Um novo estudo publicado na revista Molecular Psychiatry revelou que o uso recreativo e regular de Cannabis de “alta potência” pode alterar a metilação do DNA. Esse processo afeta a expressão dos genes, particularmente aqueles envolvidos nas funções de energia e do sistema imunológico.
A pesquisa, que analisou amostras de DNA de usuários da substância e pessoas com psicose, traz novas evidências sobre os riscos associados ao uso de Cannabis com altos níveis de THC (Tetrahidrocanabinol).
Alterações na metilação do DNA
O estudo incluiu dados de 682 participantes, dos quais 239 estavam no primeiro episódio de psicose e 443 eram voluntários sem histórico de problemas de saúde mental. Entre todos, 38% relataram uso frequente de Cannabis.
Entre os usuários, os cientistas encontraram alterações na metilação do DNA — um processo epigenético que regula a atividade dos genes sem modificar diretamente a sequência do DNA. Essas modificações foram mais pronunciadas em genes ligados à produção de energia e ao sistema imunológico. Curiosamente, usuários que sofriam de psicose exibiam marcas diferentes no DNA, em comparação com aqueles que usavam a substância sem apresentar sintomas psicóticos.
De acordo com os pesquisadores, isso sugere que o uso de Cannabis pode ter relação com o desenvolvimento de condições como a psicose, uma associação que tem sido documentada em estudos anteriores, mas que ganha agora novas nuances com a descoberta dessas alterações no DNA.
Este novo estudo fortalece ainda mais essa correlação, mostrando que as mudanças epigenéticas no DNA podem estar na base desse risco aumentado.
No Colorado, um dos estados norte-americanos onde o uso recreativo de maconha é legal, a concentração de THC chega a 90% em alguns produtos, o que eleva os efeitos psicoativos e o potencial de dano a longo prazo. Segundo os especialistas, é justamente essa alta potência que causa as maiores preocupações para a saúde pública.
Potencial de novos biomarcadores
O estudo publicado na Molecular Psychiatry sugere que as alterações na metilação do DNA poderiam servir como biomarcadores — indicadores biológicos que ajudam a prever o risco de psicose em usuários recreativos de Cannabis. Se essa hipótese for confirmada, médicos poderiam identificar precocemente quais usuários estão mais suscetíveis a desenvolver transtornos mentais.
O que vem a seguir?
Embora ainda haja muitas questões a serem respondidas, este estudo representa um avanço significativo na compreensão dos riscos do uso regular de Cannabis de alta potência.
Agora, os pesquisadores esperam que futuras investigações explorem mais profundamente os padrões de metilação do DNA e confirmem se essas alterações podem ser usadas como um marcador preditivo para psicose.