A VerdeMed é uma startup de Cannabis medicinal sediada em Toronto, no Canadá, mas com DNA do Brasil. O CEO global da empresa é o brasileiro José Bacellar, que já esteve à frente de uma empresa que marcou gerações, a Bombril. Já o diretor para América Latina é italiano, mas fala um português tupiniquim impecável: é o Fábio Lampugnani.
Fábio é especializado em consultoria estratégica com duas décadas de experiência na Europa, EUA, América Latina, Oriente Médio e África nas áreas de varejo e inovação. Em 2018, conheceu Bacellar em São Paulo e descobriu o mundo da Cannabis. Desde então, tem se dedicado à VerdeMed.
A empresa está desenvolvendo diferentes medicamentos derivados da planta em Toronto, sendo que dois deles aguardam autorização sanitária da Anvisa para serem vendidos nas farmácias brasileiras. A expectativa da startup é que os dois sejam aprovados ainda neste semestre: um para epilepsia e outro para esclerose múltipla.
O portal Cannabis & Saúde iniciou nesta semana um série de entrevistas com os líderes das principais empresas do setor no Brasil. O objetivo é traçar um panorama para 2021 em legislação e mercado. Fábio Lampagnani conversou conosco sobre suas perspectivas para este ano, quando poderá ser votado o Projeto de Lei 399, que legaliza o plantio de fins medicinais e industriais.
Ele acredita na possiblidade de aprovação do PL neste ano. Afirma que caso o texto vire lei, fará o Brasil “entrar com os dois pés” neste mercado. Hoje, apenas uma associação de pacientes está autorizada a cultivar maconha no Brasil, a Abrace da Paraíba (foto em destaque).
O executivo também falou sobre os projetos desenvolvidos pela empresa, a nova rodada de captações para abrir o capital na Bolsa de Valores de Toronto e a situação da Cannabis no Canadá. Confira!
A VerdeMed está sediada no Canadá, onde tanto a Cannabis medicinal como de uso adulto já é legalizada. Por que vocês escolheram esse país?
O Canadá foi o primeiro país do mundo a autorizar o plantio a domicílio por cidadãos com prescrição, já faz 20 anos. Em 2012, permitiu o desenvolvimento do mercado que estamos vendo hoje, tanto para uso adulto como medicinal. No Canadá, existe uma disponibilidade de matéria-prima em termos de variedade e de genética, mas nem sempre em preço. Fora do Canadá, a gente começa a encontrar agora só na Colômbia. Então, a presença de matéria-prima acessível, estrutura certificada e GMP (Boas Práticas de Fabricação), obviamente agiliza e facilita o desenvolvimento de novos produtos farmacêuticos. Então, muitas novidades estão vindo e vão vir do Canadá. Tem outra frente que é de negócio. O Canadá, que foi precursor na legislação e criação de grandes empresas na indústria da Cannabis também está sendo precursor na fase de consolidação das empresas, o que já está acontecendo. Alphria e Tilray, por exemplo, se fundiram para criar a maior empresa de Cannabis no mundo.
Nós escolhemos o Canadá porque em 2018 era o único lugar que se encontrava matéria-prima, seja psicoativa ou não. Tinha estrutura, nossos fármacos são desenvolvidos em parceria com o Toronto Institute of Pharmaceutical Technology. Então essa foi uma das razões. Outra é ligado ao mercado financeiro, pois os EUA não têm legalização a nível federal. Então o mercado financeiro que facilita operações, como abertura de capital e captação de recursos ainda é o Canadá. Por essas duas razões decidimos nos fixarmos lá.
Vocês solicitaram à Anvisa uma autorização sanitária para dois novos produtos derivados da Cannabis. Que produtos são esses e qual a situação deles junto à agência?
