Elias Jabbour é professor de Ciências Econômicas na UERJ, autor de quatro livros e vencedor do Special Book Award of China 2022, um dos mais importantes prêmios literários para autores estrangeiros do país.
Recentemente, ele compartilhou em um podcast sua experiência ao lidar com o diagnóstico tardio de TEA, tanto em sua vida quanto na vida de seu filho, que também foi diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista.
Em uma entrevista exclusiva ao Portal Cannabis&Saúde, Jabbour detalha como essa jornada de descobertas levou à exploração de alternativas terapêuticas, como o uso da Cannabis Medicinal, para melhorar o bem-estar de seu filho.
Elias Jabbour: os impactos do diagnóstico tardio
Com uma infância marcada por dificuldades de socialização e comunicação, Jabbour relembra que até os cinco anos de idade não falava e enfrentava obstáculos importantes para interagir com outras crianças e com os adultos ao seu redor.
A falta de diagnóstico na infância fez com que essas dificuldades não fossem compreendidas adequadamente, o que gerou uma sensação constante de isolamento e insegurança.
“Durante muitos anos, eu me senti isolado, sem entender por que eu tinha dificuldade em algumas coisas que para os outros eram simples. Mesmo sem o diagnóstico, busquei me entender, me adaptar ao que eu sentia.”
O caso de Jabbour não é isolado. Estima-se que mais de 6 milhões de pessoas no Brasil possam ser autistas sem diagnóstico, e, como consequência, muitas dessas pessoas vivem sem o suporte adequado para lidar com suas condições. A falta de diagnóstico precoce pode resultar em dificuldades significativas, como a marginalização social e o sofrimento emocional, uma realidade que Jabbour conheceu bem antes de entender o que estava por trás de suas dificuldades.
Apesar disso, ele não deixou que a ausência de um diagnóstico impedisse sua busca pela excelência acadêmica e profissional. Ao contrário, essa jornada foi motivada pela necessidade de entender o mundo ao seu redor e se destacar em um campo que exigia clareza e expressão.
Desde muito jovem, já possuía uma ideia clara do que precisava fazer: “Aos 12 anos, eu já sabia que precisava entrar em uma grande universidade. Eu acreditava que nesse espaço encontraria as ferramentas necessárias para entender o mundo e alcançar meus objetivos”.
Essa determinação em buscar a educação como uma chave para a compreensão do mundo se manteve, mesmo diante de suas dificuldades de comunicação.
Além disso, Elias enfrentava uma constante ansiedade, que tornava a convivência social ainda mais desafiadora. A interação com outras pessoas, que para muitos pode parecer absolutamente natural, era um território confuso, onde tudo parecia exigir mais esforço do que compreensão.
Aos 44 anos, quando finalmente obteve o diagnóstico de TEA, Elias passou a compreender as razões por trás de muitos de seus desafios.
“Quando soube, tudo passou a fazer sentido. Minhas dificuldades de me expressar, de socializar, de compreender algumas dinâmicas sociais, enfim, tudo isso ganhou uma explicação”, afirma.
Esse diagnóstico não apenas trouxe um alívio, como também permitiu que ele pudesse repensar suas experiências e desenvolver novas estratégias para lidar com sua condição.
O diagnóstico do filho
Elias percebeu que seu filho enfrentava desafios semelhantes aos que ele viveu, mas com uma intensidade maior e mais precoce. “Meu filho tem a mesma condição que eu. Ele começou a apresentar dificuldades de fala e outros sintomas mais cedo do que eu, e isso gerava um grande desespero em nós, como pais. A angústia de não poder se comunicar era muito grande, tanto para ele quanto para nós”, explica.
O diagnóstico precoce de seu filho permitiu que ele recebesse tratamentos especializados logo na infância, ao contrário do que aconteceu com Jabbour, que enfrentou uma série de questões sem esse suporte.
“O diagnóstico precoce fez toda a diferença. Hoje, ele tem acesso a terapias e cuidados que eu não tive, e isso proporcionou um desenvolvimento muito mais positivo do que o que eu vivi.”
Com terapias, intervenções especializadas e acompanhamento, o filho de Elias começou a apresentar melhoras, mas ainda havia desafios pela frente. A grande luta da família foi em torno da fala, uma das maiores dificuldades no espectro autista, que impactava diretamente o bem-estar e a qualidade de vida do pequeno.
Cannabis no autismo: ganhos na comunicação e convivência
O psiquiatra infantil Dr. Gustavo Pecolo destacou, em entrevista ao Portal Cannabis & Saúde, como compostos da Cannabis como CBD, CBN e CBG podem ajudar crianças autistas, especialmente na fala e no comportamento. Segundo ele, esses canabinoides reduzem inflamações no organismo e promovem melhorias metabólicas amplas, atuando de forma integrada e não apenas como calmantes.
