Dando continuidade aos principais temas abordados durante a 3ª edição do Congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal 2024 (CBCM), realizado no Expo Center Norte, em São Paulo, a equipe de jornalismo do Portal Cannabis & Saúde selecionou alguns painéis que abordaram avanços científicos em áreas como medicina esportiva, odontologia e dermatologia.
Uso de canabinoides na dermatologia no CBCM 2024
O dermatologista e especialista em Cannabis, Dr. Guilherme Marques, conduziu o painel sobre os avanços no uso dos canabinoides na dermatologia. Segundo o especialista, embora a Cannabis não seja considerada a primeira opção para alguns tratamentos, ela desempenha um papel importante como apoio clínico devido aos seus efeitos positivos no controle de esclerose sistêmica, dermatite e lúpus – doença inflamatória autoimune que afeta, entre outros órgãos, a pele.
“Os produtos de Cannabis aplicados topicamente evitam o metabolismo de primeira passagem, ajudando no controle de várias patologias”, explica Dr. Marques.
Além de suas aplicações em condições crônicas como eczema e psoríase, e da regulação das glândulas sebáceas devido às suas propriedades anti-inflamatórias, que podem reduzir a acne, o CBD possui um importante potencial antioxidante.
Durante a palestra, Dr Guilherme pontuou que os antioxidantes desempenham um papel vital na neutralização dos radicais livres, que aceleram o envelhecimento da pele. O CBD, especificamente, tem sido adicionado a vários produtos de cuidados com a pele, como cremes anti-envelhecimento, com o objetivo de diminuir rugas e linhas finas, promovendo uma aparência mais jovem e saudável.
Dor orofacial e odontologia do sono no CBCM 2024
Claudia Tambelli, dentista livre docente e especialista em dor, inicia sua fala trazendo uma metáfora da jornada para o tratamento das dores orofaciais crônicas como uma viagem pelo mar, onde diferentes abordagens terapêuticas são comparadas a diferentes tipos de barcos.Essa analogia ajuda a ilustrar como cada abordagem terapêutica pode representar uma forma diferente de enfrentar e lidar com as dores crônicas.
“Imagine-se navegando em um oceano de desconforto e dor, buscando alívio para suas dores orofaciais crônicas. Agora, visualize-se diante de uma série de opções terapêuticas, cada uma representada por um tipo diferente de barco. Primeiramente, você avista um “barco furado”, simbolizando a terapia farmacológica convencional. Este barco, apesar de oferecer algum auxílio, parece ter problemas sérios – representados pelos “furos” – que podem incluir efeitos colaterais indesejados ou comprometer a qualidade de vida.
Em seguida, você se depara com um “barco a motor”, que representa outras formas de tratamento, como fisioterapia ou cirurgia. Este barco pode oferecer uma viagem mais rápida e direta, mas ainda assim apresenta suas próprias limitações e riscos. Então, à distância, avista-se um “barco a vela”, gracioso e confiável, simbolizando a terapia cannabinoide. Este barco parece navegar suavemente pelas ondas, sugerindo uma abordagem terapêutica mais natural e eficaz, sem os “furos” ou efeitos colaterais dos outros barcos. Sua vela é como um sopro de alívio, impulsionando-o em direção à recuperação e qualidade de vida. Ao escolher qual barco embarcar, é como tomar uma decisão sobre qual abordagem terapêutica seguir.”
Além de apresentar os diferentes tipos de barcos como metáforas para as abordagens terapêuticas, a palestra também menciona os “ajustes de velas”. Esses ajustes de velas representam as mudanças no estilo de vida que os pacientes devem realizar para complementar o tratamento e promover uma melhoria contínua na qualidade de vida. Isso inclui práticas como exercícios regulares, alimentação saudável, sono de qualidade e redução do estresse e da ansiedade.
Esses ajustes, segundo ela, são essenciais para garantir uma jornada suave e eficaz em direção ao alívio das dores orofaciais crônicas, trabalhando em conjunto com a terapia cannabinoide. Essa analogia enfatiza a importância da abordagem holística no tratamento dessas condições, combinando intervenções médicas com mudanças no estilo de vida para alcançar os melhores resultados possíveis.
