A história da Cannabis é muito mais antiga do que a maioria das pessoas imagina.
Evidências arqueológicas indicam que o ser humano já utilizava essa planta há pelo menos 10 mil anos, desde o período neolítico, quando as primeiras civilizações começaram a cultivar lavouras.
Marcas deixadas por cordas feitas de Cannabis em cerâmicas chinesas sugerem que, antes mesmo de inventarmos a escrita, já havíamos descoberto utilidades para essa planta — seja na produção de fibras, na alimentação, como medicamento ou até em rituais espirituais.
Mas como algo tão presente na história da humanidade se tornou alvo de proibições tão rigorosas? Em que momento a Cannabis passou de um recurso essencial a um tabu?
Para entender o presente — e o futuro — dessa planta, é preciso voltar às suas origens. A história da Cannabis envolve ciência, política, economia e cultura, e abaixo vamos te explicar tudo!
Acompanhe a leitura e descubra:
- Como a história da Cannabis começou no mundo?
- Por que a história da Cannabis é importante para a ciência?
- Como a história da Cannabis se conecta com a medicina?
- Como as pesquisas científicas impactaram a história da Cannabis?
- Como a Cannabis chegou ao Brasil?
Como a história da Cannabis começou no mundo?
Os primeiros usos da Cannabis surgiram possivelmente onde hoje é a China, no início do período neolítico (entre 7.000 e 2.500 A.C.). Já seu primeiro registro conhecido aparece no livro chinês Pen Tsao, por volta de 2.700 a.C.
Considerado a primeira farmacopeia da humanidade, o texto descreve a planta como remédio para males como dores articulares, gota e malária.
Séculos mais tarde, no ano 70 d.C., o médico grego Pedânio Dioscórides reforçou o papel da planta na obra “De Matéria Médica”.
Catalogando centenas de espécies medicinais, ele destacou o potencial anti-inflamatório e analgésico da Cannabis, consolidando seu uso no mundo mediterrâneo.
Em em 1843, o médico irlandês William O’Shaughnessy publicou um estudo revolucionário após retornar de Calcutá.
Influenciado por tradições indianas, ele testou extratos da Cannabis indica em animais e humanos, comprovando eficácia contra cólera, tétano e dores crônicas.
Seu trabalho se baseou em saberes orientais, impulsionando a adoção da planta na Europa do século XIX. Laboratórios passaram a fabricar tinturas e óleos, enquanto médicos europeus prescreviam a substância para males variados.
Da China imperial à Grécia clássica, das práticas ayurvédicas à medicina ocidental, a planta atravessou fronteiras geográficas e culturais.
A história da Cannabis como recurso terapêutico sobreviveu a mudanças de paradigmas científicos, mantendo-se relevante mesmo em épocas de proibição.
À medida que a sociedade redescobre seus benefícios, foi ficando cada vez mais claro que a história da Cannabis é tão complexa quanto os compostos químicos que a tornaram única.
Quais são os principais marcos na história da Cannabis?
No século XIX, a história da Cannabis ganhou novo capítulo com a popularização de medicamentos derivados da planta.
Laboratórios europeus exportavam para o Brasil produtos como os Cigarros Índios da Grimault, vendidos em farmácias para tratar asma e insônia.
Periódicos médicos da época relatavam casos de sucesso no combate à “histeria” e enxaquecas, evidenciando a aceitação da Cannabis na prática clínica. Paralelamente, porém, iniciava-se uma campanha de criminalização.
Em 1830, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro proibiu o uso recreativo da planta na cidade, associando-a à população negra e pobre.
Esse viés racista intensificou-se no século XX, quando intelectuais como José Rodrigues Dória difundiam teorias higienistas, ligando a maconha à “degeneração moral”.
A estratégia culminou na proibição federal da década de 1930, sob pretextos pseudocientíficos.
Atualmente, a história da Cannabis vive um momento de transformação. Estudos modernos confirmam sua eficácia no tratamento da epilepsia, dores crônicas e transtornos psiquiátricos, reacendendo debates sobre regulamentação.
No âmbito industrial, a planta ressurge como matéria-prima para bioplásticos, tecidos e até materiais de construção. Esses avanços, contudo, não apagam um passado de estigmatização.
Quando a história da Cannabis passou a envolver proibição?
Foi no século XIX que a ciência farmacêutica começou a se desenvolver. E a Cannabis impunha desafios a essa nova área da medicina.
A chegada de medicamentos mais modernos contribuiu para diminuir a popularidade do uso medicinal da planta, já nas primeiras décadas do Século 20.
