A insuficiência cardíaca atinge 2% da população do mundo. Trata-se de uma doença grave e crônica, sendo a principal causa de morte cardiovascular no Brasil, representando 27% dos óbitos nacionais.
Atualmente, devido às novas tecnologias aplicadas na área cardíaca, a taxa de sobrevida dos pacientes é maior que no passado. Mas essa melhora não se refletiu, na mesma proporção, na qualidade de vida das pessoas que sofrem com a doença.
Vale lembrar que os doentes com insuficiência cardíaca, muitas vezes, não possuem fôlego para fazer coisas simples do cotidiano, como tomar banho, subir escadas e até comer, reduzindo a qualidade de vida. Essas pessoas precisam de cuidados paliativos, que dariam mais conforto físico e psíquicos.
Na busca de uma terapia coadjuvante, para aumentar justamente o bem-estar destes pacientes, o Instituto do Coração (InCor), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), está desenvolvendo um estudo científico com o canabidiol (CBD), substância extraída da Cannabis. O objetivo é investigar se o óleo de CBD pode melhorar as condições clínicas e psíquicas dos doentes.
O InCor é um hospital público universitário de alta complexidade, especializado em cardiologia, pneumologia e cirurgias cardíaca e torácica. Isso quer dizer que além de ser um polo de atendimento de referência, também se destaca por ser um centro de pesquisa e ensino para a FMUSP.
Com apoio da empresa canadense de Cannabis medicinal Verdemed, a pesquisa começa em agosto, com um grupo de 105 pacientes do InCor, com insuficiência cardíaca, que serão acompanhados por 2 anos. Metade dos pacientes receberá placebo e a outra metade o produto Canabidiol 100 mg/ml da Verdemed. Os resultados dos dois grupos serão comparados.
Os pesquisadores do InCor/FMUSP
A ideia do estudo partiu do cardiologista Edimar Bocchi, professor da FMUSP e diretor do Núcleo de Insuficiência Cardíaca e Dispositivos Mecânicos para Insuficiência Cardíaca do InCor. Antes mesmo do canabidiol começar a ser importado com a Autorização da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 2015, o médico já havia acompanhado paciente com doença cardíaca, que usava o CBD como coadjuvante no tratamento para melhorar a qualidade de vida.
“O CBD pode melhorar a qualidade de vida dos pacientes, mas queremos fazer o estudo científico para medir este impacto positivo e ainda verificar se há mudanças no quadro clínico geral. Até hoje não se tem notícia de nenhum estudo científico sobre o tema no mundo”, diz Bocchi.
Ele divide a autoria da pesquisa com o também cardiologista Bruno Biselli, especialista em insuficiência cardíaca e transplante do coração pelo InCor HC-FMUSP. Biselli também acredita que o CBD pode trazer benefícios aos pacientes, mas ressalva:
“Eu ainda não indiquei para os meus pacientes, porque ainda não havia nenhum estudo. Mas acredito que o CBD possa ajudar muito na qualidade de vida desses pacientes”.
“O Brasil precisa realizar mais pesquisas sobre os benefícios da Cannabis medicinal. Colaborar com o avanço científico na área é uma oportunidade única para a Verdemed”, diz o presidente da empresa, José Bacellar. Brasileiro radicado em Toronto, ele é conhecido no mercado pelo caráter arrojado no mundo dos negócios.
No Brasil, foi presidente da Bombril e empreendedor da indústria farmacêutica. Na Inglaterra, trabalhou como COO da Beckley Canopy Therapeutics e, no Canadá, como Business Development Latam da Canopy Growth, uma das maiores empresas de Cannabis do mundo, com ações da bolsa de Nova York.
Bacellar fundou a Verdemed em 2018, preparando a empresa para focar no mercado medicinal da América Latina, que começava a se expandir. Entre 2019 e 2021, a ideia atraiu um grupo de investidores, como Hélio Seibel, acionista da Duratex e Leo Madeira, e Décio Goldfarb, acionista das Casas Marisa, dando outro fôlego à startup.