A epilepsia noturna é uma condição que afeta milhares de brasileiros. Estima-se que entre 7,5% e 45% dos pacientes com epilepsia sofram crises durante o sono, dependendo do tipo de epilepsia que apresentam.
O problema é que, por acontecer enquanto a pessoa dorme, os sinais costumam ser ignorados ou confundidos com distúrbios comuns, como insônia ou movimentos involuntários.
A epilepsia noturna não se manifesta da mesma forma para todos. Algumas pessoas apresentam espasmos súbitos, outras têm sensações estranhas antes de dormir ou acordam desorientadas sem saber o que aconteceu.
Em casos mais graves, as crises envolvem movimentos bruscos, dificuldade para respirar e até mesmo quedas da cama.
Mas como diferenciar um episódio isolado de um quadro crônico? E quais são os impactos dessa condição na qualidade do sono e na saúde como um todo?
Se você já presenciou alguém tendo movimentos estranhos à noite ou acordando constantemente sem explicação, continue lendo. Este pode ser o primeiro passo para esclarecer suas dúvidas e saber como lidar com esse problema.
Acompanhe a leitura abaixo e descubra:
- O que é epilepsia?
- Diferenças entre distúrbios do sono e epilepsia
- Tipos de epilepsia relacionada ao sono e seus sintomas
- O que causa epilepsia noturna?
- Tratamentos para epilepsia noturna
- Como a Cannabis medicinal auxilia no tratamento de epilepsia noturna?
O que é epilepsia?
A epilepsia é um distúrbio neurológico caracterizado por uma atividade elétrica desregulada no cérebro, capaz de provocar crises recorrentes e imprevisíveis.
Quando essas crises ocorrem exclusiva ou predominantemente durante o sono, recebem o nome de epilepsia noturna.
A condição não se resume a convulsões generalizadas que normalmente conhecemos — existem diversos tipos de crises, desde manifestações sutis, como breves lapsos de consciência, até episódios intensos.
A epilepsia noturna é um desses tipos que frequentemente passa despercebido, pois muitos sintomas se confundem com pesadelos ou agitação comum durante o sono.
Um indivíduo pode acordar com a língua mordida, hematomas inexplicáveis ou dores musculares, sem associar esses sinais a crises epilépticas.
Em crianças, a condição pode manifestar-se através de despertares abruptos acompanhados de choro inconsolável, enquanto adultos relatam confusão mental persistente ao longo do dia, resultado de noites mal dormidas.
Portanto, o diagnóstico exige uma investigação minuciosa. Exames como a eletroencefalografia (EEG) prolongada, realizada durante o sono, são necessários para captar padrões anormais de atividade cerebral.
A ressonância magnética também pode identificar lesões estruturais, como cicatrizes ou malformações, que desencadeiam a epilepsia noturna.
Além disso, síndromes genéticas específicas, como a epilepsia noturna frontal autossômica dominante, estão diretamente ligadas a mutações em genes que regulam a excitabilidade neuronal.
O problema é que, muitos pacientes demoram anos para receber um diagnóstico preciso, enquanto familiares atribuem os sintomas a estresse ou insônia.
Diferenças entre distúrbios do sono e epilepsia
Distúrbios do sono e epilepsia noturna podem coexistir, mas suas causas e mecanismos são radicalmente diferentes.
As parassonias, como o sonambulismo, o terror noturno e o transtorno comportamental do sono REM, envolvem comportamentos incomuns durante estágios específicos do ciclo do sono, sem relação com atividade epiléptica.
Já a epilepsia noturna está diretamente ligada a descargas elétricas anormais no cérebro, detectáveis em exames especializados.
Um exemplo clássico de confusão é o terror noturno, popularmente conhecido como “paralisia do sono”.
Durante esses episódios, a pessoa pode sentar-se na cama, gritar ou apresentar expressões de pavor, mas não responde a estímulos externos e não recorda o evento.
Na epilepsia noturna, crises focais motoras podem incluir movimentos repetitivos das pernas ou braços, acompanhados de alterações temporárias na consciência.
As parassonias, por sua vez, tendem a ocorrer na transição entre fases do sono não-REM, as crises epilépticas surgem em qualquer estágio, inclusive no REM.
Outra diferença substancial é que as parassonias muitas vezes melhoram com medidas simples: estabelecer horários regulares de sono, reduzir consumo de álcool ou tratar apneia obstrutiva.
Já a epilepsia noturna exige intervenção farmacológica direcionada à regulação da atividade cerebral.