A proibição da planta, no entanto, não foi motivada por questões de saúde, mas por perseguição a grupos marginalizados que a usavam de forma social. Nos EUA, era comum a planta ser usada de forma recreativa por mexicanos.
Com a Revolução Mexicana, a partir de 1910, se criou entre os estadunidenses um preconceito contra mexicanos, e a maconha passou a ser alvo de filmes, livros e reportagens que a associavam à violência, homicídios e loucura.
Essa campanha ficou conhecida como “Reefer Madness”, em referência a um filme muito famoso na época e que contribuiu para disseminar um clima de terror ligado à droga. Então, em 1937, a maconha foi proibida nos EUA.
A ideia de que o consumo de maconha representava um perigo se espalhava globalmente. Como consequência, o uso medicinal da maconha foi severamente restringido.
Essa proibição acabou favorecendo indústrias interessadas na manutenção de conflitos armados e inaugurou a chamada guerra às drogas.
Apesar das severas restrições impostas nos Estados Unidos e na Europa, o professor Raphael Mechoulam, da Universidade Hebraica de Jerusalém, fez descobertas revolucionárias a partir da década de 1960.
Em seus estudos no Departamento de Química Medicinal e Produtos Naturais, conseguiu isolar o canabidiol (CBD) e, no ano seguinte, identificou e isolou o delta-9-tetrahidrocanabinol (THC), principal composto psicoativo da Cannabis. Desde então, a comunidade científica tem analisado os possíveis benefícios terapêuticos que esses compostos poderiam proporcionar para diversas condições de saúde.
Proibição no Brasil e estigmatização
A maconha foi tornada ilegal no Brasil mais cedo, no século XIX. Em outubro de 1830, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro aprova a “Lei do Pito do Pango”, que previa 3 dias de cadeia a quem usasse maconha.
No Século XX, o psiquiatra sergipano Rodrigues Dória publicou artigos na imprensa e um livro associando o uso da planta a uma suposta degeneração moral, consolidando a imagem negativa sobre a maconha no Brasil.
Durante uma conferência da “Liga das Nações” em Genebra, um médico brasileiro, Pernambuco Filho, equiparou a maconha aos danos causados pelo ópio, substância que era um dos maiores desafios de saúde pública da época.
Embora nunca tivesse defendido essa posição anteriormente, sua fala influenciou fortemente o proibicionismo que se consolidou nos anos seguintes.
De acordo com o Professor Dr. Elisaldo Carlini, da Unifesp, essa declaração teve grande impacto nas políticas antidrogas adotadas mundialmente.
Em uma convenção internacional, a ONU estabeleceu que as drogas eram prejudiciais à saúde e ao bem-estar da humanidade, justificando assim a necessidade de ações coordenadas e rigorosas para coibir seu uso.
No Brasil, a proibição em nível federal aconteceria em 1938, durante a Ditadura Vargas, por meio da Lei de Fiscalização de Entorpecentes.
Com leis que restringiam ou proibiam a prescrição, sob pena de prisão inclusive para médicos, o uso medicinal foi desaparecendo na Europa e nas Américas. Já em 1942, a Cannabis foi excluída da farmacopeia americana.
Quais civilizações marcaram a história da Cannabis?
Além dos chineses, os hindus, assírios, mexicanos e muitas outras civilizações contribuíram para a história da Cannabis.
Em 2019, análises de resíduos em vasos de madeira de 2.500 anos no Planalto do Pamir, atual fronteira entre China e Tajiquistão, revelaram não apenas traços de Cannabis, mas níveis surpreendentes de THC neles.
Esses recipientes, encontrados no cemitério de Jerzak Al, sugerem que comunidades locais já manipulavam a planta para fins psicoativos, possivelmente em rituais fúnebres.
A 1.600 km, no cemitério de Jiayi, outra faceta da história da Cannabis emerge. Sementes e fibras da planta, datadas do mesmo período, não continham THC. Ali, a Cannabis era matéria-prima para cordas, tecidos e alimento.
Os citas, nômades das estepes euroasiáticas, também escreveram seu nome nessa narrativa. Heródoto, no século V a.C., descreveu como essa cultura inalava fumaça de Cannabis em rituais de purificação.
A prática, considerada lendária por séculos, ganhou credibilidade quando artefatos similares aos citados pelo historiador grego foram encontrados em túmulos citas.
Na Ásia Central, a rota de hibridização da planta ganhou contornos. A altitude do Pamir — acima de 3.000 metros — teria favorecido variedades silvestres ricas em THC.
