De acordo com uma pesquisa inovadora realizada na Universidade de Brasília (UnB), o tratamento de indivíduos dependentes de crack com canabidiol (CBD) demonstrou resultados superiores para reduzir a dependência em comparação com os fármacos convencionais administrados nos Centros Psicossociais de Álcool e Drogas (Caps ad).
O estudo envolveu mais de 20 pesquisadores brasileiros e está na última edição do periódico científico International Journal of Mental Health and Addiction.
Nas análises, constatou-se que o CBD pode não apenas aliviar os sintomas primários da dependência do crack, como falta de apetite e sensação de debilidade física, como também provocou menos efeitos adversos em comparação aos outros fármacos.
Mencionamos essa pesquisa anteriormente, quando ela ainda estava em fase de análise e revisão para publicação na revista, a Manuela Borges conversou com uma das cientistas da UnB, Andrea Galassi.
No contexto do Dia Internacional Contra o Abuso e Tráfico Ilícito de Drogas, também conversamos com um dos envolvidos no estudo sobre CBD e crack, Renato Filev.
Uma questão urgente
O crack é uma forma de cocaína que é fumada e tem alto potencial para abuso, levando os que a consomem a uma dependência. Além disso, a droga estimulante impacta negativamente a vida pessoal, social e profissional dos indivíduos.
O uso dessa substância está vinculado a pessoas em situação de vulnerabilidade social. A busca por uma solução para os usuários de crack passa por imenso debate entre poder público, polícias e a sociedade como um todo. No entanto, o canabidiol ainda não tinha sido apontado como uma alternativa para reduzir os sintomas da dependência.
Comparação com medicamentos convencionais
Para o artigo Cannabidiol Compared to Pharmacological Treatment as Usual for Crack Use Disorder: A Feasibility, Preliminary Efficacy, Parallel, Double-Blind, Randomized Clinical Trial, os cientistas recrutaram 73 voluntários divididos em dois grupos.
O primeiro grupo foi submetido ao tratamento com medicamentos convencionais para a dependência, tais como fluoxetina, clonazepam e o ácido valproico. Por outro lado, o outro grupo recebeu um óleo de canabidiol isolado, sem nenhum teor de tetrahidrocanabinol (THC).
Por um período de dez semanas, os participantes receberam semanalmente a medicação e responderam questionários sobre seu estado de saúde e sobre o uso do crack e outras substâncias. Nesse sentido, o grupo também recebeu acompanhamento médico e psicossocial.
O Instituto de Criminalística da Polícia Civil do Distrito Federal ficou responsável por conduzir testes toxicológicos com periodicidade.
Perspectivas futuras do uso do CBD no tratamento da dependência do crack
Os resultados do estudo indicaram o CBD como uma ferramenta poderosa para combater o uso abusivo do crack. Na conclusão do artigo, os cientistas destacaram como o canabidiol atuou em diversas frentes para atenuar o uso de crack e sem causar efeitos adversos tão severos quanto dos outros medicamentos.
“O CBD é um produto seguro/tolerável que apresentou significativamente menos eventos adversos em comparação ao grupo controle, que teve melhor desempenho na redução de queixas clínicas e psiquiátricas. Nas análises intragrupos, o grupo CBD teve melhor desempenho em mais parâmetros que o grupo controle, reduzindo o uso de crack, não reduzindo a ingestão alimentar devido ao uso de crack e maiores melhorias na autoavaliação de saúde.”
Estudos futuros ainda são necessários para ampliarmos nossa compreensão sobre como o CBD pode ajudar pessoas com uso abusivo de crack, inclusive usando extratos da planta inteira.
Andrea Galassi destacou, na entrevista para a Manuela Borges, que o contexto onde o estudo aconteceu era próximo da realidade dos participantes, por isso os resultados foram tão interessantes.
“Os pacientes não estavam internados, estavam vivendo suas vidas e em tratamento. A maioria das pesquisas é em ambiente totalmente controlado, internados, sob o controle da equipe. Só que quando as pessoas saem da internação, a realidade é outra.”
Renato Filev lembrou que embora os resultados com o CBD sejam surpreendentes, o cuidado para as pessoas que consomem crack de forma abusiva deve envolver uma série de fatores além dos medicamentos.
“Ferramentas para combater o uso abusivo, eu acho que primeiro é a informação. Primeiro a informação, a orientação para a prática de uso menos nocivo, com redução de danos. A segunda é a oferta de substâncias de qualidade sem adulterantes, sem contaminantes que possam prejudicar ainda mais a vida da pessoa que faz o consumo. Eu acho que um acolhimento sem estigma também, ele é importante para as pessoas que apresentam transtorno em decorrência do uso de substâncias. E, claro, tratamento em liberdade dentro da rede de atenção psicossocial. Isso é fundamental.”
Fazendo uso medicinal da Cannabis
O uso do CBD para lidar com o uso abusivo de substâncias ainda está em fase de estudos, porém é possível usar os derivados da planta para diversas condições de saúde. Acessando a nossa plataforma de agendamentos, você pode marcar uma consulta com um médico ou dentista experiente na prescrição de canabinoides. Lá você encontra mais de 300 opções de diversas especialidades, todos preparados para avaliar o seu caso e recomendar o melhor caminho. Marque já sua consulta!