A Cannabis indica é uma das subespécies desta planta que conta com amplas possibilidades para o tratamento de doenças diversas.
Não por acaso, estamos falando sobre um mercado que, apesar de ainda incipiente, tem tudo para crescer de forma consistente no Brasil.
Inclusive, isso já era apontado em 2017, em um estudo feito pela New Frontier Data.
O tempo só fez confirmar as expectativas lançadas e, hoje, nosso país caminha para ampliar o acesso a medicamentos produzidos com base em plantas do gênero.
O cenário só não é melhor ainda em razão de preconceito e desinformação. Para muitas pessoas, falar em Cannabis, a planta da maconha, é associar ao seu uso recreativo.
Só que isso nada tem a ver com a real proposta de regulamentação desse mercado, que fora do Brasil já avança a passos largos.
Nos mais variados formatos, medicamentos à base de canabidiol (CBD) podem enfrentar doenças e aliviar sintomas, trazendo mais qualidade de vida e bem-estar aos pacientes.
Ao longo deste conteúdo, vamos apresentar uma série de dados e estudos clínicos, com especial destaque para a Cannabis indica, seus efeitos e aplicações.
Siga acompanhando.
O que é indica?
As plantas do gênero Cannabis são cultivadas desde tempos imemoriais.
Elas são nativas da Ásia, mais precisamente do imenso território no qual hoje se localizam parte da Sibéria, da Mongólia e da China.
Estima-se que ela seja usada para diversas finalidades há pelo menos 10 mil anos, e os primeiros registros do seu cultivo datam de 6 mil anos.
Ao longo do tempo, o homem vem usando mais intensivamente duas subespécies de Cannabis: a sativa e a indica.
Embora até certo ponto parecidas, elas têm diferenças entre si que precisam ser consideradas.
Uma delas é a concentração das substâncias ativas tetrahidrocanabinol (THC) e CBD.
A primeira é responsável pelos efeitos psicoativos e está bastante associada ao uso recreativo da Cannabis.
Já o CBD, ou canabidiol, é o composto a partir do qual se fabrica uma ampla gama de medicamentos, prescritos para tratar desde dores musculares até o câncer, atuando no alívio de sintomas.
Qual é a origem da indica?
Cada continente, país e região do mundo tem sua vegetação nativa. Ou seja, há plantas que se adaptam a certos lugares conforme o seu clima, tipo de solo e outros fatores.
No caso da Cannabis indica, planta da família das Cannabaceae, o que se sabe é que ela é uma subespécie do subcontinente indiano e da Ásia Central.
Provavelmente, as primeiras mudas conhecidas tiveram origem onde hoje se localiza o Afeganistão, estendendo-se para o Paquistão e a Índia.
Sendo assim, é notória sua adaptação bem-sucedida aos ares da cordilheira Indocuche que, curiosamente, é chamada de “assassina de hindus”, em virtude do clima inóspito.
Felizmente, de assassina a indica não tem nada, muito pelo contrário.
É crescente o número de pesquisas e estudos de casos de pacientes que conseguiram se curar ou aliviar sintomas de doenças graves ou crônicas utilizando-a mediante prescrição médica.
Anatomicamente, a indica se caracteriza por ser a subespécie mais larga e baixa das pertencentes à sua família.
Ela cresce mais rápido que a Cannabis sativa, segregando níveis mais altos de CBD e mais baixos de THC.
Qual é a diferença entre indica, sativa e híbrida?
Em um artigo publicado no Portal Cannabis & Saúde, o agrônomo Lorenzo Rolim destacou as principais características das subespécies de Cannabis: a sativa e a indica.
De acordo com o pesquisador, “não há estudos suficientes que comprovem que cada tipo seja bom para um ou outro sintoma. Não temos como dizer que a indica serve para náuseas e que a sativa não funciona. De modo geral, existem usos medicinais, mas não há como afirmar qual espécie trata diretamente determinado sintoma”.
Isso porque, como você já viu, são inúmeras as possibilidades terapêuticas da Cannabis.
Dessa forma, é natural que pairem dúvidas sobre as diferenças entre os dois tipos mais populares.
Nesse caso, o que vale destacar é a própria anatomia de cada planta, ainda que elas sejam bastante parecidas.