Nós fizemos o primeiro pedido de autorização sanitária em setembro de 2020. Foi para uma formulação de concentração 27 mg/ml de THC para 25 de CBD (equivalente ao Sativex, indicado para esclerose múltipla). No mês seguinte, final de outubro, entramos com o segundo pedido de autorização, para um medicamento de CBD isolado 100 mg/ml (análogo ao epidiolex).
Estamos aguardando a aprovação, dependemos da Anvisa terminar a análise. Mas estamos bastante confiantes de termos essa autorização. Acredito que teremos novidades nas próximas semanas. Esperamos obter as duas autorizações no primeiro trimestre para iniciar a comercialização no terceiro trimestre.
Esse ano, temos mais três pedidos para a Anvisa e temos três produtos dermocosméticos que vamos depositar na Colômbia e que vão ser disponibilizados no Brasil.
E com relação aos preços? Hoje o que temos na farmácia custa mais de R$ 2,5 mil
o nosso produto, o CBD 200, já chega nas casas dos pacientes por menos de R$ 1.600, incluindo os custos de frete e importação. Os produtos que vão ser registrados vão ter um preço muito mais acessível ao bolso do brasileiro. Mas a verdadeira mudança vai ser quando tivermos toda a cadeia produtiva no Brasil, sem necessidade de importar matéria prima.
Qual a sua perspectiva para o ano de 2021 com relação à legislação e mercado da Cannabis no Brasil? O PL 399/15 vai ser aprovado? Acredita que haverá concorrência e preços mais acessíveis?
Para diminuir o preço, teria que ser aprovado o Projeto de Lei 399. Eu acredito que ele ainda não vai ser aprovado em 2021, mas a tendência é termos medicamentos mais baratos nas farmácias. Mas aprovando o número de registros (de produtos na Anvisa) já é uma vantagem para o paciente brasileiro.
Agora, se o PL for aprovado, terá um impacto bem maior, mais demorado. Porque segundo a experiência na Colômbia que nós vivemos na pele, tudo que tem que ser feito depois da aprovação ainda vai demorar uns 2 anos para chegar a um efeito real.
Esse projeto de lei nós achamos bem equilibrado porque, por um lado, permite ao Brasil entrar no jogo dessa nova commodity mundial. Ele pode permitir o Brasil recuperar o atraso acumulado. Como foi com a Colômbia, porque ele permite o cânhamo industrial, permite os derivados do cânhamo em alimentos e bebidas, então isso criaria um mercado de CBD competitivo como estamos vendo nos Estados Unidos.
Permitirá ao Brasil entrar com os dois pés nesse mercado!
Por outro, também é uma produção muito controlada, com matéria-prima de alto teor com THC. Então num prazo de 2 anos, poderíamos ter um impacto grande nos preços dos produtos.
Com a eventual aprovação do PL 399, a VerdeMed teria a intenção de iniciar o cultivo em território brasileiro?
Sim, mas dependendo da forma que o projeto vai ser aprovado, teremos vários modelos de negócio que poderemos utilizar. Nós temos uma experiência direta na Colômbia, no Brasil teremos que identificar o melhor modelo de negócio. Mas a resposta é sim! Podemos desenvolver parcerias.
Temos expertise para escolher o melhor local, clima, composição do solo. Não podemos ter metais pesados, tem que ser solos de agricultura orgânica. Então tem várias limitações para termos um produto de alta qualidade. Nós temos essas competências, mas ainda estamos longe de atuar na parte de execução. Vamos esperar a aprovação do projeto para executar um plano.
Em outubro, vocês anunciaram uma nova rodada de captações para abrir o capital aí no Canadá. A meta era de US $6 milhões. Como está essa captação e qual a provisão do IPO?
Estamos falando com potenciais investidores e novos contatos, nossa meta é fechar essa captação nos próximos 3 meses e no nosso plano, esse round de captação é um round que nos levaria ao IPO no começo de 2022. Por enquanto esse objetivo está mantido. Obviamente, a ser analisado mais pela frente, porque depende do que vai acontecer nas condições de mercado, mas o objetivo está confirmado.