tópico.
Antes, porém, precisamos ressaltar que alguns estudos sugerem que o composto reforça os impactos terapêuticos de muitos canabinoides encontrados na Cannabis.
Isso significa que ele é uma peça fundamental para o que os cientistas chamam de “efeito entourage”.
Esse é o nome usado para descrever a teoria que indica que os elementos da Cannabis produzem mais benefícios nos casos em que atuam de maneira conjunta.
Ou seja, a complexa interação de determinado composto com os demais que estão presentes na planta traz resultados melhores do que quando é administrado um canabinoide isolado.
É o caso, por exemplo, de um aumento do relaxamento muscular e um potencial para combater o mal de Alzheimer.
Pesquisas também apontam que o terpeno pode ajudar a sustentar os efeitos anticonvulsivos de elementos da Cannabis, como o canabidiol.
Tecnicamente, em termos científicos, o linalol (3,7-dimetil-octa-1,6-dien-3-ol) é apresentado sob a fórmula química C10H18O, com massa molecular correspondente a 154.2493 g.mol-1.
Neste artigo, ele é descrito como “um álcool monoterpênico de cadeia aberta. Pode ser encontrado na natureza sob a forma de uma mistura de isômeros”.
O mesmo estudo também salienta que se encontra na molécula de linalol:
“… a presença de duas insaturações; a presença de uma hidroxila da função álcool; Possui um átomo de carbono assimétrico. O linalol é um álcool monoterpênico, biossintetizado por inúmeras plantas e que possui um importante papel na polinização.”
Linalol no tratamento terapêutico
Conforme o artigo Atividades biológicas de linalol: conceitos atuais e possibilidades futuras deste monoterpeno, publicado na Revista de Ciências Médicas e Biológicas:
“O linalol é um metabólito secundário, componente de óleos essenciais aromáticos de origem vegetal, sendo uma das substâncias mais importantes na indústria farmacêutica.”
O estudo ainda aponta que o linalol:
“É utilizado como fixador de fragrâncias, mas também pela medicina popular para efeitos anti-inflamatórios, analgésicos, hipotensores, vasorelaxantes, antinociceptivos e atividade antimicrobiana. Além dessas propriedades, tem ações hipnóticas, hipotérmicas e sedativas”.
Acompanhe, a seguir, a lista de doenças cujo tratamento se beneficia com a presença desse terpeno.
Alzheimer
Sabe-se que a doença de Alzheimer atinge boa parte da população idosa.
Essa enfermidade seria responsável direta por entre 50% a 60% dos casos de demência na terceira idade (pessoas acima dos 65 anos).
Pesquisas já indicam que a utilização de produtos naturais feitos a partir de plantas medicinais – como a Cannabis – podem representar uma série de terapias alternativas no tratamento dessa condição.
Segundo o estudo Óleos essenciais como inibidores da acetilcolinesterase, um dos caminhos a ser trilhado no combate à doença é aumentar o nível de acetilcolina no cérebro usando inibidores da acetilcolinesterase (AChE).
No caso do linalol, isso ocorre porque ele dá origem a um dos óleos que têm sido apontados como inibidores de AChE, o que pode ajudar no combate aos transtornos cognitivos característicos do mal de Alzheimer, como perda de memória, problemas de linguagem, disfunção cognitiva e distúrbios comportamentais, como a depressão.
Autismo
Pesquisadores israelenses observaram um dado bastante pertinente relacionado ao recurso terapêutico à base de óleos extraídos da Cannabis em pacientes com espectro autista.
Após seis meses de acompanhamento clínico, foi constatado que 86,6% deles optaram por dar continuidade ao tratamento os fármacos feitos a partir da planta.
A pesquisa foi divulgada no ano passado na revista Scientific Reports e demonstrou que ao menos 30% dos pacientes afirmaram ter percebido uma evolução significativa em seu estado de saúde e mais de 53% disseram ter notado um avanço moderado.
Somente 6,4% e 8,6% afirmaram, respectivamente, que a melhora foi baixa e que não notaram diferença.
A fim de ratificar esse experimento, o estudo Real life Experience of Medical Cannabis Treatment in Autism: Analysis of Safety and Efficacy concluiu que o uso de Cannabis medicinal no tratamento de pacientes com autismo aparenta ser bem tolerada, segura e efetiva no que diz respeito ao alívio de sintomas.