Uma das diferenças mais notáveis entre uma e outra é o padrão das folhas da indica, com ramos mais largos que os da sativa.
Quando se trata do uso medicinal, em função da maior concentração de tetrahidrocanabinol (THC), a Cannabis sativa provoca um efeito mais estimulante.
Já a indica, por ter níveis mais altos de CBD, apresenta propriedades relaxantes, entre outras em nível terapêutico, e não recreativo.
E o que mais cada subespécie tem para mostrar? Veja a seguir!
Indica
Outra diferença marcante na anatomia da Cannabis indica em relação à sativa, que parece mais uma pequena árvore, é o seu aspecto de arbusto.
O tempo de floração estimado está entre 45 e 60 dias.
Sobre a indica, uma curiosidade é que seu nome é atribuído ao biólogo francês Jean-Baptiste de Lamarck.
Em 1785, ele diferenciou essa espécie da então utilizada para produção de fibras na Europa, classificada em 1753 por Carolus Linnaeus – foi ele quem descreveu o gênero e a espécie Cannabis sativa pela primeira vez.
A indica tem ainda uma variação, a Cannabis indica kafiristanica, natural da região do Himalaia e norte da Índia.
Essas plantas se destacam por apresentar níveis mais elevados de canabidivarina (CBDV) ou de tetrahidrocanabidivarina (THCV).
Sativa
Em termos científicos, você sabe o que quer dizer “sativa”?
Na verdade, o nome correto da planta é Cannabis sativa L., em referência ao já citado Carolus Linnaeus.
Tal como a indica, ela apresenta uma variação, a Cannabis sativa spontanea, mais conhecida como Cannabis ruderalis.
É da sativa que se extrai o THC que, como você já sabe, é a substância que causa os efeitos psicoativos quando usada recreativamente.
No entanto, ela também apresenta uma concentração relevante de CBD, ainda que menos que a indica.
Por isso, é utilizada na fabricação de extratos à base de canabidiol.
Já a sua floração é bem mais demorada se comparada com a da indica, situando-se na faixa entre 60 e 90 dias.
Híbrida
Desde que a ciência descobriu o imenso potencial em termos farmacêuticos para a Cannabis, ela vem sendo pesquisada e cultivada em ambientes controlados.
A partir disso, surgiram espécies híbridas, cada uma com concentrações de CBD e THC distintas.
Sendo assim, elas são subespécies “não naturais” da Cannabis, portanto, resultantes do cruzamento de plantas de cepas diferentes.
Em geral, são cultivadas para fins industriais, por agentes autorizados, principalmente para a extração de substratos para fabricação de medicamentos.
Outro motivo que leva empresas e agricultores a preferir subespécies híbridas é o menor tempo que elas levam para crescer, bem como o período de floração reduzido.
Quais são os efeitos da Cannabis indica?
Como você agora já sabe, a subespécie indica apresenta alta concentração de CBD, o canabidiol, substância com propriedades terapêuticas extraída das Cannabis em geral.
Mas por que o CBD vem sendo tão exaltado ultimamente? O que ele tem de especial em comparação com outros medicamentos?
Na verdade, o “pulo do gato” do canabidiol não está na substância propriamente, mas na forma como o nosso organismo a absorve, que não encontra paralelo com nenhuma outra.
Ela interage com praticamente todas as nossas células e exerce efeitos terapêuticos graças à plasticidade do sistema endocanabinoide.
Descoberto somente na década de 1960 pelo pesquisador Raphael Mechoulam, ele é responsável por promover o equilíbrio entre as reações corporais em geral.
Uma das suas principais características é a capacidade de intervir de maneira benéfica em uma infinidade de processos físico-químicos.
Essas intervenções, por sua vez, são possíveis em virtude dos endocanabinoides que todos produzimos naturalmente.
Então, quando ingerimos CBD, de certo modo “turbinamos” esse sistema, que passa a trabalhar com mais intensidade.
Vem daí os vários efeitos benéficos à saúde, alguns dos quais destacamos a seguir.
Efeito neuroprotetor
Já é bastante conhecida a ação do CBD no sistema nervoso e como, a partir disso, ele também age no tratamento da epilepsia.