Nesse cruzamento de rotas comerciais, a Cannabis local pode ter se misturado com plantas trazidas por viajantes, intensificando seu potencial psicoativo.
História da Cannabis e religião
Pesquisadores e arqueólogos identificaram vestígios de pólen de Cannabis nos restos mortais de Ramsés, o Grande, faraó do Egito que governou por volta de 1213 a.C.
Além disso, outras múmias egípcias antigas também apresentaram traços da planta, como uma datada de aproximadamente 950 a.C., cujos tecidos continham uma concentração significativa de THC.
Curiosamente, a divindade egípcia Sheshat, associada à escrita e ao conhecimento, era frequentemente representada com um símbolo sobre a cabeça que lembra uma folha de sete pontas.
No hinduísmo, uma das mais antigas tradições religiosas da Índia, a Cannabis está diretamente ligada a Shiva, um dos principais deuses do panteão hindu.
Diversas narrativas descrevem Shiva consumindo bhang, uma preparação feita a partir da Cannabis. Em uma das histórias mais conhecidas, os deuses hindus teriam revolvido o oceano cósmico para obter o Amrit, o néctar da imortalidade.
Algumas versões desse mito afirmam que a Cannabis passou a crescer nos locais onde esse elixir sagrado caiu.
A história da Cannabis também foi registrada há aproximadamente 2.700 anos por fiéis de um antigo santuário na região do Reino de Judá — território que hoje abrange partes da Cisjordânia e do centro de Israel.
Resquícios da substância foram encontrados no local, reforçando a hipótese de que a planta estava presente nas cerimônias religiosas da época.
Por que a história da Cannabis é importante para a ciência?
A história da Cannabis funciona como uma lente para decifrar enigmas que vão da agricultura primitiva à neuroquímica moderna.
Quando arqueólogos identificaram resíduos de THC em vasos de Jirzankal, revelaram como sociedades antigas já manipulavam ativamente a biologia vegetal — um precursor rudimentar da engenharia genética.
Esses achados iluminam a plasticidade da Cannabis, termo técnico que descreve sua capacidade de adaptar química e morfologia conforme o ambiente.
Plantas cultivadas em altitudes elevadas produziriam mais THC como defesa contra radiação UV, e esse detalhe não é mera curiosidade botânica.
Para antropólogos, a história da Cannabis mostrou pistas sobre rotas comerciais e intercâmbios culturais.
Sua presença em Jirzankal, próximo à Rota da Seda, sugeriu que a planta viajava junto com seda e especiarias. Cada caravana pode ter sido um vetor involuntário de hibridização, misturando genéticas de regiões distantes.
Na farmacologia, o passado da Cannabis é um mapa para o futuro. O uso ritualístico citado por Heródoto, por exemplo, antecipou em 2.500 anos a descoberta moderna de que os canabinoides modulam a percepção da dor.
Como a história da Cannabis se conecta com a medicina?
O interesse pelo uso medicinal da Cannabis começou a se restabelecer a partir dos estudos do químico búlgaro Raphael Mechoulam.
Em 1963, este pesquisador descobriu e isolou o canabidiol (CBD). No ano seguinte, isolou o tetrahidrocanabinol (THC). Com isso, uma nova classe de substâncias foi criada: a dos canabinoides.
Pesquisando como essas substâncias agem no nosso organismo permitiu à ciência identificar o sistema endocanabinoide, um mecanismo de regulação presente no homem e em todos os animais vertebrados.
A descoberta do mecanismo de ação dos canabinoides e de um sistema até então desconhecido de comunicação entre outros sistemas do corpo gerou uma intensa onda de pesquisas sobre a Cannabis e seu potencial terapêutico.
No fim do Século XX, produtos feitos com canabinoides isolados, como Marinol e o Dronabinol, foram aprovados para tratamento de náuseas e vômitos em pacientes com câncer e para aumento de apetite em pacientes com HIV.
O avanço das pesquisas também fortaleceu grupos de pacientes, que militavam para poder cultivar a planta e produzir seu próprio remédio.
Já em 1995, um plebiscito na Califórnia (EUA) aprovou a Lei da Compaixão, que deu origem à primeira regulamentação para a Cannabis medicinal em décadas.
Uma nova onda de interesse mundial da Cannabis aconteceu em 2013, quando o médico e celebridade americano Sanjay Gupta lançou um documentário apresentando a utilidade terapêutica da Cannabis para epilepsia refratária.