Depressão
Essa é uma doença considerada moderna – um mal do século 21 – e que prejudica muito a vida de quem sofre com ela.
Conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) publicados no ano passado, 5,8% dos brasileiros (em torno de 12 milhões de pessoas) sofrem com a depressão.
A estimativa é de que entre 20% e 25% da população já teve, tem ou terá essa enfermidade.
Dessa forma, essa é considerada a doença psiquiátrica com maior incidência no Brasil.
Por outro lado, os tratamentos com antidepressivos tradicionais podem acarretar em uma série de efeitos colaterais, além de não serem totalmente eficazes para todos os pacientes.
Estudos indicam que plantas usadas no combate à depressão e à ansiedade tendem a conter altos teores de linalol que, como já vimos, potencializa a ação dos métodos terapêuticos à base de Cannabis, como o canabidiol.
Investigações em animais já comprovaram tal reação.
Um artigo intitulado Emerging evidence for the antidepressant effect of cannabidiol and the underlying molecular mechanisms, divulgado em 2019, indica esse caminho.
Os pesquisadores concluíram que:
“Evidências recentes sugerem que o canabidiol promove rápido e contínuo efeito antidepressivo em modelos animais. (…) induz transformações celulares e moleculares em regiões relacionadas à neurobiologia da depressão”.
Outras pesquisas também apontam essas evidências, tal qual o artigo Linalool and β-pinene exert their antidepressant-like activity through the monoaminergic pathway, publicado na revista científica Life Sciences.
Nele, os cientistas concluíram que o linalol e o beta-Pineno (outro terpeno, encontrado em ervas como alecrim e salsa) produzem efeito antidepressivo por meio da interação com o sistema monoaminérgico, que é formado por substâncias como a dopamina e a serotonina.
Um estudo publicado em 2013 investigou possíveis reações tóxicas – e, portanto, prejudiciais – do linalol no combate à depressão e outras enfermidades.
Foi concluído que esse terpeno teve efeito próximo a um antidepressivo no sistema nervoso central sem danificar qualquer estrutura do DNA no tecido cerebral ou no sangue.
Isso significa que o seu uso é considerado seguro.
Ansiedade
Junto com a depressão, outra enfermidade que atinge boa parte dos brasileiros é a ansiedade, que acomete 9,3% (19,4 milhões) da população e faz com que o Brasil lidere o ranking dos países mais ansiosos.
Por ter uma série de sintomas que vão desde fatores psicológicos (como medo e angústia) até físicos (como respiração ofegante, dificuldade para dormir e/ou alimentar-se e sudorese repentina, devido ao estresse), essa doença é também conceituada como transtorno de ansiedade.
Ao revisarem a literatura relacionada aos efeitos medicinais e terapêuticos dos componentes da Cannabis, no artigo Canabidiol, um componente da Cannabis sativa, como um ansiolítico, publicado na Revista Brasileira de Psiquiatria, pesquisadores brasileiros concluíram que:
“Os resultados de estudos em animais de laboratório, voluntários saudáveis e pacientes com transtornos de ansiedade sustentam a proposta do CBD como uma nova droga com propriedades ansiolíticas.”
O linalol, nesse caso, poderia potencializar os efeitos do experimento.
Eles também escreveram que, pelo fato de o canabidiol não ter ação psicoativa e, assim, não afetar a cognição, apresenta um perfil de segurança adequado, boa tolerabilidade, resultados positivos em testes com seres humanos e um amplo espectro de ações farmacológicas, aparentando, dessa forma, estar mais próximo de ter suas descobertas preliminares na ansiedade traduzidas para a prática clínica.
Efeito anticonvulsivo e sedativo
Como já vimos, mas não custa reforçar, o linalol é um monoterpeno encontrado primariamente como um dos principais componentes de óleos provindos de espécies vegetais aromáticas.
No estudo Neurobehavioral and genotoxic evaluation of (−)-linalool in mice, é dito que os elementos odoríferos do linalol são usados em sistemas médicos tradicionais como hipno-sedativos:
“Avaliações psicofarmacológicas do linalol revelaram efeitos centrais marcantes sedativos e anticonvulsivos em vários modelos de camundongos”.
O experimento consistiu em colocar os ratos em uma câmara de inalação durante uma hora.
Depois da inalação do linalol, os animais foram avaliados em relação à locomoção, tempo de sono induzido por barbitúricos, temperatura corporal e coordenação motora.
