“Toda filosofia é uma metafísica da felicidade… ou não vale uma hora de trabalho”. Alain Badiou
O desejo de ser feliz é um dos nossos objetivos mais universais e, no entanto, não parece haver respostas ou fórmulas fáceis para alcançar a felicidade. Além disso, o conceito tornou-se tão mercantilizado e corrompido que é quase irreconhecível como algo que valha a pena perseguir. À luz disso, devemos simplesmente desistir da aspiração de sermos felizes?
O que é felicidade?
Freud tratava do tema da felicidade de uma forma pragmática: basicamente, a relação entre obter prazer x evitar o desprazer. É altamente conhecida sua afirmação de que ” a felicidade é um problema individual. Aqui, nenhum conselho é válido. Cada um deve procurar, por si, tornar-se feliz”
Dentre as muitas respostas conceituais possíveis sobre o que é felicidade, podemos então pensá-la, primeiramente, pelo que podemos entender como um exercício de ética individual; logo, a felicidade seria observável como distinta, singular, exclusiva – a cada um caberia definir o que ” ser feliz ” significaria.
Como nossas escolhas afetam a nossa busca por felicidade?
Uma das questões mais controversas acerca de nossas escolhas reside na compreensão racionalizante/consciente de que nossas decisões são tomadas desse modo: lúcidas, atentas, racionais.
Freud atribui ao inconsciente a razão de nossas escolhas. Assim, a afirmação de que” o eu não é senhor em sua própria casa ” simboliza que, não obstante ao fato de que passamos os dias, semanas, meses e anos optando pelo modelo de carro que desejamos ou sobre onde iremos passar nossas próximas férias, esse ” radar” não nos é dado por aquilo que chamamos de consciência- assim, somos frutos de outra ordem de vínculos com nossos objetos externos e, consequentemente, com nosso estilo de vida.
Como definimos nosso estilo de vida e como isso afeta nossa procura pela felicidade?
Na última década, tornou-se visível, uma mudança significativa no que poderíamos chamar de ” paradigma de saúde “. Progressivamente, a ideia de profilaxia, mudanças alimentares, práticas meditativas e uso de fitoterápicos deslocou-se de nichos muito específicos (sociais, religiosos, etc) para a comunidade em geral.
Essa mudança paradigmática do chamado estilo de vida, em uma certa medida, também trouxe uma nova forma de se pensar um novo conceito de busca pela felicidade. É visível a quantidade de documentários, livros e debates em espaços públicos destinados a conceitos como minimalismo, veganismo, acesso à medicina canabinóide, práticas alternativas de relaxamento, etc.
Podemos dizer que, em se tratando de uma busca individual, a felicidade assume um novo olhar?
Se observarmos os reflexos pós-pandêmicos, veremos que uma grande parcela da população pouco a pouco retomou os velhos hábitos de consumo, redirecionou o foco do luto para questões pretéritas- em outras palavras, podemos dizer que para esse contingente, nada (ou muito pouco) mudou.
Contudo, como mencionado acima, uma outra fração desse total, reposicionou a própria bússola da felicidade: mudanças de carreira, ressignificação do papel do dinheiro, adoção de novas práticas medicinais, novos olhares sobre conjugalidade (e sobre o prazer de estar só) aparecem cotidianamente na clínica. As mudanças estão acontecendo e continuarão. Talvez uma nova forma de absorver esse processo seja também o de repensar o cotidiano a partir de mais uma premissa freudiana:” nós poderíamos ser muito melhores se não quiséssemos ser tão bons”.