Isso porque o seu efeito neuroprotetor, graças às concentrações de flavonoides e antocianinas, já foi demonstrado por pesquisas como a Neuroprotective antioxidants from marijuana.
Em pessoas saudáveis, isso não chega a ser um problema, já que o próprio sistema nervoso central (SNC) é capaz de manter o controle.
Já em indivíduos epiléticos, esse mecanismo não funciona bem, levando aos ataques que se caracterizam por convulsões e espasmos.
Já há algum tempo, o CBD isolado vem sendo testado como recurso para tratar a epilepsia em casos mais complexos.
Embora ainda sejam necessárias mais pesquisas, os relatos de pessoas que tiveram melhora já sinalizam para um futuro promissor.
Efeito analgésico
Outro uso já bastante difundido do canabidiol é como analgésico, ou seja, para suprimir ou evitar a dor.
Uma boa prova disso é a pesquisa Why Athletes are Ditching Ibuprofen for CBD (“Por que os atletas estão trocando o Ibuprofeno pelo CBD).
No estudo, o canabidiol foi ministrado em atletas de altíssima intensidade como anti-inflamatório em substituição ao fármaco convencional.
Devido aos efeitos positivos, o CBD foi, inclusive, retirado da lista de substâncias dopantes pela WADA, a Agência Mundial Anti-Doping.
Efeito relaxante
O sistema endocanabinoide também pode interferir diretamente na comunicação entre as células musculares e o cérebro.
Dessa forma, por meio do CBD, ele funciona como um relaxante natural, impedindo que a mensagem de dor seja enviada pelo sistema nervoso central.
Nesse aspecto, os relaxantes fabricados artificialmente apresentam um problema: por não serem naturais, podem provocar reações adversas, como danos ao fígado.
Isso não acontece com o canabidiol que, por ser uma substância prontamente tolerada pelo sistema endocanabinoide, tem o mesmo efeito dos fármacos comuns, mas sem prejuízos colaterais.
Efeito anti-inflamatório
Além do CBD, diversos outros canabinoides têm efeitos benéficos à saúde.
Entre eles, estão o canabicromeno, ou CBC.
Trata-se de um dos compostos da Cannabis mais estudados pela medicina e que se destaca pelas suas propriedades hipotensora e anti-inflamatória.
Outra substância extraída da Cannabis indica com qualidades anti-inflamatórias é o mirceno.
Essa é uma espécie de terpeno, que, por sua vez, é a classe de elementos responsáveis pelos aromas exalados pelas plantas em geral.
Além dele, outro terpeno com propriedades anti-inflamatórias é o beta-cariofileno (BCP), que também é encontrado na pimenta, na lavanda e no cravo.
Controle de distúrbios psiquiátricos
Males como o transtorno bipolar vêm sendo tratados com sucesso com medicamentos produzidos à base de CBD.
Além disso, outros distúrbios de comportamento e psiquiátricos estão sendo controlados com o uso medicinal do canabidiol.
O transtorno do espectro autista (TEA), por exemplo, pode ser consideravelmente minimizado quando essa substância entra em ação.
É o caso, por exemplo, dos pais de uma criança autista de Campinas (SP) que obtiveram autorização da justiça para plantar Cannabis.
Assim, puderam fabricar seus próprios extratos para tratar não só do autismo, como de doenças neurológicas da menor, como a síndrome de Lennox-Gastaut.
Cuidados paliativos
Pacientes com câncer também estão se beneficiando da Cannabis indica no tratamento e prevenção dos sintomas associados à quimioterapia.
Nesse caso, o CBD ajuda a eliminar náuseas e vômitos, tão comuns em pessoas submetidas aos “bombardeios” de medicamentos pesados para remissão do câncer.
Mas não é só nos cuidados paliativos que o canabidiol se destaca como aliado nesse tipo de tratamento.
Isso porque o artigo Cannabidiol as potential anticancer drug, publicado no British Journal of Clinical Pharmacology, concluiu que o CBD apresenta ações antiproliferativas, antimigratórias, anti-invasivas e antimetásticas contra várias categorias de tumores.
Qual é o uso medicinal da indica?
