Estamos acostumados a lembrar do músico John Lennon usando seus típicos óculos redondos. O compositor sofria de um alto grau de miopia e astigmatismo moderado. No entanto, ele só adotou os icônicos óculos a partir de 1967; antes disso, ele utilizava lentes de contato.
Durante o auge do sucesso dos Beatles — entre 1963 e 1966, época que ficou conhecida como Beatlemania — Lennon usava lentes de contato rígidas que frequentemente caíam dos seus olhos. Naquele período, o músico dizia que a única forma de manter as lentes no lugar era consumir Cannabis antes de colocá-las.
Agora, mais de 50 anos depois, um estudo realizado na Austrália revelou que o ex-Beatle estava certo. Um pesquisador da Universidade de Tecnologia de Queensland analisou fontes históricas, incluindo fotos e vídeos antigos, receitas antigas do médico de Lennon, além de depoimentos de sua primeira esposa, Cynthia, seu amigo de infância, Nigel Walley, e o ex-companheiro de banda, Paul McCartney.
Além disso, Stephen Vincent, pesquisador de optometria e fã de Beatles, e sua esposa Roslyn Vincent, também optometrista, fizeram um estudo que uniu história, saúde, música e Cannabis. Intitulado You’ve got to hide your myopia away: John Lennon’s contact lenses, o estudo foi publicado na revista científica Ophtalmic and Physiological Optics.
Explorando os problemas oculares de um gênio
As lentes de contato evoluíram nos últimos anos, oferecendo cada vez mais conforto, praticidade e soluções personalizadas para a correção visual. A tecnologia de fabricação utilizada atualmente permite a criação de lentes personalizadas, moldadas para se adaptar perfeitamente à curvatura de cada olho.
Porém, na década de 1960, as lentes disponíveis eram rígidas e feitas de vidro ou de polimetilmetacrilato, um tipo de plástico. As lentes gelatinosas só estariam disponíveis comercialmente a partir da década de 1970, alguns anos depois de Lennon adotar o visual com óculos circulares.
As lentes de contato utilizadas pelo músico na época teriam sido as lentes rígidas corneanas, que eram parcialmente cobertas pelas pálpebras superiores e inferiores. Nesse contexto, Lennon teria percebido que as lentes ficavam mais seguras nos olhos após o consumo de Cannabis.
No artigo, os pesquisadores destacaram o depoimento do optometrista de Lennon em Nova York, relembrando a experiência do músico com as lentes e a Cannabis.
“Vários pacientes de longa data lembram com carinho de encontrar John em meu consultório, oferecendo conselhos sobre as armações que estavam experimentando. Um paciente se lembra de experimentar lentes de contato, quando a voz de John o surpreendeu por trás: ‘Tentei usá-las, mas a única maneira de mantê-las em meus olhos era ficar chapado primeiro’.”
Atualmente, temos tecnologia mais avançada para produzir lentes mais eficazes e também para compreendermos melhor os efeitos do consumo de canabinoides no corpo. Nesse sentido, o casal Vincent parece ter observado que a afirmação de Lennon sobre Cannabis tem uma razão científica por trás.
Influência da Cannabis nos olhos
De acordo com o estudo, o fenômeno observado pelo ex-Beatle ocorreu devido à “ptose da pálpebra superior induzida pela Cannabis”. Em outras palavras, quando Lennon consumia Cannabis, seus olhos ficavam ligeiramente mais fechados e isso evitava que as lentes caíssem.
Embora não esteja totalmente esclarecido o mecanismo que relaciona o consumo da planta com o comportamento das pálpebras, é amplamente conhecido o fato de que uma pessoa que acabou de consumir Cannabis rica em THC fica com os olhos mais fechados que o normal.
Os pesquisadores relacionaram esse efeito colateral do consumo de produtos com Cannabis ricos em THC e as afirmações de John Lennon no artigo.
“Parece que a posição relaxada ou abaixada da pálpebra superior de John enquanto chapado ajudou a ajustar o posicionamento potencialmente ruim da lente de contato ao longo do meridiano vertical, talvez fornecendo um ajuste de fixação da tampa para segurar a lente no lugar e reduzindo a interação entre a margem da pálpebra e a borda da lente.
A observação de John de que suas lentes permaneceram no lugar enquanto chapado apoia essa hipótese, pois a ptose da pálpebra superior, induzida pela Cannabis, reduziria a interação entre a margem da pálpebra superior e a borda da lente de contato, reduzindo a chance de ejeção do olho.”
O uso da Cannabis para tratar condições de saúde oftalmológicas
Os pesquisadores chegaram à essa conclusão depois de analisar estudos anteriores que sugerem o uso terapêutico da Cannabis no tratamento do blefaroespasmo. Esse é um distúrbio neurológico, que causa contrações involuntárias e repetitivas das pálpebras. Esses espasmos podem variar desde piscadas rápidas, até fechamento completo dos olhos, geralmente desencadeado por fatores como estresse, fadiga ou excesso de cafeína.
Pesquisadores israelenses fizeram um estudo clínico duplo-cego e controlado por placebo, para verificar a eficácia e segurança do uso de Cannabis para tratar o blefaroespasmo. Os pacientes receberam um produto com Cannabis de uso oral por um período de seis semanas e, depois disso, foram submetidos a alguns exames.
Os participantes foram divididos em dois grupos, um que recebeu o produto e outro que recebeu um placebo. Os cientistas observaram uma diferença no número e na duração dos espasmos, o grupo que recebeu Cannabis relatou uma média de 61 espasmos e o grupo que recebeu placebo relatou 94. Os espasmos duraram menos de 2 minutos no primeiro grupo e cerca de 9 minutos no grupo placebo. Eles concluíram que o tratamento com canabinoides tem potencial para complementar as abordagens já existentes para o blefaroespasmo, sem causar efeitos colaterais preocupantes.
A Cannabis na trajetória dos Beatles
No final da década de 1960, a interação dos Beatles com a contracultura dos EUA aproximou a banda da Cannabis. A planta é frequentemente mencionada como uma ferramenta para expandir a consciência e teria contribuído para a composição de álbuns com sonoridade mais experimental, como “Revolver” e “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”.
Além disso, o contexto social da época contribuiria para estimular a consciência social dos músicos, tornando-os mais engajados em causas sociais e políticas. Recentemente, o ex-baixista Paul McCartney revelou em entrevista que cultiva Cannabis em sua fazenda, no sudeste da Inglaterra. O músico, de 82 anos, segue em atividade e fará shows no Brasil no mês de outubro de 2024.
Aqui no Brasil, o cultivo de Cannabis é ilegal, mas você pode utilizar produtos feitos com os derivados da planta para tratar alguma condição de saúde. Para isso, é necessário que você tenha o acompanhamento de algum médico ou dentista, que tenha familiaridade com esse tipo de tratamento.
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