Dose de resgate geralmente se refere a uma quantidade de um medicamento ou substância que é usada para controlar sintomas agudos ou inesperados. Com produtos à base de Cannabis, a lógica não é diferente. As doses de resgate podem ser administradas em momentos determinantes, e prévios, a crises que podem ser de dores, de pânico, crises disruptivas em pessoas com TEA e, até mesmo, de insônia.
A flexibilidade e a personalização das doses de resgate são especialmente relevantes na administração desses produtos, pois podem oferecer alívio rápido e temporário para sintomas que impactam significativamente a qualidade de vida dos pacientes.
De acordo com a Dra. Lia Likier Steinberg médica especialista na utilização de terapias com Cannabis, o aspecto mais fundamental da administração de doses de resgate reside no autoconhecimento do paciente sobre seu próprio sistema endocanabinoide. “À medida que a pessoa se conhece e sabe o que vai poder causar uma crise, ela já consegue antecipar e ter a dose de resgate. Ela vai percebendo que está saindo fora do eixo, e já toma duas gotinhas a mais. E já alcança um efeito de evitar a crise”, pontua.
Veja nossa entrevista com Dra. Lia
Esse sistema, também conhecido como SEC, desempenha um papel central na regulação de diversas funções fisiológicas e emocionais. Ele, é essencial para entender como os produtos à base de Cannabis podem ser eficazes e seguros para cada indivíduo.
“A Cannabis medicinal funciona modulando, ajustando para mais ou para menos uma parte muito importante do nosso corpo que é o nosso sistema endocanabinoide. Ele foi descoberto graças à Cannabis, por isso se chama assim, mas não tem nada a ver com ela. Pois é um sistema que o nosso corpo tem de controle de praticamente todas as funções. E a Cannabis atuando nesse sistema endocanabinoide a função dele é simplesmente promover a homeostase, a regulação. E, de alguma forma, a gente conhece ele intuitivamente. É quando uma coisa está errada na nossa vida, parece que tudo vai ficando errado, não é?”.
A interação entre os canabinoides da planta de Cannabis e este sistema pode ajudar a restaurar o equilíbrio e promover o bem-estar. No entanto, a resposta a esses compostos varia de pessoa para pessoa, tornando o autoconhecimento uma ferramenta vital.
Experiência própria da Dra. sobre a utilização de doses de resgate
A Dra. Lia Steinberg, médica especialista no uso de produtos à base de Cannabis, compartilha sua experiência pessoal sobre a utilização de doses de resgate no tratamento de condições agudas. Para ela, essa abordagem tem se mostrado não apenas eficaz, mas também transformadora tanto para os pacientes quanto para sua prática clínica.
Quando eu fiz o tratamento de câncer de mama, consegui a doação de um óleo que vinha de fora. Era 1:1 de THC com CBD. E eu nem consigo imaginar o que teria sido do meu tratamento sem isso. Eu não emagreci nenhum quilo, não vomitei, nenhuma vez. Claro, usei junto com todos os remédios e tratamentos. Me ajudou muito.
E tenho bastante experiência com pacientes com lesão medular, onde a dor neuropática de início súbito, nevralgia do trigêmio também, por exemplo, que é a pessoa que tem aquela hora do dia que dá a crise então neste momento se ajusta a dose. Para o Transtorno do Espectro Autista também tenho uma experiência muito boa”.
Doses de Resgate: Como e quando utilizar?
As doses de resgate são geralmente administradas em momentos de crise, quando os sintomas se tornam agudos.
“A questão mais difícil mesmo no tratamento com a Cannabis é acertar a dose terapêutica. E uma estratégia que a gente pode usar é começar bem lentamente e a cada crise que a pessoa tem ela fazer uma dose a mais, e anotar. E de acordo com tanto de resgate que ela precisou a gente vai ajustando a dose de base. Mas o ideal é que a pessoa não precise tanto de doses de resgate. Por isso começo com dose normal e vou ajustando. As coisas caminham juntas”.
A personalização do tratamento
A personalização do tratamento com Cannabis é fundamental, dada a individualidade do sistema endocanabinoide de cada paciente. A Dra. Steinberg enfatiza a importância de um acompanhamento médico adequado e de um diálogo aberto entre médico e paciente. Isso garante que as doses de resgate sejam adaptadas com base nas necessidades específicas, nos tipos de canabinoides utilizados (como THC e CBD) e nas diferentes vias de administração.