Terminou neste domingo a ExpoCannabis 2022, em Montevidéu, capital do Uruguai. E a Expo abriu suas portas exibindo em um telão externo o jogo da Copa do Mundo entre Uruguai e Gana. O Uruguai venceu a partida, mas ficou de fora do Mundial pelos critérios de desempate.
Mas se no futebol deu ruim, na ExpoCannabis o Uruguai se classificou como um líder da América Latina. E podemos dizer que quem veste a camisa nove do time é a uruguaia Mercedes Ponce de León, uma das fundadoras da Expo e que realizou nesta edição uma conferência sobre mulheres canabicas e antiproibicionistas.
ExpoCannabis Brasil 2023
E Mercedes teve algo mais para comemorar nesta edição: o anúncio da chegada da iniciativa no Brasil em 2023. O pouso em solo brasileiro comprova o crescimento e a relevância que a ExpoCannabis Uruguai alcançou.
Uma das responsáveis pela ExpoCannabis Brasil é a Larissa Uchida. A brasileira afirmou que o evento marcado para os dias 15, 16 e 17 de setembro, em São Paulo, será um espaço para avançar nas discussões sobre políticas públicas, regulamentação e legalização no nosso país.
ExpoCannabis no Uruguay
Recentemente em uma entrevista para o Portal Cannabis & Saúde, Mercedes disse que a ExpoCannabis tem “certa atmosfera de festival”. Mas a realidade é que a Expo não tem atmosfera de festival. Ela de fato é um festival. Com palco, música, palestras e muita troca de conhecimento sobre os diferentes usos da planta.
Além disso, a ExpoCannabis contou com um consultório médico para quem tivesse interesse em realizar uma consulta e fazer tratamento com a planta.
Cannabis é coisa séria
O país que foi pioneiro no mundo em legalizar o uso da Cannabis em 2014 avança agora em projetos que consolidam a conexão da planta com saúde, uso adulto responsável, agronegócios e turismo canábico.
Regulações do turismo canábico para 2023: o acesso universal à Cannabis
A Expo começou com a palestra da brasileira Luna Vargas sobre como trabalhar na indústria da Cannabis. Simultaneamente acontecia em outra sala uma conferência de imprensa com autoridades políticas do Uruguai sobre a regulação da planta no país.
Daniel Radio, presidente do Instituto de Regulação e Controle de Cannabis (IRCCA), destacou que o Uruguai tem regulado o jogo e a prostituição. Mas que o estigma persiste sobre algumas substâncias como a Cannabis.
“Aqui no Uruguai um turista pode tomar whisky e vinho até desmaiar. Mas não pode ter acesso a um cigarro de Cannabis pela embriaguez que causa. Os usuários de Cannabis no Uruguai não andam todo dia de hippie, nem Bob Marley. Não são diferentes dos que participam de um clube de leitura, são pais, mães, filhos e irmãos. Mas o estigma persiste. Igual que outras coisas que efetivamente podem ser perigosas como vinho, tabaco e armas. E é possível regular isso. E é o que estamos fazendo. Uma política pública que parece que vai no sentido correto. O que se trata é de ter a cabeça aberta. O objetivo é garantir que as pessoas que vem de outros lugares não sigam para o mercado paralelo. É o que chamamos de acesso universal. E vamos discutir para em 2023 facilitar o acesso universal à Cannabis no Uruguai”, garantiu Radío.
“Lugar de Cannabis é nas Universidades”
Entre os palestrantes da Expo estava o professor Erik Amazonas que antes de compartilhar seus conhecimentos sobre os benefícios da planta à saúde animal, celebrou que a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) é a primeira instituição de ensino superior do país a obter uma medida judicial que lhe permite produzir todos os insumos para a pesquisa da aplicação da Cannabis na área da medicina veterinária.
“Estou na ExpoCannabis para ter mais conhecimento. Agora temos independência e a possibilidade de cultivar em uma Universidade. Isso pode revolucionar a pesquisa veterinária no Brasil e no mundo. E também a situação da medicina veterinária no país. Universidades podem ou deveriam poder cultivar para estudar e pesquisar a planta. E tudo o que a ciência precisar”, explicou Erik.