Ignorar essa distinção pode levar a erros graves, como o uso de benzodiazepínicos para controlar movimentos noturnos que, na realidade, são apenas parassonias.
Vale ressaltar que algumas síndromes, como a epilepsia rolândica benigna, ocorrem quase exclusivamente durante o sono em crianças, e podem ser confundidas com parassonias.
Nesses casos, a presença de espasmos faciais ou salivação excessiva ajuda a direcionar o diagnóstico.
Tipos de epilepsia relacionada ao sono e seus sintomas?
Diversas síndromes epilépticas têm manifestações específicas durante o sono, cada uma com mecanismos biológicos e sintomas distintos.
Essas crises ocorrem porque o cérebro, em repouso, passa por transições entre fases de sincronização elétrica que podem desencadear descargas anormais.
A maioria afeta predominantemente crianças, mas algumas delas persistem na vida adulta, alterando a arquitetura do sono e comprometendo funções cognitivas.
Abaixo, exploramos subtipos de epilepsia noturna e como ela interage com os ciclos do sono.
1. Epilepsia noturna do lobo frontal
A epilepsia noturna do lobo frontal é marcada por crises breves e hipercinéticas, originadas na região frontal do cérebro.
Esses episódios ocorrem majoritariamente durante o sono não-REM, fase em que a atividade cerebral está mais sincronizada.
Os sintomas se manifestam na forma de movimentos abruptos de pernas e braços, vocalizações (gritos ou gemidos), e posturas assimétricas, como torções do tronco.
Biologicamente, a condição está ligada a mutações em genes como o CHRNA4 e CHRNB2, que regulam receptores de acetilcolina nos neurônios.
Essas alterações aumentam a excitabilidade das células no lobo frontal, facilitando descargas elétricas repentinas.
Durante o sono, a redução natural de neurotransmissores inibitórios, como o GABA, cria um ambiente propício para essas crises.
As crises de epilepsia noturna impedem a progressão para fases profundas, resultando em sonolência diurna e irritabilidade. Alguns pacientes desenvolvem medo de dormir, agravando a privação de sono.
2. Epilepsia do sono infantil
A epilepsia do sono infantil engloba síndromes como a epilepsia rolândica benigna, que surge entre os 3 e 12 anos.
As crises ocorrem quase exclusivamente à noite, com sintomas como contrações faciais unilaterais, salivação excessiva e dificuldade para falar durante o episódio.
Ao contrário das convulsões febris — desencadeadas por febre alta e sem relação com atividade epiléptica crônica —, essa forma de epilepsia noturna é idiopática (sem causa identificada) e tende a desaparecer na adolescência.
A nível celular, a imaturidade do córtex cerebral infantil contribui para descargas focais durante o sono de ondas lentas.
Durante o sono, quando o córtex sincroniza sua atividade para “limpar” resíduos metabólicos, essas redes disparam descargas localizadas.
O resultado são noites interrompidas por espasmos que, embora breves, prejudicam a consolidação de memórias e o crescimento, já que hormônios como o GH são liberados predominantemente durante o sono profundo.
Áreas como a região rolândica, responsável por funções motoras e sensoriais da face, tornam-se hiperativas devido a conexões neuronais ainda em desenvolvimento.
Enquanto convulsões febris são reações agudas a infecções, a epilepsia do sono infantil reflete uma predisposição genética transitória, sem danos neurológicos permanentes.
3. Epilepsia com ponta-onda
Na epilepsia com ponta-onda, também presente na síndrome de Landau-Kleffner (SLK), descargas elétricas dominam mais de 85% do sono não-REM, transformando o cérebro em uma usina de atividade caótica.
Crianças afetadas perdem habilidades motoras, como andar de bicicleta ou segurar um lápis, enquanto a síndrome de Landau-Kleffner (SLK) ataca a linguagem: palavras antes familiares tornam-se códigos indecifráveis.
Biologicamente, o tálamo perde o controle sobre o córtex. Na epilepsia noturna com ponta-onda, a hiperconexão tálamo-cortical gera crises tônico-clônicas e interrompe a poda sináptica, crucial para o aprendizado.
Focos epilépticos no lobo temporal esquerdo bloqueiam a área de Wernicke, responsável por decifrar sons em palavras.
O sono de ondas lentas, que deveria ser um período de “reset”, torna-se uma arena onde o cérebro luta contra sua própria hiperatividade, deixando a criança acordada em um estado de confusão persistente.
4. Epilepsia do lobo temporal
Esta é a forma mais traiçoeira de epilepsia noturna. Crises originadas no hipocampo ou na amígdala — centros da memória e do medo — manifestam-se como episódios de imobilidade ou alucinações olfativas intensas, como cheiro de queimado.
