Nunca é fácil receber o diagnóstico de uma doença autoimune, seja próprio ou seja de algum familiar. Esta pode ser uma experiência emocionalmente desafiadora. Porém, nem sempre significa que não existam recursos e apoio disponíveis para ajudar a lidar com esses desafios. Grupos de apoio, terapeutas e médicos especializados podem ser fontes valiosas de orientação, suporte emocional e informações sobre tratamento. Além disso, a Cannabis também pode ser uma forma de tratamento para doenças autoimunes.
Conversamos com a médica Dra. Marina Vicente de Souza, CRM 15042 – RQE 10.082, para entender as formas de tratamento com canabinoides. Mas também para inspirar todos os leitores com sua história de vida. Já que a médica recebeu o diagnóstico de uma doença rara autoimune quando ainda era estudante de medicina, seguiu em frente nos estudos e hoje ajuda outros pacientes em seus atendimentos via telemedicina e também presencialmente em um ambulatório da prefeitura de Joinville, Santa Catarina.
“Faço uso de Cannabis como adjuvante para tratamento de espasticidade, mas junto tive melhora do sono, humor e disposição”, explica Dra. Marina
Ainda no primeiro ano de faculdade, uma rara doença autoimune mudou a trajetória da médica que naquela época tinha 20 anos. Mesmo com dificuldades, Dra. Marina seguia firme nos estudos e estava no quarto ano da faculdade, quando recebeu o diagnóstico para uma doença autoimune rara, chamada neuromielite óptica.
Em 2020, decidiu pelo tratamento canabinoide. “Comecei o uso da Cannabis para os meus sintomas, principalmente espasticidade, e foi excelente”, relatou.
Cannabis no tratamento de doenças autoimunes
Segundo a Dra. Marina, o primeiro passo para começar o tratamento com Cannabis é realizar uma avaliação médica profunda. Já que é fundamental antes de iniciar qualquer tratamento com planta, especialmente quando se trata do uso para uma doença autoimune.
A avaliação médica é imprescindível já que nem todas as condições médicas são tratáveis com Cannabis. Já a dosagem correta de Cannabis é crucial para alcançar os efeitos terapêuticos desejados sem causar efeitos colaterais indesejados.
Outro ponto do tratamento com Cannabis é que ele pode exigir ajustes ao longo do tempo. Portanto, um médico pode acompanhar a resposta do paciente ao tratamento e fazer ajustes na dosagem, na combinação de compostos ativos (como THC e CBD) e na forma de administração conforme necessário.
Quais são os cannabinoides indicados?
“Depende de cada paciente, dos sintomas e quadro clínico geral. Normalmente um CBD fullspectrum, associado ou não a outros fitocanabinóides, como THC, CBG”, aponta a médica.
Como o CBD atua no sistema imunológico?
Um dos canabinoides mais conhecidos e estudados da Cannabis é o Canabidiol, comumente conhecido como CBD. Esta molécula da Cannabis é capaz de ajudar no alívio dos sintomas de doenças autoimunes devido à sua capacidade de modular funções imunológicas.
O CBD pode ajudar a reduzir a inflamação e a dor, através da interação com o sistema endocanabinoide no corpo
Essa interação é capaz de promover a redução das respostas inflamatórias do sistema imunológico, promover a apoptose e prevenir o rápido crescimento das células. Isso ajudaria o corpo a gerenciar o sistema imunológico hiperativo, evitando que ele ataque a si próprio.
E o sistema endocanabinoide é capaz de afetar a resposta imunológica. Também controla outras funções corporais, como sono, cognição e metabolismo.
Os endocanabinoides, como anandamida e 2-AG, atuam como neurotransmissores que ativam os receptores canabinoides CB1 e CB2.
A anandamida está diretamente relacionada aos receptores CB1, os quais atuam no sistema nervoso. Já o 2-AG e o CB2, por outro lado, estão associados ao alívio da dor e inflamação.
A interação desses pares cria o equilíbrio interno nas funções corporais, o que também é chamado de homeostase.
O que diz a ciência
De acordo com o estudo Endocannabinoid system in systemic lupus erythematosus: First evidence for a deranged 2-arachidonoylglycerol metabolism, a Cannabis poderia modular o sistema imunológico em pessoas com Lúpus Eritematoso Sistêmico.
Este estudo diz que níveis elevados de 2-AG são evidentes entre aqueles que têm a menor atividade da doença.
O estudo também sugere que a Cannabis pode servir como um imunomodulador para restaurar o equilíbrio em um sistema imunológico reativo, diminuindo os sintomas das respostas autoimunes.
Estudos que demonstram a eficácia dos canabinoides no tratamento
A ciência está cada vez mais focada em comprovar os mecanismos da Cannabis no tratamento de doenças autoimunes. Embora nada seja realmente conclusivo, estudos feitos até então revelam um cenário promissor.
Por exemplo, de acordo com o estudo Cannabinoid receptors as therapeutic targets for autoimmune diseases: where do we stand?, a Cannabis seria capaz de ajudar a modular o sistema imunológico e reduzir suas respostas reativas.
Este efeito ocorreria por conta do CB1 e CB2, que poderiam afetar a ativação de células T, células B, monócitos e células microgliais, inibindo a expressão de citocinas pró-inflamatórias.
Essa modulação poderia auxiliar no tratamento de doenças autoimunes, incluindo esclerose múltipla, diabetes mellitus tipo 1 e artrite reumatoide.
Uma revisão de 2010 Cannabinoids and the immune system: an overview reforçou esta hipótese.
De acordo com esta revisão, os canabinoides podem modular as reações imunes, influenciar o equilíbrio de células T e desempenhar um papel no equilíbrio entre neuroinflamação e neurodegeneração.
Apesar destes estudos mostrarem os potenciais benefícios da Cannabis nas doenças autoimunes, mais pesquisas precisam ser feitas para que possamos considerar a Cannabis como uma alternativa aos tratamentos tradicionais.
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