Em um mundo que dá passos na direção da regulamentação da Cannabis para fins medicinais e adulto, surge o debate se essa mudança pode gerar impactos na saúde pública. Uma vez que a forma mais comum de se consumir a planta é pela inalação da fumaça (fumando cigarros recheados com Cannabis in natura), a comparação com cigarros recheados com tabaco é quase inevitável.
A fumaça é um meio de entrega de substâncias, mas quando falamos de tabaco e Cannabis, há diferenças significativas, que vão além das plantas em combustão. Abaixo, vamos explorar as semelhanças e diferenças desses dois métodos, questões culturais e seus impactos na saúde. Leia até o final!
Cannabis ou tabaco: quem mata mais?
Pensando nos impactos diretos que o tabaco tem na saúde pública, ele é infinitamente mais letal que a Cannabis. Segundo Organização Mundial da Saúde (OMS), todo ano são cerca de 8 milhões de mortes relacionadas ao tabagismo, sendo mais de 7 milhões resultado do uso direto e o restante, de não-fumantes, expostos passivamente ao fumo. Por outro lado, não existe nenhuma morte registrada devido ao consumo de Cannabis em toda a história da humanidade.
Apesar dos esforços para tentar reduzir o consumo de tabaco, ele continua sendo uma das drogas mais consumidas no planeta. Além disso, o tabagismo está diretamente relacionado a enfermidades como câncer, doenças respiratórias e doenças cardíacas. Já a Cannabis tem ganhado muita atenção, devido a novas descobertas de seu potencial medicinal.
Um estudo, realizado nos EUA e publicado no periódico científico Harm Reduction Journal, analisou as diferenças entre a fumaça do tabaco e da Cannabis, para verificar se existem diferenças e semelhanças. Na conclusão do artigo, o autor, Robert Melamede, destacou que a fumaça da Cannabis apresenta menos toxicidade em relação à do tabaco.
“Em conclusão, embora tanto o fumo do tabaco como o da Cannabis tenham propriedades quimicamente semelhantes, as suas atividades farmacológicas diferem grandemente. Os componentes da fumaça da Cannabis minimizam algumas vias cancerígenas, enquanto a fumaça do tabaco aumenta algumas. Ambos os tipos de fumaça contêm substâncias cancerígenas e partículas que promovem respostas imunológicas inflamatórias, que podem aumentar os efeitos cancerígenos da fumaça. No entanto, a Cannabis normalmente regula negativamente a produção de radicais livres, gerados imunologicamente, promovendo um perfil de citocinas imunes Th2. Além disso, o THC inibe a enzima necessária para ativar alguns dos carcinógenos encontrados na fumaça.”
Potencial para o vício
O tabaco contém nicotina, uma substância altamente viciante e com alto potencial para desenvolver dependência em quem a consome. Também é possível se viciar na Cannabis, porém o número de pessoas que faz uso abusivo da maconha é menor, proporcionalmente.
De acordo com dados do CDC (Centro para Prevenção de Doenças dos EUA, na sigla em inglês), de cada 10 pessoas que usam Cannabis regularmente, 3 acabam fazendo uso abusivo. Já sobre o potencial para abuso do tabaco, a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade apontou que, a cada 10 pessoas que se introduzem ao tabagismo, 9 se tornam dependentes da nicotina.
Surpreendentemente, cientistas apontaram a possibilidade de a Cannabis ser parte de um tratamento contra a dependência química. Além disso, já mostramos aqui como a Cannabis poderia te ajudar a parar de fumar.
O perigo dos agrotóxicos
Uma característica marcante da planta de Cannabis é a sua capacidade de absorver e armazenar substâncias presentes no solo, em suas folhas, flores e caule. Dessa forma, cultivos não-regulados de Cannabis, que utilizam agrotóxicos, podem levar até metais pesados para o organismo de quem consome suas colheitas. Nesse sentido, pesquisas identificaram que usuários de maconha possuem mais metais pesados, como chumbo e cádmio, no sangue e na urina, do que não-usuários.
Da mesma forma, o cultivo do tabaco também se aproveita de agrotóxicos para garantir produtividade. Uma reportagem revelou que os fumicultores, como também são chamados os que cultivam tabaco, aplicam produtos químicos banidos internacionalmente na plantação e relatam rotina de contaminação e adoecimento pela manipulação desses produtos. Apesar de o tabaco absorver menos do solo que a Cannabis, o produto final também chega contaminado com substâncias químicas nocivas.
Usos ancestrais da Cannabis e do tabaco
O tabaco se tornou uma das substâncias mais consumidas no mundo por uma combinação de fatores. Essa é uma planta originária das Américas e era utilizada pelas pessoas que habitavam o continente muito antes da chegada dos europeus. Considerada uma planta de poder, o tabaco era frequentemente utilizado em cerimônias religiosas. Também era consumida como um estimulante, na forma de rapé. A planta acabou indo para fora desse contexto ancestral e ganhou novo significado, após a sua popularização no restante do mundo.
Ela passou a ser associada a rituais sociais, relaxamento e até rebeldia em algumas culturas. As campanhas maciças de marketing transformaram uma planta com caráter sagrado, com uso em situações específicas, em um produto de consumo.
A Cannabis também se espalhou pelo mundo inteiro, com a ajuda da humanidade. No entanto, seus usos como medicamento e como sacramento ainda são amplamente difundidos, como eram séculos atrás. Diferente do tabaco, a Cannabis virou ilegal e essa proibição freou o desenvolvimento de novos tratamentos e técnicas para aliviar condições de saúde. O tabaco passa pelo momento em que tem mais regulamentação, porém está longe de ser ilegal.
Usos medicinais
Algumas culturas das Américas utilizavam o tabaco com propósitos medicinais e, atualmente, esse tipo de uso não é mais tão popular. No entanto, existem muitas condições de saúde que podem ter tratamento com o auxílio da Cannabis.
A questão envolvendo o uso medicinal da Cannabis põe em xeque se a via inalada é válida ou não. Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) se posicionou contra o uso de flores de Cannabis para uso medicinal, com a justificativa de que não existiriam comprovações científicas que justificassem essa via de administração.
De fato, existem outras formas de se beneficiar das propriedades terapêuticas da planta, que não envolvem sua queima. Assim, a preferência, tanto do órgão regulador quanto dos profissionais da saúde, é por produtos para uso oral (óleos e tinturas aplicadas sob a língua) ou tópico (cremes e pomadas aplicadas sobre a pele). Essas são as melhores recomendações, para evitar a irritação das vias aéreas, decorrente da inalação da fumaça.
Portanto, para evitar complicações na saúde, evite o cigarro de tabaco e opte por produtos com Cannabis com outras formas de administração.
Aqui no Brasil, já é possível fazer uso medicinal da Cannabis de forma segura e dentro da legalidade. Para isso, o primeiro passo é marcar uma consulta com um profissional da saúde experiente na prescrição de canabinoides. Aqui na nossa plataforma de agendamentos, você encontra mais de 250 médicos e dentistas, que estão preparados para avaliar o seu caso e recomendar o melhor caminho. Marque já a sua consulta!