Muitos pacientes têm a nítida sensação de déjà vu ou medo inexplicável minutos antes da crise.
A esclerose hipocampal, complicação comum nessa síndrome, é uma cicatriz neuronal que transforma o hipocampo em um gerador de descargas.
Durante o sono REM, quando a atividade límbica atinge seu pico, o acúmulo de glutamato nas sinapses supera a capacidade inibitória do cérebro, deflagrando crises.
O sono REM fragmentado rouba a qualidade do descanso e alimenta um ciclo vicioso, aumentando a irritabilidade neuronal, que por sua vez desencadeia mais crises.
Pacientes frequentemente desenvolvem ansiedade noturna, adiando o sono por medo do que suas próprias mentes podem fazer no escuro.
O que causa epilepsia noturna?
A epilepsia noturna surge da combinação de predisposições genéticas, alterações estruturais no cérebro e fatores ambientais, como:
- Genética: Mutações em genes estão associadas a formas hereditárias de epilepsia noturna. Esses genes afetam canais iônicos responsáveis pelo equilíbrio elétrico entre neurônios, facilitando descargas súbitas durante o sono.
- Lesões cerebrais: Traumas cranianos, acidentes vasculares cerebrais (AVCs) ou cirurgias prévias podem gerar cicatrizes no tecido neuronal, criando focos epilépticos. Essas áreas disfuncionais tendem a se ativar durante o sono, quando o cérebro alterna entre fases de maior sincronicidade elétrica.
- Tumores: Massas intracranianas, mesmo benignas, comprimem estruturas cerebrais e interferem na comunicação entre regiões como o tálamo e o córtex, desencadeando crises noturnas.
- Infecções: Encefalites, meningites ou neurocisticercose (parasita cerebral) deixam sequelas que perturbam a atividade neuronal. Contudo, a epilepsia noturna pode surgir anos após a infecção inicial.
- Distúrbios metabólicos: Hipoglicemia, hipocalcemia ou desidratação alteram a concentração de íons essenciais para a transmissão nervosa, reduzindo o limiar para crises.
- Privação de sono: Noites mal dormidas aumentam a excitabilidade cerebral em pessoas com predisposição. A falta de repouso adequado desregula processos de “limpeza” neural que ocorrem durante o sono profundo.
- Apneia obstrutiva do sono: A interrupção repetida da respiração gera hipóxia (baixo oxigênio no cérebro), um fator conhecido por precipitar crises em indivíduos com epilepsia noturna.
- Uso de substâncias: Álcool, drogas estimulantes e até a retirada abrupta de antidepressivos podem desestabilizar a atividade elétrica cerebral durante o repouso.
Em até 30% dos casos, nenhuma causa específica é encontrada — classifica-se então como epilepsia noturna idiopática.
Mesmo nesses casos, porém, o controle das crises é possível com medicação e monitoramento contínuo.
Como saber se tenho epilepsia noturna?
Você acorda com a língua dolorida, machucados inexplicáveis no corpo ou a sensação de que lutou a noite inteira? Esses podem ser indícios de epilepsia noturna, mas só exames confirmam o diagnóstico.
A primeira etapa é realizar um diário detalhado: registre horários de sono, sintomas ao acordar e relatos de quem dorme ao seu lado. Tudo isso será útil quando você se consultar com um neurologista para entender a causa.
O eletroencefalograma (EEG) noturno é o principal exame para detectar a epilepsia noturna. Ele monitora a atividade cerebral enquanto você dorme, captando picos elétricos anormais típicos das crises.
Contudo, o EEG padrão pode não detectar nada. Nesses casos, a polissonografia é indicada: além do EEG, ela analisa respiração, batimentos cardíacos e movimentos musculares, diferenciando crises epilépticas de pesadelos ou parassonias.
A ressonância magnética, por sua vez, ajuda a identificar lesões estruturais, como cicatrizes ou tumores, que desencadeiam descargas noturnas. Já os exames genéticos são indicados se houver histórico familiar.
Se tudo der negativo, mas os sintomas persistirem, testes metabólicos avaliam deficiências hormonais ou desequilíbrios eletrolíticos que podem estar por trás das crises de epilepsia noturna.
Tratamentos para epilepsia noturna
O objetivo do tratamento para epilepsia noturna é prevenir as crises, restaurar a qualidade do sono, reduzir riscos de lesões durante os episódios e melhorar a funcionalidade diária.