Agora, vamos mostrar os benefícios das substâncias ativas encontradas na Cannabis indica.
Você já viu alguns deles, mas há muito mais por conhecer.
Veja, então, que tipo de doenças podem ser tratadas com os substratos dessa incrível planta medicinal.
Doença de Parkinson
Da mesma forma que o Alzheimer, o mal de Parkinson é uma doença neurodegenerativa que pode ser tratada com canabidiol.
Uma prova disso é o estudo Cannabidiol Prevents Motor and Cognitive Impairments Induced by Reserpine in Rats, publicado por pesquisadores brasileiros.
A pesquisa mostra que a administração de CBD melhora os prejuízos motores e cognitivos induzidos pela reserpina em modelos animais.
Esse resultado, por sua vez, permite sugerir o uso do composto na farmacoterapia do Parkinson e também da discinesia tardia.
Esclerose múltipla
A esclerose múltipla atinge o sistema nervoso central e os principais sinais são a rigidez muscular e os espasmos involuntários.
A história de Gilberto Castro é um bom exemplo de como o canabidiol pode ajudar a mitigar os sintomas dessa doença incapacitante.
Sobre a eficácia do CBD, vale citar um estudo com pacientes em centros médicos do Reino Unido, que comparou os resultados do tratamento com extrato de Cannabis oral e placebo.
“A taxa de alívio na rigidez muscular depois de 12 semanas foi quase duas vezes maior com o extrato de Cannabis do que com o placebo (29,4% vs 15,7%)”, concluíram os pesquisadores no artigo Multiple Sclerosis and Extract of Cannabis: results of the MUSEC trial, publicado no Journal of Neurology, Neurosurgery, and Psychiatry.
Obesidade
Uma característica do CBD que o torna uma espécie de “substância coringa” é a sua capacidade de melhorar desde condições congênitas como os distúrbios de comportamento.
Nesse aspecto, a obesidade é um dos males que podem ser mitigados com medicamentos à base de canabidiol.
É o que comprova um estudo conduzido por pesquisadores poloneses, intitulado Cannabidiol decreases body weight gain in rats: Involvement of CB2 receptors.
Nele, foram feitos testes em animais que sugerem a eficácia do canabidiol no controle do peso.
“O resultado do presente estudo provê novos insights na direção do potencial uso terapêutico do CBD, revelando uma habilidade do CBD de diminuir o ganho de peso corporal via receptores CB2”, concluíram os autores.
Qual é a melhor: indica ou sativa?
Poderíamos citar ainda muitas outras doenças degenerativas, crônicas ou causadas por vírus que podem ser tratadas com as substâncias extraídas da indica.
Mas acreditamos que o que você acaba de ver já comprova o poder dessa planta e seu potencial terapêutico.
Há quem diga que ela não é tão eficaz quanto a Cannabis sativa como fonte de extratos full spectrum de Cannabis, o que não é verdade.
Ambas as plantas apresentam enorme potencial para uso nos mais variados tratamentos dos, considerando tanto o CBD quanto o THC como compostos ativos.
Ou seja: não cabe comparação quando se trata de Cannabis, já que as subespécies sativa e indica são usadas de formas distintas e em tratamentos diferentes.
Vale ainda destacar o papel das espécies híbridas, já que, por serem manipuladas geneticamente, podem aumentar a capacidade terapêutica da Cannabis.
Portanto, para uma planta já com muitas qualidades, a hibridização vem a ser um recurso para ampliar o potencial de cura e tratamento.
Conclusão
Se você sofre de alguma doença citada neste artigo ou tem amigos ou familiares afetados, não deixe de levar informação a quem precisa.
Vale também apresentar para o médico responsável os estudos e pesquisas aqui destacados que comprovam a eficácia do CBD em tratamentos.
Os casos de sucesso mostrados, além dos estudos publicados, não deixam dúvidas sobre a enorme utilidade da Cannabis indica e sua espetacular capacidade de fornecer substâncias curativas e terapêuticas.
Além de eficazes, elas ainda apresentam um fator extra: os poucos ou inexistentes efeitos adversos.
Continue lendo os artigos no Portal Cannabis & Saúde e informe-se a respeito das mais recentes descobertas científicas envolvendo o canabidiol.