Por não causar efeitos psicoativos, o uso de canabidiol foi aceito em diversos países ao redor do mundo, apesar da reprovação moral que ainda recai sobre a Cannabis.
Como a Cannabis era usada na medicina antiga?
A medicina antiga encontrou na Cannabis um recurso terapêutico. No Egito de 1.550 a.C., o Papiro Ebers — um dos tratados médicos mais antigos — prescrevia a planta para inflamações oculares.
Misturada com mel, a resina era aplicada diretamente nos olhos, técnica que antecipou em milênios o uso moderno de colírios à base de canabinoides.
Na Índia, os Vedas, textos sagrados de cerca de 1.400 a.C., descreviam a Cannabis como “liberadora da ansiedade”, incorporada a bebidas ritualísticas para aliviar estresse e induzir sono.
Já na China, além do Pen Tsao, a planta aparecia em fórmulas contra dores menstruais. Médicos da dinastia Han (206 a.C.–220 d.C.) recomendaram sementes trituradas em chás para regular o fluxo sanguíneo.
Enquanto isso, na Grécia, Dioscórides detalhou no século I d.C. o uso do suco fresco das folhas para tratar queimaduras e feridas infectadas — um protocolo antisséptico.
Um capítulo menos conhecido da história da Cannabis medicinal ocorreu na África pré-colonial. Tribos como os Zulus aplicavam compressas de folhas aquecidas em articulações inflamadas, método similar às atuais pomadas.
Tabletes de argila de 700 a.C. citavam a planta em receitas para “acalmar espíritos agitados” na Mesopotâmia, possivelmente um tratamento primitivo para transtornos mentais.
A planta também cruzou oceanos como remédio de emergência. Marinheiros europeus do século XVI carregavam tinturas de Cannabis para tratar escorbuto durante longas viagens.
Quais são os usos da Cannabis hoje em dia?
A Cannabis moderna vive uma era de reinvenção, transcendendo tabus para se tornar protagonista em setores que vão da saúde à sustentabilidade.
Atualmente, Anvisa já registrou mais de 30 medicamentos à base de canabinoides para serem vendidos nas farmácias, usados desde 2019 para casos como síndrome de Dravet no Brasil.
Veteranos de guerra dos EUA e Canadá recebem óleos com THC para tratar o transtorno de estresse pós-traumático.
Na indústria, a fibra de cânhamo ressurge como alternativa ecológica. Uma startup alemã desenvolveu paineis automotivos 30% mais leves que o aço, usando Cannabis.
E se tratando de construção civil, o “hempcrete” — concreto à base de cânhamo — isola termicamente casas na França, reduzindo emissões de CO2.
Até a moda abraça a revolução: marcas como a Levi ‘s lançaram jeans com 30% de fibra de Cannabis, que consome 80% menos água que o algodão tradicional.
Sementes de cânhamo também viraram superalimentos. Ricas em ômega-3 e proteínas, são ingredientes-chave em barras energéticas e leites vegetais.
Na beleza, cremes com CBD dominam prateleiras, prometendo reduzir acne e rugas — herdeiros diretos dos unguentos egípcios.
Até a NASA estuda a planta: em 2023, iniciou testes com cânhamo em estufas espaciais, visando produção de oxigênio em missões longas.
Mas o uso mais inovador talvez esteja na bioenergia. Usinas no Canadá convertem resíduos de Cannabis em biocombustível, fechando um ciclo sustentável.
Como as pesquisas científicas impactaram a história da Cannabis?
A principal pesquisa científica na história da Cannabis ocorreu em 1843, quando o médico irlandês William O’Shaughnessy mergulhou nas práticas medicinais indianas e trouxe à luz o potencial terapêutico da Cannabis.
Seu artigo, repleto de relatos sobre cólera e convulsões, validou saberes ancestrais e desencadeou uma revolução farmacêutica. Tratamentos que antes dependiam de opiáceos ganharam uma alternativa menos nociva: a Cannabis.
Anos depois, em 1889, o britânico Edward Birch sacudiu a comunidade médica ao propor a Cannabis como antídoto para a dependência de ópio.
Pacientes em desintoxicação relataram menos crises de abstinência, um achado que ecoaria mais tarde, em 2014, quando pesquisas nos EUA ligaram o acesso à Cannabis medicinal à redução de mortes por overdose.
O século 20 trouxe descobertas que redefiniram a biologia humana. Avançando para 1964, o israelense Raphael Mechoulam isolou o THC, abrindo caminho para entender como a planta interage com o corpo.