Em alguns casos, a condição pode entrar em remissão — principalmente em crianças com formas benignas —, mas a maioria dos pacientes requer tratamento contínuo.
A primeira linha de tratamento são os anticonvulsivantes, que atuam modulando a atividade elétrica cerebral, aumentando a ação de neurotransmissores inibitórios (como o GABA) ou bloqueando canais que geram descargas excessivas.
Para crises refratárias, opções como a dieta cetogênica — rica em gorduras e pobre em carboidratos — podem reduzir a excitabilidade neuronal.
Estimulação do nervo vago, um dispositivo implantado no peito que envia pulsos elétricos ao cérebro, é outra alternativa.
Em casos extremos, a cirurgia remove focos epilépticos identificáveis, mas só é viável quando a área afetada não controla funções vitais.
O sucesso do tratamento é fundamentado em um processo de tentativa e erro: nem sempre as opções disponíveis vão ser eficientes para todos, e é justamente por isso que quase 30% das epilepsias são refratárias.
Portanto, combinações de abordagens são testadas até encontrar o equilíbrio entre eficácia e tolerabilidade.
A epilepsia noturna não tem cura definitiva na maioria dos casos, mas o controle é possível. Com acompanhamento, muitos pacientes retomam rotinas normais, dormem sem medo e reduzem impactos cognitivos a longo prazo.
Medicamentos anticonvulsivantes
Os remédios para epilepsia noturna funcionam como freios químicos, inibindo a hiperatividade neuronal que provoca crises. Cada classe age em mecanismos distintos, sendo comum a prescrição de:
- Levetiracetam: Bloqueia proteínas que liberam neurotransmissores excitatórios, reduzindo “curtos-circuitos” durante o sono;
- Lamotrigina: Estabiliza canais de sódio nas membranas neuronais, impedindo disparos elétricos descontrolados;
- Oxcarbazepina: Similar à lamotrigina, mas com menor risco de alergias;
- Ácido valproico: Aumenta os níveis de GABA, um neurotransmissor calmante, e bloqueia canais de cálcio;
- Topiramato: Potencializa GABA, bloqueia canais de sódio e inibe receptores de glutamato. É um dos medicamentos com maior efetividade.
- Clonazepam: Benzodiazepínico que reforça a ação do GABA, usado para crises focais noturnas. Seu uso é contraindicado a longo prazo devido ao potencial de dependência.
- Lacosamida: Age em canais de sódio lentos, específicos para crises em sono profundo.
Efeitos colaterais destes medicamentos incluem sonolência, tontura e ganho de peso. A escolha do melhor tipo considera estilo de vida e tolerância individual do paciente aos efeitos colaterais.
Alguns pacientes controlam crises com uma dose única noturna; outros precisam de combinações. O segredo é trabalhar em parceria com o neurologista, ajustando estratégias conforme a vida e o corpo mudam.
Mudanças no estilo de vida para reduzir crises
Se você sofre com epilepsia noturna, precisa fazer ajustes na rotina para minimizar gatilhos e criar um ambiente cerebral estável.
Essas mudanças não substituem tratamentos médicos, mas complementam estratégias de controle. Veja o que funciona na prática:
- Regularidade no sono: Dormir e acordar no mesmo horário todos os dias sincroniza o ritmo circadiano, reduzindo a instabilidade elétrica cerebral. Quem tem epilepsia noturna deve evitar cochilos diurnos prolongados, que fragmentam o sono noturno.
- Redução de estímulos luminosos: Luzes artificiais, especialmente de telas (celulares, tablets), inibem a produção de melatonina. Usar filtros de luz azul ou óculos com lentes âmbar antes de dormir prepara o cérebro para o repouso.
- Dieta balanceada: Excesso de açúcar e carboidratos refinados aumenta a inflamação neuronal. Por outro lado, alimentos ricos em magnésio (espinafre, amêndoas) e ômega-3 (sardinha, chia) modulam a excitabilidade das células nervosas.
- Hidratação adequada: A desidratação altera o equilíbrio eletrolítico, facilitando descargas epilépticas. Beber água regularmente, sem exageros antes de dormir, mantém os níveis de sódio e potássio estáveis.
- Exercícios moderados: Atividades como caminhada ou ioga melhoram a qualidade do sono de ondas lentas, fase crucial para a recuperação cerebral. Contudo, exercícios intensos à noite devem ser evitados, pois elevam a adrenalina.
- Ambiente seguro: Camas baixas, travesseiros anti sufocantes e proteções laterais previnem lesões durante crises noturnas. Mantenha objetos cortantes ou quentes longe do quarto.
