Justamente a ilicitude e o proibicionismo, que causaram grande parte das moléstias que serão descritas na coluna de hoje, é importante frisar que, assim como o cachorro, a maconha passou por seleções assistidas, para melhor servir aos interesses do ser humano… Tanto é assim, que hoje em dia não devemos mais usar “sativa” ou “indica”, como fatores determinantes do percentual de canabinoides na planta – culpe a hibridização ocorrida anteriormente na Europa. Fica aqui meu agradecimento ao prof. Robert Granda, da UFV, que me passou tal conhecimento.
Importante também dizer que, na revisão em que me baseei pra escrever esse artigo, não foi avaliado o uso do óleo rico em CBD, pois esse não costuma causar dependência e, ao contrário, pode servir como tratamento dos transtornos relacionados ao abuso de substâncias.
E aí, maconha vicia? Sim
Assim como sexo, baralho, apostas e compras podem viciar… Isso deve te levar a pensar sobre o tipo de personalidade que desenvolve esse transtorno e se o fizer, parabéns! Raciocínio promissor.
A Psiquiatria chama de “transtornos relacionados a cannabis” (TRC) uma moléstia que podemos definir como dificuldade de cessar o uso de cannabis quando a mesma traz mais prejuízo do que benefícios para a vida do paciente.
Vamos a números aproximados: em 2018, as Nações Unidas estimaram que cerca de 200.000.000 de pessoas usaram cannabis no ano anterior; desse número, 10% usavam diária ou quase diariamente. Por outro lado, em dados recentes, temos aproximadamente 20 milhões de pacientes fechando critérios diagnósticos de TRC.
Interessa dizer que não temos tratamento medicamentoso definido pra esse transtorno. Inclusive, o óleo rico em cannabidiol pode servir como medicação indicada, conforme o grupo de estudos do falecido professor Carlini já demonstrou, com sucesso, em relato de caso.
E o que faz com que certas pessoas se viciem em algo que, se bem dosado, pode ser uma medicação com várias indicações?
Muito provavelmente a alta quantidade de THC e início precoce do uso adulto. Essa conclusão pode ser tirada quando se percebe que, em 1992, o risco de vício durante a vida de uma pessoa que usou cannabis era de 9%, menor que tabaco, cocaína e álcool. Recentemente, outro estudo mostrou que, hoje, esse risco está em 30%.
Ainda é cedo para tirarem conclusões sobre se a legalização do uso adulto em alguns lugares aumentou a quantidade de pessoas com essa doença. Mas o que vemos desde já é que maconha mais “potente” e mais barata realmente piora a situação. Não surpreende, já que hoje nos EUA temos produtos contendo mais de 70% de THC.
Surpreendente mesmo é levantar os dados sobre as comorbidades associadas. 7 em cada 10 pacientes com TRC sofriam de alguma comorbidade psiquiátrica associada, sendo a mais comum o Transtorno de Personalidade, seguida pelo Transtorno do Stress Pós-Traumático e Transtorno de Ansiedade. Não é difícil agora notar que a resposta para o problema está na característica do indivíduo e não na droga, né?
Aliás, reforço aqui que o CBD (full spectrum ou em boas proporções de equilíbrio com o THC) TRATA dependentes químicos com uma taxa de sucesso mais promissora que todos os alopáticos testados até então
Então vamos traçar uma “persona” com todos os pré-requisitos para desenvolver TRC?
Um paciente que inicia o uso de maconha com alto THC antes dos 16 anos e que possui transtorno de personalidade, sem falar do abuso de outras drogas.
Como conclusão, só consigo pensar que, para todas as doenças acima citadas, o óleo rico em CBD somado a THC, na dose correta, aliado à psicoterapia, pode ser nosso novo padrão-ouro no tratamento da dependência química.
Nota importante pro dia de hoje: não confunda K2/spice com maconha. A primeira é uma deturpação, criada por interesses econômicos e ganância do crime organizado, enquanto a segunda é uma medicação e assim como toda medicação, deve ser usada com cautela.