A história do padre – que defendeu na Igreja Católica a Cannabis para fins terapêuticos – vira livro
Você sabe quem foi o Padre Ticão? Antônio Luiz Marchioni, mais conhecido como Padre Ticão, da Zona Leste de São Paulo, foi o primeiro sacerdote da Igreja Católica a defender publicamente o uso medicinal da Cannabis nos cultos religiosos.
Amado por uma legião e criticado por muitos, o livro conta a história de como o menino de saúde frágil, nascido em Urupês, interior de São Paulo, se tornou uma referência religiosa na comunidade periférica da maior cidade brasileira.
A mãe fez uma promessa
De origem humilde, Marchioni nasceu com graves problemas de saúde. “Ele estava desenganado. Todos achavam que iria morrer. Então, sua mãe fez uma promessa de que o entregaria para Deus se ele sobrevivesse”, adianta a Dra. psiquiatra Eliane Nunes, uma das autoras do livro.
Dra. Nunes, diretora-geral da Sociedade Brasileira de Estudos da Cannabis sativa (SBEC) e seu marido, o psicanalista Dr. Ario Borges Nunes Junior, membro do Conselho Consultivo do Museu de Arte Sacra de São Paulo, reuniram a experiência em literatura e história eclesiástica e a convivência com o Padre para resgatar seu legado.
Fé, engajamento e transformação social
O lançamento do livro – que conta a uma história de fé, engajamento e transformação social – se deu justamente no dia 1 de janeiro, data de três anos do falecimento do Padre Ticão por problemas cardíacos.
Ao todo, foram dois anos de trabalho para ouvir familiares, a comunidade, amigos e a Igreja Católica. Os mais de 50 anos de dedicação do reverendo estão resumidos em 197 páginas de uma obra literária.
Em defesa pelo uso medicinal da Cannabis
Apesar de ganhar os holofotes por defender o uso terapêutico da Cannabis e o remédio no Sistema Único de Saúde (SUS), o Padre Ticão também deixou uma história de luta pela redução das desigualdades sociais e acesso à moradia.
“Ele era um Padre influente. Ajudou mais de 40 mil pessoas a ter a moradia própria”, relembra a médica e amiga do religioso.
Abordagem progressista
Com uma abordagem progressista, Padre Ticão lutou, de forma incansável, pelos direitos dos mais vulneráveis, especialmente na promoção da saúde pública, e na quebra de tabus e paradigmas na política e na religião.
Durante 40 anos, o Padre esteve à frente da Paróquia São Francisco em São Miguel Paulista, na Ermelino Matarazzo, Zona Leste de São Paulo, onde liderou cultos e movimentos sociais.
‘Trator de Deus’
“Dom Angélico Bernardino deu o apelido ao Padre Ticão de ‘trator de Deus’. Ele era uma pessoa simples e brilhante”, destaca a Dra. Eliane.
Em março de 2023, Dom Angélico Sândalo Bernardino escreveu:
“Padre Ticão realmente teve preocupação viva pela saúde do seu povo, sendo realmente um profeta, sacerdote e pastor sempre iluminado por Jesus, de tal forma que, quando ele partiu para a eternidade, o povo que o tem profundamente no coração o suplicou, porque acreditamos que a morte não é o final, mas a partida para a eternidade feliz”, disse na ocasião.
Ideologia de libertação
De acordo com a autora do livro, o Padre sempre defendeu uma Teologia de Libertação. “Ele foi muito amigo do Paulo Freire, ajudou a comunidade a se organizar. Sempre esteve perto de todas as religiões e partidos. Ele sabia ouvir”, destaca.
A ideia de resgatar o legado que o religioso deixou, veio logo após a sua morte. O objetivo dos autores era o de revelar quem era o Padre Ticão na intimidade.
Acolhedor
“Ele era uma pessoa muito acolhedora, as pessoas chegavam para pedir apoio e saiam apoiadas. Ele dizia: ‘Abram muitas associações, só assim a gente vai conseguir levar remédio para todos’. Ele foi uma pessoa de muita fé”, diz Nunes.
Quem se interessar pela história do religioso vai saber como o Padre teve o primeiro contato com o uso medicinal da Cannabis.
O porquê de defender a Cannabis
Ainda vai compreender o porquê do engajamento em prol da causa e como ele deu início ao curso gratuito de Cannabis Medicinal junto à Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
O curso organizado pela jornalista Gabi Dainezi da Movrecam, em parceria com a Dra. Eliana Rodrigues, professora da UNIFESP conta com mais de 100 mil alunos entre matriculados e formados, e já está na sua 10ª edição.
O leitor ainda vai conhecer histórias da vida privada do sacerdote que, por exemplo, acolheu em sua casa uma mulher com degeneração neuronal gravíssima até a morte.
E também seu relacionamento com o hoje Ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira.
Missa da Cannabis
Outro ponto alto da obra é o resgate da Missa da Cannabis celebrada pelo Padre Ticão. O culto ecumênico, promovido no dia 06 de dezembro de 2020, foi um divisor de águas.
“O Padre queria fazer uma romaria em Brasília para exigir a Cannabis no SUS. Ele queria enviar uma carta à Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para informar sobre o Projeto de Lei 399 que regulamenta o cultivo da Cannabis no Brasil”.
Resposta às críticas
Segundo a Dra. Eliane Nunes, o livro é uma resposta às críticas que tentaram desqualificar o trabalho do religioso.
“Ele queria que nós levássemos informação baseada em ciência. A naturopatia é uma tradição da Igreja Católica. Há registros do ano 1000, onde freiras já relatavam o uso das plantas medicinais dentro da ordem religiosa”, destaca a médica.
Consagração de um padre
Para a psiquiatra, o Padre precisava ser consagrado pelo que foi: um padre. “Ele assumiu a Cannabis como uma missão de vida. Isso tem uma relevância, porque quando as pessoas ouvem um padre falando é como se fosse lei”.
Para concluir, a autora do livro, afirma que a obra é muito mais do que uma biografia. “É um testemunho do impacto duradouro de um líder extraordinário”, finaliza a amiga do religioso.
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O uso medicinal da Cannabis já é legal no Brasil
O uso medicinal da Cannabis no Brasil já tem regulamentação da Anvisa, por meio da Resolução da Diretoria Colegiada RDC 660 e RDC 327. No entanto, é essencial ter uma prescrição médica para usar produtos à base da planta.
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