Tratamentos alternativos e suporte médico
Além dos medicamentos convencionais, terapias complementares são usadas para controlar a epilepsia noturna.
Se você sente que as terapias de primeira linha não estão produzindo resultados satisfatórios, converse com seu médico sobre as seguintes abordagens:
- Dieta cetogênica: Reduz carboidratos e aumenta gorduras, forçando o corpo a produzir corpos cetônicos. Essas moléculas diminuem a excitabilidade neuronal e são mais eficientes em crianças com epilepsia noturna refratária.
- Neurofeedback: Treina o paciente para modular sua própria atividade cerebral usando feedback em tempo real de exames de EEG. Estudos mostram redução de 40-50% nas crises em casos leves.
- Acupuntura: Estimula pontos no topo da cabeça e no punho, associados à regulação do sistema nervoso. Pesquisas indicam melhora na qualidade do sono e redução da ansiedade, embora não tenham efeito direto na epilepsia noturna.
- Terapia ocupacional: Ensina técnicas para gerenciar atividades diárias sem desencadear crises, como evitar privação de sono em viagens ou ajustar a alimentação em horários irregulares.
- Cannabis medicinal: Extratos ricos em CBD (Canabidiol) são usados em casos resistentes a medicamentos. O composto interage com receptores cerebrais envolvidos na modulação de crises, com resultados clinicamente consideráveis em síndromes como Lennox-Gastaut.
A combinação de métodos tradicionais e alternativos oferece o melhor resultado para quem busca controle total da epilepsia noturna.
Como a Cannabis medicinal auxilia no tratamento de epilepsia noturna?
E por falar em Cannabis medicinal, saiba que ela é uma ferramenta terapêutica contra a epilepsia noturna, respaldada por evidências científicas há muito tempo.
Seu uso baseia-se na interação com o sistema endocanabinoide, que regula funções como sono, humor e atividade neuronal. O Canabidiol (CBD), em especial, é o principal responsável pelos efeitos anticonvulsivantes.
Ele age bloqueando receptores de adenosina (envolvidos na regulação do sono) e modulando a liberação de glutamato, neurotransmissor excitatório associado a crises epilépticas.
O Canabidiol também estimula receptores GABA-A, aumentando a atividade inibitória cerebral. Em síndromes como Dravet, o CBD reduz em até 50% a frequência de crises noturnas, segundo ensaios clínicos.
Já o tetrahidrocanabinol (THC), em doses mínimas, interage com receptores CB1 no tálamo e hipocampo, prevenindo a propagação de descargas epilépticas durante o sono não-REM.
Outros componentes, como terpenos (mirceno, linalol), possuem efeitos sedativos e anti-inflamatórios que complementam a ação anticonvulsivante.
A respeito disso, a história de Charlotte Figi, uma menina com síndrome de Dravet, uma forma grave de epilepsia causada por mutação no gene SCN1A, ficou conhecida mundialmente e inspirou outras famílias a buscarem tratamento com CBD para epilepsia infantil.
Após enfrentar dezenas de convulsões noturnas e pouca resposta aos tratamentos convencionais, sua mãe buscou uma alternativa na Cannabis medicinal.
Charlotte iniciou um tratamento com um extrato rico em Canabidiol (CBD) e baixa quantidade de tetrahidrocanabinol (THC).
O extrato foi introduzido gradualmente ao longo de semanas, junto aos medicamentos que ela já utilizava.
Após isso, os resultados foram impressionantes: as crises reduziram de quase 50 por dia para apenas 2 a 3 convulsões mensais durante a noite. Esse efeito positivo se manteve por 20 meses.
Pesquisas continuam investigando formulações ideais, mas já está claro que a Cannabis pode ser indicada como forma de manejo para epilepsia resistente, tanto que, atualmente, é possível obter este tratamento gratuitamente pelo SUS.
Conclusão
A epilepsia noturna impacta muito mais do que apenas o sono. As crises durante a noite comprometem o descanso, afetam a disposição durante o dia e dificuldades cognitivas.
Portanto, encontrar um tratamento eficiente não se resume a controlar as convulsões, mas sim a melhorar a qualidade de vida de forma completa.
E, como você viu acima, a terapia com Cannabis pode atingir este objetivo de forma excepcional.
Com efeitos neuroprotetores e moduladores, os canabinoides têm ajudado muitos pacientes a reduzir a frequência e a intensidade das crises, trazendo noites mais tranquilas e dias mais produtivos.
Se você quer saber se esse tratamento faz sentido para o seu caso, o melhor caminho é conversar com um especialista.
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