Dosagem de CBD: Pesquisa realizada por site israelense revela que menos de um terço das pessoas buscam ajuda profissional na hora de ajustar a Cannabis medicinal
O consumo de fitocanabinoides está em franco crescimento no mundo todo, e a empolgação com que os medicamentos à base de Cannabis são recebidos por pacientes é justificado: cada vez mais estudos indicam os benefícios da Cannabis medicinal no tratamento de diversas condições, desde os casos mais clássicos da terapia canábica, como casos de epilepsia, Parkinson e Alzheimer, até em quadros de dores crônicas, endometriose, ansiedade e depressão, para mencionar apenas os mais populares.
No Brasil, o acesso ainda é relativamente restrito e geralmente vem amparado do aconselhamento médico. Em países com um mercado consolidado e regulamentações mais permissivas, como os Estados Unidos e Israel, onde o consumo é facilitado, uma situação ambígua parece surgir: ao mesmo tempo que a sociedade têm liberdade para testar os benefícios em diversas patologias, os pacientes muitas vezes agem de forma independente, causando preocupação na comunidade médica e científica.
Por mais que a Cannabis medicinal seja um tratamento natural e com efeitos colaterais comprovadamente brandos em relação aos medicamentos alopáticos, o acompanhamento médico no tratamento com fitocanabinoides é necessário. E um dos principais pontos em que esse acompanhamento se faz determinante é no ajuste da dosagem. É justamente essa questão que uma pesquisa realizada recentemente pelo Leafreport, site israelense especializado em Cannabis medicinal, decidiu abordar: como os pacientes de Cannabis medicinal regulam suas doses.
Como se trata de um campo relativamente novo e ainda com muitos estudos em andamento, ainda não existe uma dosagem padronizada para o uso de fitocanabinoides. Por isso mesmo a discussão se faz ainda mais necessária. Afinal, saúde é coisa séria, e você não aumentaria sua dose de antibióticos ou anti-inflamatórios por conta própria, aumentaria? Pois a pesquisa do Leafreport indica que 71% dos pacientes de Cannabis medicinal regulam suas doses sem aconselhamento médico. Para tentar entender a dinâmica própria dos fitocanabinoides e as consequências dessa prática vamos analisar um pouco os diversos pontos de vista dessa questão.
Dosagem de CBD: a visão de especialistas
Em entrevista ao Leafreport, Christine de la Rosa, CEO e cofundadora do People’s Ecosystem e do People’s Dispensary — associações populares norte-americanas que buscam debater e defender o direito do tratamento à base de Cannabis medicinal — e fundadora do CBxShield — farmacêutica voltada à sintetização de fitocanabinoides não derivados da Cannabis — afirmou que a primeira medida que o paciente deve tomar ao iniciar seu tratamento com fitocanabinoides é bem simples: respeitar o que diz a bula.
“É importante respeitar as recomendações dos fabricantes, afinal nem todos os produtos são iguais. Os pacientes devem ter consciência de que não se trata de um produto único.” Dito isso, De la Rosa avalia que cada caso é um caso: “A dosagem recomendada na bula é uma sugestão, mas isso não quer dizer que vá funcionar para todo mundo. Um dos erros da indústria farmacêutica é acreditar que os medicamentos agem da mesma forma em pessoas diferentes.”
Para De la Rosa, o segredo é ir aos poucos e observar seu corpo. “Você precisa encontrar seu ponto certo”, afirma a empresária, e conta um pouco de sua experiência pessoal. “Eu ajusto minha dosagem até meu corpo se sentir confortável, até atingir meu ponto certo. Quando tenho uma crise de lúpus, tomo uma dose adicional, que é o que funciona para mim.”
A opinião de De la Rosa encontra ressonância nos estudos de David Anthony Schroeder. Autor do livro “7 formas de controlar a dor com CBD” (disponível em inglês) e ativista pelo tratamento de fitocanabinoides para dores, Schroeder afirma que as recomendações da bula são um bom ponto de partida. “Não existe tal coisa como uma dose única de CBD. Há inúmeros fatores que devem ser levados em conta quando o assunto é a batalha de um indivíduo contra uma doença ou uma dor crônica.” Peso do paciente, seu metabolismo, severidade da patologia e até a concentração do óleo podem afetar a experiência de um paciente no tratamento.
Seus conselhos são dois, e bem básicos. “Antes de aumentar a dosagem, você precisa ver a reação do seu corpo. E também é necessário levar em conta seu peso corporal — pacientes com maior peso corporal precisam de doses maiores para experimentar os efeitos do medicamento.”
Descobertas da pesquisa
A pesquisa realizada pelo Leafreport levou 11 perguntas a pacientes de Cannabis medicinal dos Estados Unidos, questionando seus hábitos em relação aos fitocanabinoides. Entre as descobertas mais interessantes estão:
71% ajustam a própria dosagem sem o conselho de profissionais
26% não checam a concentração do CBD na hora de comprar seus medicamentos
22% não checam a dosagem antes de iniciar o tratamento
29% dos pacientes consultaram um médico para determinar sua dosagem
48% dos pacientes usam a mesma dosagem todas as vezes que fazem uso do CBD
31% utilizam CBD para combater a dor
31% usam CBD todos os dias
Metodologia
As perguntas foram direcionadas para restringir a análise apenas a pacientes que usam ou já usaram Cannabis medicinal. No total, 1360 pessoas acessaram a pesquisa, mas 721 se qualificaram como público-alvo final da avaliação. A idade da população consultada varia de 20 a 80 anos (com 40% entre 45-60; 29% entre 30-44; 18% entre 18-29; e 13% acima de 60). Das pessoas entrevistadas, 52% se identificaram como mulheres, e 48% como homens.
