Comecemos estabelecendo pontos básicos:
- Cannabis sativa (maconha) é uma planta que pode ter um perfil enorme de variedades genéticas alterando completamente sua finalidade.
- Canabidiol (CBD) é um dos grandes fitocanabinoides, que não altera a percepção da realidade e tem um potencial terapêutico bem evidenciado. Não causa dependência, segundo a OMS.
- Delta-9-THC (THC) é o segundo grande fitocanabinoide. Também tem funções medicinais já bem estabelecidas porém é de manejo mais delicado que o anterior quando pensamos em perfil de efeitos colaterais relacionados.
A maconha é a droga ilícita mais consumida no Brasil e no mundo, segundo o “III Levantamento Nacional Sobre o Uso de Drogas pela população Brasileira” cerca de 7,4% da população entre 18 a 24 anos usou alguma droga ilegal no ano passado.
É importante que saibamos que a maconha de hoje não é a mesma de 20-30 anos atrás
Hoje temos um perfil praticamente ausente de CBD nas apresentações e quantidades inéditas de THC sendo eles muitas vezes sintéticos ou semi-sintéticos como o D8THC e o D11THC. Isso tem levado a um risco maior no que se refere a “transtornos relacionados a Cannabis”. Leia mais sobre o tem aqui.
Engana-se quem pensa que a apresentação mais frequente e fácil nas escolas é a maconha in natura. Hoje tem se tornado comum o uso de THCs em formato de canetas com óleo enriquecido com a substância.
Como sabemos que o CBD ajuda compensar os efeitos negativos do THC é de se presumir que as crianças e adolescentes tem se afetado cada vez mais com essa exposição precoce, aumentando inclusive o riso da doença pulmonar causada por vaporização de cigarros eletrônicos (EVALI), além de outros transtornos psiquiátricos possíveis.
Como proceder?
1. Prefira o termo “uso adulto” do que “recreativo” pelo claro apelo pueril do primeiro.
2. Converse com seus filhos de maneira compreensiva sobre os riscos da exposição precoce a cannabis.
3. Procure fontes confiáveis para se informar sobre o tema.
E qual a idade em que a exposição ao THC pode ser aceita? Hoje acredita-se que após os 21 anos, devido ao tempo que o sistema nervoso central leva para completar sua formação
Em 2023 vivemos uma situação inédita no que diz respeito a maconha a nível nacional e mundial. Por aqui e nos países vizinhos fala-se sobre a legalização do cultivo para fins medicinais, o que geralmente se trata de plantas de alto CBD e baixo THC chamadas popularmente de cânhamo.
Nos EUA e Canadá temos um panorama com alta quantidade de novos produtos sendo lançados sob pouca ou nenhuma fiscalização acerca da qualidade e casos inéditos de intoxicação por canabinoides ingeridos em produtos alimentícios ou vaporizados em óleos sintéticos.
Gosto de acreditar que existe um caminho do meio entre o proibicionismo e a falta de controle sendo ele somente possível através de diálogo sensato entre a população e quem estuda o tema, o mesmo diálogo que deve guiar os relacionamentos interpessoais, incluindo o de pais e filhos.