A conclusão foi de que:
“O linalol inalado durante 60 minutos parece induzir sedação sem comprometimento significativo das habilidades motoras, um efeito colateral compartilhado pela maioria das drogas psicolépticas (sedativas).”
Doenças infecciosas
O linalol pode atuar também na composição de produtos que previnem doenças infecciosas, normalmente contraídas por meio de bactérias, via água ou alimentação.
Em um estudo intitulado Linalool: A Review of a Biologically Active Compound of Commercial Importance,é possível observar uma série de conclusões interessantes.
Os resultados podem fornecer evidências científicas para a inclusão do terpeno como ingrediente em produtos para limpeza bucal, que alegam fornecer alívio sintomático de dores de garganta, úlceras bucais e gengivas sensíveis.
Atividades antioxidantes
Os elementos antioxidantes são fundamentais para a saúde humana, porque retardam o envelhecimento e previnem doenças ao ajudarem a controlar a quantidade de radicais livres no organismo.
Embora não tenha eficácia ao atuar de maneira isolada, o linalol mostrou ser um importante parceiro da canela indígena (Cinnamomum osmophloeum) no combate à oxidação, conforme o mesmo estudo citado no item anterior.
De acordo com o estudo Atividade antimicrobiana e antioxidante do óleo essencial de ho-sho, o óleo de canela indígena mostrou a capacidade de procurar o radical DPPH e essa atividade foi correlacionada com o composto principal, o linalol (73%).
Ação anti-inflamatória
Ainda conforme o estudo feito sobre o linalol como elemento biologicamente ativo, diversas espécies produtoras desse terpeno e do acetato de linalila são utilizadas em sistemas de medicina tradicional para aliviar sintomas e curar uma variedade de enfermidades, tanto agudas quanto crônicas.
Isso comprovaria – embora mais pesquisas precisem ser realizadas – que as espécies produtoras de linalol têm sido relatadas como detentoras de boa atividade anti-inflamatória e apresentam um efeito analgésico periférico.
Prevenção ao câncer
A revisão a respeito do linalol como substância biologicamente ativa de importância comercial também realizou testes em células cancerígenas de oito órgãos do corpo humano.
Para isso, foram utilizados dez compostos de vegetais e frutas comuns, incluindo o linalol.
Conforme os pesquisadores:
“O linalol mostrou a mais forte atividade contra uma ampla gama de células cancerígenas, como o carcinoma do colo de útero, estômago, pele, pulmão e osso”.
Outra parte desse estudo apontou que o linalol inibiu células tumorais e não teria apresentado quaisquer efeitos de citotoxicidade, ou seja, não teria levado a nenhuma possível morte celular.
Linalol: como comprar
O linalol costuma ser vendido como óleo essencial, de propriedades cosméticas, tendo fácil acesso em estabelecimentos especializados.
Já quando falamos na sua presença em medicamentos, vale destacar que só é possível comprar produtos à base de Cannabis por meio de receita médica de controle especial.
As resoluções da Anvisa também deixam claro que essa alternativa só poderá ser usada quando todas as outras possibilidades de tratamentos estiverem esgotadas.
Assim, para comprar produtos à base de Cannabis, na qual o linalol está presente, o primeiro passo é debater o assunto com o médico.
Depende do especialista indicar que o fármaco à base de Cannabis é a melhor opção para o tratamento da enfermidade.
Para encontrar um médico prescritor, acesse este link e agende uma consulta.
A oferta de medicamentos com canabidiol (CBD) ainda é pequena no Brasil. A maioria dos medicamentos com CBD é importada.
Para a sua aquisição, é necessário preencher um formulário com os dados, enviar junto com a receita para a Anvisa e aguardar a análise.
Caso aprovada, uma autorização para a compra será emitida, então, será possível adquirir o remédio.
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Conclusão
Neste conteúdo, vimos algumas das principais características e pesquisas acerca do linalol.
Esse é um terpeno encontrado na Cannabis e em outros vegetais e frutas, sendo responsável pelo aroma das plantas e também por combater algumas de suas pragas e fungos.
Ao longo da leitura, você pôde observar uma série de benefícios que as propriedades desse composto têm no tratamento de doenças.
No entanto, continuar pesquisando – tal qual os estudiosos fazem com o linalol – é fundamental.
Por isso, converse com especialistas no assunto, troque ideias com seu médico e baseie-se em sites que contenham informações confiáveis sobre esse tema, como é o caso do portal Cannabis & Saúde.
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