Mas foi em 1988 que o quebra-cabeça se completou: a dra. Allyn Howlett identificou receptores no cérebro que respondem aos canabinoides.
O sistema endocanabinoide, como foi batizado, revelou que nosso organismo produz moléculas similares às da Cannabis — uma simbiose evolutiva que explica por que a planta alivia tantos males.
Ao testar THC em 1974 em ratos com câncer, esperavam confirmar danos. Em vez disso, viram tumores encolherem. Um ano depois, em Boston, o THC mostrou-se eficiente contra as náuseas provenientes da quimioterapia.
Esses estudos, inicialmente enterrados pelo estigma, ressurgiram décadas depois como pilares da oncologia moderna.
No Brasil, o psiquiatra Elisaldo Carlini desafiou tabus em 1981. Seu ensaio com CBD para epilepsia, pioneiro em metodologia, provou que a ciência local não precisava esperar por aval estrangeiro.
Como a Cannabis chegou ao Brasil?
No século XVI, os portugueses trouxeram sementes de cânhamo para suprir a frota naval. Navios da Coroa dependiam de cordas e velas feitas com a fibra — um interesse puramente econômico.
A rainha D. Maria I ordenou, 1783, o cultivo da planta em larga escala, distribuindo manuais de plantio a agricultores do Maranhão. A fibra era “ouro verde” para o império, mas seu uso recreativo sequer era mencionado.
Paralelamente, os africanos escravizados reinseriram a Cannabis na cultura brasileira sob outros moldes.
Na Bahia do século XVIII, terreiros de Candomblé incorporaram a “diamba” em rituais de cura, enquanto comunidades quilombolas a usavam para aliviar dores do trabalho forçado.
Capoeiristas consumiam a planta antes de rodas, atribuindo-lhe propriedades energéticas — prática que autoridades coloniais reprimiam como “vadiagem”.
No século XIX, a elite médica adotou a Cannabis com entusiasmo. Farmácias no Rio de Janeiro vendiam Cigarros Índios da Grimault para asma, enquanto tinturas importadas da Europa tratavam “histeria” em mulheres.
A revista O Brasil Médico de 1883 elogiava seus efeitos analgésicos, ignorando o uso nas senzalas. Essa cisão racial se consolidou em 1830, quando a Câmara do Rio criminalizou o “pito do pango”, associando-o à população negra.
A mudança de cultura, no entanto, começou com a história da menina Anny Fischer, de Brasília, portadora de uma doença rara que causa epilepsia refratária.
Em 2014, ela se tornou a primeira paciente do país autorizada a usar legalmente Cannabis. A partir do caso dela, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária passou a autorizar a importação de medicações à base de Cannabis.
Até que, em dezembro de 2019, a agência autorizou a produção nacional e a venda de derivados de Cannabis em farmácias, embora o cultivo da planta siga proibido.
Como iniciar um uso medicinal da Cannabis no Brasil?
Avanços na história da Cannabis permitiram que o acesso ao uso terapêutico desta planta tenha sido facilitado.
Tudo começa com o agendamento de uma consulta com um médico com conhecimento em medicina canabinoide. Não é possível utilizar qualquer substância da Cannabis legalmente sem uma prescrição.
A boa notícia é que o portal Cannabis & Saúde reúne profissionais experientes neste tipo de terapia, que avaliam históricos clínicos e definem se a Cannabis é uma opção viável para cada caso.
Em caso positivo, ele emite uma receita indicando o produto a ser utilizado, dosagem, forma de uso, horário e a via de obtenção que você seguirá, seja por importação ou compra nacional.
Para a importação, é preciso fazer um cadastro no sistema de peticionamento da Anvisa a fim de solicitar uma autorização, processo este que depende do envio de documentos.
Também é possível obter CBD pelo SUS, mas o sistema, atualmente, só contempla algumas condições de saúde.
Ajustes na concentração de CBD ou THC são comuns nas primeiras semanas, já que cada organismo responde de forma única.
Em casos excepcionais, a justiça também pode dar um salvo-conduto para que o paciente realize direito ao cultivo próprio de Cannabis, desde que comprovada a urgência e necessidade terapêutica.
Conclusão
A trajetória da Cannabis é cheia de descobertas, desafios e renascimentos. De planta sagrada em civilizações antigas a protagonista de avanços científicos, sua história reflete a própria evolução do conhecimento humano.
Mas ainda há muito a ser descoberto. Portanto, continue navegando aqui no portal e aprofunde-se em outros artigos que revelam o impacto, as curiosidades e o futuro da Cannabis.