Com recomendação de cirurgia para colocar pinos na coluna, Marco Antônio Vasconcelos recorreu à Cannabis e se viu finalmente livre da dor
Uma fisgada durante um treino de judô deu início a um transtorno na vida de Marco Antônio Antônio Souza Vasconcelos. Universitário de 20 anos, em preparação para competir nos jogos da faculdade, viu sua rotina mudar completamente. Sua perna esquerda parou de responder aos seus comandos, junto à dor, o fez correr em busca de solução.
Na primeira parada médica, com um ortopedista, a resposta não foi muito convincente. Era só um mal jeito. Bastava tomar uns anti-inflamatórios que logo iria melhorar. Mas o atleta sabia o que era se machucar em um treino e aquilo não era nada parecido com o que já havia sentido.
A cirurgia
Seguiu para um neurologista que, depois de uma ressonância, constatou uma hérnia de disco. Foi encaminhado para a consulta com um neurocirurgião que logo tentou acalmá-lo: menos de 10% das hérnias tem indicação para cirurgia. A tranquilidade só durou até que o médico checasse os exames.
“Ele disse: ‘Nossa meu Deus, você vai ter que operar já’ e não me deixou voltar embora. Já me segurou no hospital e me operou no outro dia cedo da hérnia de disco”, conta Marco.
Pouco mais de duas semanas após o primeiro sinal de que havia algo errado, já estava deitado no centro cirúrgico. Durante o procedimento, o médico descobriu que o problema era ainda maior. Não era uma, mas duas hérnias em locais diferentes. Sendo que precisaria esperar alguns anos para poder passar novamente por uma cirurgia.
Sua recuperação foi até surpreendente, dada a gravidade da situação. “Fiquei quase um mês de cama. Inclusive o pessoal que fez a fisioterapia falou que nunca viu uma pessoa nessas condições voltar a andar”, diz. “Falou que era um milagre eu estar andando porque era uma hérnia gigantesca, foi para dentro da coluna. Pegou a medula.”
Uma vida com dor crônica
Apesar de voltar a caminhar, as dores traziam suas limitações. Não conseguia ficar muito tempo em pé e logo tinha que sentar. Sentado, também não aguentava por muito tempo. Assim começou a ver seus sonhos irem embora. Teve que abandonar a faculdade. Passou em um concurso público, mas não pode dar continuidade. Tentou dar início a outra faculdade, mas também se viu impossibilitado de dar sequência. Só conseguia ficar deitado e, dessa forma, passava a maior parte de seus dias.
Três anos após a inoportuna fisgada, chegou a hora da segunda cirurgia. Um procedimento mais tranquilo, com recuperação mais rápida, que melhorou um pouco suas dores. Aprendeu a conviver com limitações de movimento e a dificuldade de pegar peso ou fazer fisioterapia.
Passaram seis meses e tudo piorou. “Eu travei a coluna de novo. Fui ao médico e eu estava com uma hérnia de novo no lugar da primeira”, relata Marco. “O pessoal queria me operar. Fazer uma artrodese em mim. Colocar placa e pino na coluna, eu não queria. Falava com os médicos para procurar outras coisas que eu não queria botar pino na coluna.”
Tratamento convencional para dor crônica
Sua vida seguiu à base de remédios. “Eles funcionam da hora que você toma, mas não resolve o problema. Você toma os remédios e começa a parar de doer. Ai vai se mexendo, e vai inflamando, até que chega uma hora que você trava. Ficava 3, 4 dias deitado. Levantava só para ir ao banheiro. O dia inteiro tomando medicação.”
“Tomava muito remédio e tinham efeitos colaterais”, continuou. “Direto eu tinha pedra no rim. Cada três meses eu ia parar no hospital com cólica renal. Começou a atacar o estômago. Passou a dar gastrite, refluxo, começou a me dar úlcera. Fazia anos já que eu tomava muitos remédios para dor forte e ficava muito tempo deitado. Estava arrebentando comigo. A minha mãe até brinca que eu tinha uma farmácia. Que eu estava igual um velho, carregando uma sacola de remédio.”
Cannabis para dor crônica
Até que um vizinho disse que havia se tratado com uma médica que tinha uns métodos diferentes. Assim conheceu a especialista em dor crônica Maria Teresa Rolim Jacob. “Eu estava naquele ponto que se falasse para mim que passar manga com mel na testa passava dor, eu passava a manga. Estava atrás de qualquer coisa.”
“Quando cheguei lá, conversei com ela. Buscava algo novo e pensei em células tronco, alguma coisa assim, mas ela indicou a Cannabis”, afirma. “Comecei a tomar ele há uns seis meses e de lá pra cá, eu comecei a melhorar demais. Eu já tô sem dor. Não precisei fazer outra cirurgia. Hoje eu consigo trabalhar, viajar. Consegui voltar a fazer exercícios.”
Não demorou para que a Cannabis medicinal pudesse transformar sua vida. “Em uns dez dias, mais ou menos, eu tirei todos os medicamentos e fiquei só com o CBD. Fiquei só com um para caso de emergência, mas eu tomei só mais umas três ou quatro vezes. Hoje estou só com a Cannabis.”
Apesar da ciência de suas limitações, afinal, a hérnia segue lá, Marco, aos 28 anos, só tem a comemorar. “Eu tenho que tomar precaução, mas pela primeira vez em 8 anos atrás, eu voltei a vida normal. Para mim tá sendo maravilhoso, tanto que indiquei para minha mãe, tem problema de ansiedade, e começou a fazer um tratamento. Minha irmã vai começar.”
Junto, retoma a capacidade de sonhar. “Comecei pela terceira vez faculdade. Dizem que a terceira vez é da sorte, né? Vamos dessa vez eu consigo formar”, finalizou. “ Eu estava deitado na cama esperando fazer uma cirurgia de colocar pinos da coluna e hoje eu estou conversando com a faculdade vendo se eu consigo ir para Portugal fazer um intercâmbio de seis meses lá. Eu estou sem dor, sem nada, louco para voltar a viver a vida, entendeu? A melhora foi substancial. Foi absurdo.”