Outro professor brasileiro que estava compartilhando seus conhecimentos no Uruguai foi Francisney Nascimento, da UNILA, que apresentou o potencial do THC frente à tratamentos para o Alzheimer. E também celebrou a conquista do cultivo da UFSC:
“Se abre agora uma jurisprudência e vamos cogitar esta possibilidade para cultivar na Unila também”.
Ignorância não é benção. Benção é outra coisa. O conhecimento salva.
Neste fluxo de conhecimentos científicos, o professor Nascimento destacou o potencial do desenvolvimento de pesquisas no Brasil. E a importância de compartilhar informações sobre a planta com pessoas da América Latina.
Outra questão fundamental é que quanto mais universidades estudarem a Cannabis, mais ciência, comprovações e estatísticas podem embasar as futuras decisões no Brasil sobre regulamentação.
Palesta sobre THC e envelhecimento
“Minha palestra é sobre Cannabis e envelhecimento. A mensagem final é: pequenas doses de Cannabis para todo mundo, todo dia a partir de uma certa idade que eu não sei ainda qual é. Mas temos muito claro que a nossa produção de endocanabinoides, e que a planta mimetiza, vai caindo quando a gente envelhece. E os canabinoides tem efeitos principalmente: anti-inflamatório, antioxidante e que protege os neurônios. Então são três efeitos muito importantes e de problemas que acontecem no envelhecimento. Então a ideia é pensar a Cannabis como uma reposição canabinoide, como se fala em reposição hormonal”, explicou Nascimento sobre sua fala na Expo.
O trabalho do IRCCA no Uruguai
Neste sentido, o stand do IRCCA, trazia comunicações com frases informativas sobre a segurança e riscos dos usos da Cannabis. Vale destacar que um dia antes da ExpoCannabis vi em um ônibus que circulava por Montevidéu a mesma campanha publicitária que alertava sobre os riscos do uso da Cannabis durante a gestação.
Além disso o stand do governo apresentava cifras oficiais sobre a Cannabis no Uruguai:
- Atualmente o país conta com 30 farmácias habilitadas que vendem Cannabis.
- 8.480 pessoas são membros de clubes de Cannabis e tem acesso a flores deste clube.
- Existem 274 clubes no país.
- 14.491 pessoas tem licença para o cultivo doméstico de flores.
Cannabis e as mulheres empreendedoras do Brasil
E se o lugar de Cannabis é na Universidade também é ao lado das mulheres empreendedoras. Quem confirma esta ideia é a Katia Cesana. A fundadora da Xah com Mariaz, rede de apoio para mulheres empreendedoras no mercado cannábico, uniu um time de peso para a ExpoCannabis.
Foram marcas de mulheres que criam produtos e conteúdos sobre Cannabis: box de uso adulto, velas, lipstick, sérum, makes e roupas feitas de cânhamo.
“Muito importante ocupar este espaço, tem outro coletivo de mulheres Wellness. Então estamos aqui trazendo as mulheres brasileiras empreendedoras mesmo com todo proibicionismo estamos tentando aproveitar o momento pré-legalização para construir comunidade e se fortalecer. Mas já dá para empreender com muitas coisas como tecnologia e conteúdo digital. O futuro é promissor”, destacou Katia.
Brasileiros de peso na ExpoCannabis Uruguai
Além das empreendedoras, muitos brasileiros envolvidos com a pauta Cannabis e interessados no tema estiveram presentes em Montevidéu. Como por exemplo Gustavo Maia, fundador do Cannabis Monitor, Drika Coelho, comunicadora, Nah Brisa, e Stéphanie Santana, enfermeira canábica. Também foi destaque a cozinheira canábica Marcela Ikeda, que falou sobre as possibilidades da Cannabis como um alimento.
Definitivamente se depender do entusiasmo e da expectativa dos brasileiros presentes na Expo, 2023 tem tudo para ser um ano de avanços e ainda mais crescimento para o setor da Cannabis no Brasil.