Tipos de CBD
Entre as formas de consumir Cannabis medicinal, a com maior adesão foi a versão comestível: 35% dos pacientes afirmaram fazer uso de gomas, bebidas e outras variações. Os óleos, modalidade mais popular aqui no Brasil, foi é a preferida de 26% dos entrevistados. Pomadas vêm em terceiro, com 14%, seguido de capsulas, com 12%. O método menos popular foi a vaporização, com apenas 10% dos usuários fazendo uso dessa versão. E 3% dos pacientes afirmaram utilizar o CBD de outra forma.
Período de tratamento
Entre os entrevistados, 28% afirmaram fazer uso da Cannabis medicinal de 2 a 6 meses. 20% usam por um período que varia de 1 a 2 anos. Outros 20% usam de 6 a 12 meses, enquanto 17% tomam o CBD há menos de 1 mês. E 15% dos pacientes afirmam usar há mais de 2 anos.
Frequência
A pesquisa revela ainda um uso frequente do CBD. 31% dos pacientes afirmaram usar o medicamento todos os dias. 27% usam semanalmente, e 21% apresentam um consumo mais casual, usando fitocanabinoides de vez em quando, em ocasiões determinadas. 14% afirmaram usar o CBD várias vezes ao dia, e 7% usam de forma mensal.
Dosagem
Há uma variação significativa também na dosagem ingerida pelos pacientes. 15% afirmaram tomar menos de 5mg; 20% tomam de 5 a 10g; 17% tomam de 10 a 20mg; 11% tomam de 20 a 40mg; 4% tomam de 40 a 70mg; 3% tomam de 70 a 100mg; e 4% tomam mais de 100mg. O dado mais surpreendente vem de 20% dos entrevistados, que afirmaram não saber a dosagem que consomem.
Quem recomendou a dosagem?
Esse é um dos recortes mais interessantes da pesquisa. 42% dos entrevistados admitiram determinar a dosagem por si mesmos. E 21% afirmaram seguir as recomendações da bula. 18% disseram consultar um médico antes, e 11% consultaram um vendedor ou algum profissional da indústria farmacêutica. E 8% ajustam suas doses a partir de pesquisas na internet ou com uso de calculadoras de dosagem.
Satisfação com a dosagem
A maioria dos entrevistados afirma estar satisfeita com a dosagem, totalizando 57%. Já 17% afirmaram que não estavam satisfeitos, e que iam aumentar a dose para um tratamento mais eficiente. 16% admitiram que ainda não encontraram a dosagem certa, e 10% afirmaram que precisavam diminuir a dosagem, pois os efeitos estavam fortes demais.
A dosagem muda de dia para dia?
Outra maioria se forma também quando a questão é se existem mudanças na dosagem de dia para dia. 48% afirmaram que usam a mesma dose todos os dias. Já 32% disseram adotar um método mais flexível, aumentando a dosagem caso seja necessário. E 20% afirmam tomar doses diferentes dependendo se tomam de manhã ou à noite.
Qual a concentração de CBD preferida?
Muitos dos entrevistados demonstraram não ter interesse em CBDs com concentração muito alta. 32% afirmaram procurar medicamentos com 500mg a 1000mg de CBD. Aproximadamente 28% procuram com menos de 500mg; e 26% admitiram que nem checam a concentração. Outros 9% procuraram concentrações mais altas, entre 1001 até 2500mg; e 5% buscam superconcentrados com mais de 2500mg de CBD.
Por qual motivo consome CBD?
A maioria dos entrevistados afirmam que usam CBD para tratar a dor, totalizando 31%. Em segundo lugar, estresse e ansiedade aparecem como causas para 26,5%. Em terceiro, 18% dos pacientes afirmam usar para depressão, enquanto 10% afirmaram utilizar o CBD para “manter um bem-estar geral”. É interessante notar que em vários casos os pacientes assinalaram mais de um motivo pelo qual fazem uso de CBD, reforçando a tese de que a Cannabis medicinal pode tratar de vários quadros simultaneamente. Apenas 2% dos pacientes não especificaram seu uso.
No geral, o tratamento é eficaz?
Instigados a avaliar seu tratamento numa escala de 1 a 5 estrelas, os pacientes entrevistados ofereceram o seguinte resultado:
★★★★★ (muito eficaz) — 34%
★★★★ (eficaz) – 32%
★★★ (indiferente) – 23%
★★ (ineficaz)– 8%
★ (muito ineficaz)– 4%
Avaliações finais
De acordo com o Leafreport, para muitas pessoas os fitocanabinoides são vistos como um tratamento promissor. Mesmo assim, como uma área ainda incipiente da medicina, ainda há muito a se descobrir — incluindo para ajudar a determinar a dosagem ideal.
Os resultados da pesquisa revelam que muitos pacientes não leem a bula antes de utilizar algum medicamento à base de Cannabis, nem seguem recomendações de dosagem ou verificam a concentração de seus medicamentos. Mesmo que muitos pacientes experientes saibam como administrar seus próprios medicamentos, a prática é perigosa se levarmos em conta os pacientes que decidem experimentar o CBD sem compromisso.
Estudos indicam que doses distintas podem ter o chamado “efeito bifásico”. Por exemplo, uma dose baixa de fitocanabinoides pode ajudar a amenizar a ansiedade; mas uma dose elevada pode potencializar o problema. Como De la Rosa e Schroeder afirmam, as recomendações da bula são importantes, mas não podem ser encaradas como leis — e importante levar em consideração diversos aspectos na hora de ajustar a dose. E todo paciente que faça ou queira fazer uso de fitocanabinoides deve consultar um médico. O acompanhamento de especialistas é determinante na hora de ajustar a dose, além de garantir um tratamento eficaz e seguro.
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