Se o mercado tem problemas com o produto, uma saída pode ser mudar a embalagem, o ambiente ou até o jeito de vender. Ou seja, mudar a percepção do consumidor. Esta foi a estratégia que um dos fundadores da empresa australiana Altum, o irlandês Fiachra Mullen, escolheu para enfrentar o que considera um “estigma cultural” que ainda existe no mercado asiático. Assim, ao entrar no recém-inaugurado café Found, ninguém vai encontrar nada que remeta à maconha.
Praticamente toda a estratégia foi definida a partir do que Mullen observou no mercado americano. Uma das táticas é o abandono da palavra maconha na comercialização dos produtos, em benefício do termo “Cannabis”. Na Ásia, o executivo preferiu usar apenas a palavra “CBD” nos produtos. Outra decisão foi não utilizar o desenho da folha da planta em nenhuma embalagem e não oferecer produtos como vaporizadores ou papéis para enrolar.
Mullen decidiu trocar tudo isso por uma roupagem da moda. Em vez de uma loja tradicional que vende papel de enrolar, o Found é um café contemporâneo. Funciona no distrito de Sheung Wan, conhecido como “Velha Hong Kong”, que nos últimos anos ganhou um ar descolado, com a cara de Nova York. Ainda está com funcionamento parcial, mas deve estar totalmente operacional em outubro deste ano. No cardápio, produtos óleos, cremes, manteigas, pós, cervejas, chás, chocolates, biscoitos, doces e cafés com canabidiol. Tem opções até para alívio de dores em animais.
Cannabis recebe capital
Mullen acredita que o mercado da região está lentamente se aquecendo para usos alternativos de derivados planta, de linhas de beleza e cuidados com a pele a óleos e produtos comestíveis. Um dos sinais foi a informação de que fabricantes e marcas de CBD que ele conhecia nos EUA estavam recebendo muitos pedidos da Ásia.
Ao perceber essa mudança e o fluxo de capital se deslocando para a Cannabis, decidiu fundar – com mais dois sócios – a Altum no início de 2019. O foco: importar, distribuir e promover uma grande variedade de produtos canabinoides na Ásia-Pacífico.
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Agora, os sócios planejam seguir sua estratégia de negócios em toda a região da Ásia-Pacífico, incluindo, mas não se limitando, à Grande China, Japão, Coreia do Sul, Tailândia, Austrália e Nova Zelândia, com o objetivo de estarem comercialmente ativos em pelo menos três outros países nos próximos 12 meses.
Eles oferecem produtos da marca Life e Felix&Co, feitos com cânhamo, num processo que elimina qualquer traço de THC. Isso porque em Hong Kong há dois tipos de derivados da Cannabis proibidos: o THC e o canabinol (CBN), um canabinoide que só aparece quando o THC envelhece ou se exposto ao calor. A legislação local proíbe a venda de ambos, por considerá-los “intoxicantes”. Liberam, no entanto, o o óleo de CBD.
A moda da Cannabis
Para completar o ambiente estiloso, os funcionários cuidam com atenção dos consumidores antigos e novos de CBD, que não fazem ideia dos benefícios da Cannabis. Tem que ser servido como em um café, mas com gente capacitada, como em um consultório. Assim Mullen espera conquistar o cliente tradicional – iogues e pessoas preocupadas com mindfulness e outras práticas de bem-estar – e aqueles que estão tentando lidar com o stress da pandemia e os protestos de 2020.
Apesar da Ásia ter a Cannabis como parte de sua medicina tradicional com ervas medicinais, a criminalização da Cannabis tornou muitas pessoas céticas quanto aos seus benefícios. Esse preconceito atinge principalmente os mais idosos. Mullen gostaria de atingir este público: “Meu cliente dos sonhos é a mulher de 65 anos de Hong Kong”. Ele gostaria de receber esta mulher e seu marido para aprender a respeito. Mas se contentaria com que ouvissem a palavra ‘Cannabis’ e não saíssem correndo.