Terapia Cannabinoide X Terapia Farmacológica Convencional
A palestra abordou detalhadamente a utilização da terapia farmacológica convencional no tratamento das dores crônicas orofaciais, destacando os medicamentos comuns prescritos para essas condições, como antidepressivos, gabapentinoides, opioides e benzodiazepínicos. Foi discutido também os efeitos colaterais frequentemente associados a esses medicamentos, que podem comprometer a qualidade de vida do paciente a longo prazo.
Em contraste, são apresentados os benefícios e a segurança da terapia cannabinoide, comparando-a com a abordagem farmacológica convencional. A terapia com canabinoides é destacada por seu perfil favorável de benefícios e segurança, especialmente em relação aos efeitos colaterais, quando utilizada no tratamento de dores neuropáticas crônicas e distúrbios do sono. O painel enfatizou que os canabinoides, como o CBD e o THC, têm demonstrado melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes com dores crônicas, com menor incidência de efeitos adversos em comparação com outras medicações convencionais.
Doenças degenerativas
Em condições como parkinson, alzheimer e esclerose múltipla, a Cannabis emerge como uma luz guia, oferecendo novas perspectivas terapêuticas. Dr. Francisney Nascimento, farmacêutico e doutor em farmacologia, destacou como a planta atua na modulação do sistema endocannabinoide, retardando os processos de envelhecimento neurodegenerativo.
A doença de Alzheimer, com seu curso progressivo, tem despertado interesse em pesquisas que destacam os efeitos neuroprotetores e anti-inflamatórios do CBD. Estudos sugerem que o CBD pode combater a neuroinflamação e a neurodegeneração, além de aliviar sintomas como agitação e perda de apetite.
No âmbito do Parkinson, com sua característica degeneração de neurônios dopaminérgicos, o CBD tem sido objeto de estudo por sua habilidade em reduzir a inflamação cerebral e o estresse oxidativo, proporcionando alívio para sintomas motores e não motores, como rigidez muscular e distúrbios do sono.
O deputado Eduardo Suplicy, que personifica os resultados promissores do óleo de Cannabis no tratamento dessa condição, também esteve presente na plateia e os avanços efetivos em suas atividades motoras foram apresentados durante o painel.
Já a esclerose múltipla, tem despertado a atenção da comunidade científica para os possíveis benefícios terapêuticos da Cannabis. A substância demonstra eficácia na redução da espasticidade e da dor associadas à EM, oferecendo também efeitos imunomoduladores que diminuem a frequência e a severidade dos surtos.
Refletindo sobre essas descobertas, o professor Francisney Nascimento enfatizou que a Cannabis é uma importante ferramenta preventiva contra os efeitos do envelhecimento, sugerindo sua potencial suplementação a partir dos 40 anos.
Cannabis no Esporte faz diferença?
Os palestrantes Jimmy Fardin Rocha, Daiane Zappe Viana Veronese abordaram uma ampla gama de fatores que influenciam o desempenho dos atletas de alta performance. Destacou-se a importância de considerar não apenas o treinamento físico, mas também aspectos como ansiedade, qualidade do sono e gestão da energia, os quais podem afetar significativamente a performance, mesmo após anos de preparação para eventos como as Olimpíadas.
Além disso, foram discutidas estratégias para minimizar o impacto de condições como a DOMS (Delayed Onset Muscle Soreness), enfatizando a necessidade de recuperação muscular adequada para otimizar o treinamento.
Outro ponto relevante foi a análise do uso de substâncias como o THC no contexto esportivo, que abordou não apenas seus potenciais benefícios, como relaxamento muscular e melhora do apetite, mas também as questões éticas e regulatórias relacionadas ao doping. Apesar das evidências de vantagens em certas modalidades esportivas, a utilização do THC enfrenta restrições devido às políticas antidoping, levantando questões sobre a ética e o espírito olímpico.
Por fim, o painel destacou a importância emergente da saúde intestinal e do microbioma dos atletas, ressaltando como o exercício físico pode modular a composição bacteriana do intestino, influenciando diretamente a absorção de nutrientes e a energia disponível para o desempenho atlético. Essas discussões reforçam a necessidade de abordagens holísticas para o treinamento esportivo, integrando aspectos físicos, emocionais e metabólicos para maximizar o potencial dos atletas de elite.