“Esses compostos têm um efeito muito grande no metabolismo, reduzindo moléculas pró-inflamatórias. A criança acaba exteriorizando esse poder anti-inflamatório, o que reflete em avanços no geral, como na linguagem e no comportamento”, explicou.
Durante a última edição da ExpoCannabis SP, a médica Ana Hounie, referência no uso de canabinoides, apresentou dados que apontam melhorias na comunicação e no comportamento de pessoas com autismo tratadas com Cannabis. Apesar das pesquisas ainda estarem em andamento, estudos e relatos já indicam avanços em sintomas como agressividade e dificuldades sociais — áreas que costumam resistir a tratamentos tradicionais.
“O mais fascinante é observar melhorias nos sintomas nucleares do autismo, como avanços na linguagem e na interação social — aspectos que, geralmente, não respondem aos tratamentos convencionais”, disse na ocasião.
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A introdução da Cannabis medicinal e os primeiros resultados
A introdução do canabidiol (CBD) no tratamento do filho de Elias aconteceu após ele ouvir relatos de outras pessoas, incluindo figuras públicas, sobre o uso de Cannabis Medicinal no tratamento de TEA.
“Foi um bate-papo com Dilma Rousseff, com quem trabalhei, que me fez considerar o uso de CBD. Eu sabia que precisava tentar algo novo para meu filho, e, depois de algumas pesquisas, decidimos procurar um psiquiatra infantil que fosse favorável ao uso”, relata.
A decisão de iniciar o tratamento com Canabidiol foi feita com muito cuidado, após orientação médica e a melhora da criança passou a ser expressiva.
“Antes do Canabidiol, meu filho não falava, não se comunicava bem e era muito ansioso. O impacto do CBD foi visível de forma quase imediata. Ele começou a falar. Eu não estou exagerando. Da noite para o dia, passou a emitir sons, palavras, interagir. A fala dele, que antes era um muro intransponível, passou a ser possível. Foi algo extraordinário”, conta.
A transformação no comportamento e nas relações familiares
Além do impacto na fala, Jabbour também notou uma diminuição significativa da ansiedade no filho, que antes ficava facilmente sobrecarregado devido à incapacidade de se comunicar. “A grande mudança foi na tranquilidade dele. Ele passou a ser uma criança mais calma, mais centrada. A ansiedade, que o consumia tanto, foi diminuindo e, com isso, ele se tornou muito mais aberto, mais sociável e, especialmente, mais seguro de si.”
A mudança no comportamento de seu filho trouxe também uma transformação na dinâmicas familiar. Um dos momentos mais emocionantes que ilustram essa transformação foi quando, durante uma conversa simples com a mãe, a criança respondeu pela primeira vez de forma clara a uma pergunta: “Quem é o amor da mamãe?” E ele respondeu com o próprio nome.
“Esse foi o grande marco. Ele nunca tinha interagido dessa forma. Até hoje me emociono quando vejo o vídeo desse momento”, conta.
O impacto do Canabidiol na rotina familiar
O uso de Cannabis Medicinal, segundo Jabbour, foi fundamental não apenas para o filho, mas para a saúde emocional de toda a família. “Se antes a ansiedade e as dificuldades de comunicação estavam presentes em todos os momentos da nossa vida, hoje tudo é diferente. O Canabidiol teve um impacto direto não só na qualidade de vida do meu filho, mas na nossa qualidade de vida como família”, conclui.
Com essa experiência, ele acredita que outras famílias podem se beneficiar ao explorar tratamentos como o Canabidiol, mas sempre com a orientação adequada de profissionais da saúde. Para Jabbour, essa jornada não foi apenas sobre encontrar uma solução para o filho, mas também um aprendizado pessoal sobre paciência, empatia e o tempo de cada pessoa.
“O autismo tem o seu tempo, e a gente não pode apressar isso. Não podemos forçar a criança a ser como a sociedade espera. O tempo dela é outro, e a gente precisa ser paciente com isso”, afirma.
Essa jornada de aprendizado tem ensinado Elias a ser mais compreensivo, não apenas com seu filho, mas com as pessoas ao seu redor. “Ser pai de uma criança no espectro é um processo constante de evolução. A cada pequena conquista dele, eu também me transformo.”
Importante!
No Brasil, o uso de Cannabis medicinal é permitido, desde que recomendado por um profissional de saúde autorizado. Se você deseja iniciar um tratamento com canabinoides, procure um especialista na área. Em nossa plataforma, você encontra mais de 300 profissionais qualificados — agende sua consulta.