Todos os anos, cerca de 19 milhões de pessoas em todo o mundo são diagnosticadas com algum tipo de câncer, com mais de 9 milhões de mortes. Somente no Brasil, a estimativa é de 625 mil novos casos todos os anos, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer. Neste 4 de fevereiro, Dia Mundial do Câncer, entrevistamos o dr. Pedro Melo Filho, diretor técnico da clínica CBDoctors, para saber como a Cannabis medicinal pode ajudar no tratamento do câncer.
Sistema Gastrointestinal
O médico listou quatro benefícios possíveis da administração de fitocanabinoides em pacientes oncológicos. A começar pelo sistema gastrointestinal. “Quimioterapia e radioterapia afetam muito o corpo, gerando efeitos colaterais como enjoo, vômito, constipação, diarreia, dor abdominal”, explicou. “O sistema gastrointestinal tem muitos receptores do sistema endocanabinoide. O paciente que faz uso de pré-quimioterapia consegue ativar esse sistema, saturar esses receptores, e cria uma proteção.”
Os benefícios são comprovados também em sua experiência clínica. “Tenho pacientes que chegam a ganhar peso durante o tratamento oncológico. Conseguiu se alimentar bem e isso é o suporte que ele precisa para conseguir tratar, medicar, e viver sem ter mais problemas.”
Controle da dor
O tratamento com a Cannabis também ajuda o paciente com câncer a administrar a dor. “Tem um efeito analgésico e anti-inflamatório muito bons, tanto que são muito usados para dor crônica e fibromialgia”, afirma Melo Filho. “Dependendo do câncer, como pulmonar e hepático, dói muito. Nesses casos, o efeito é resolutivo. Usar uma dose maior pré-quimioterapia também atende na redução das dores.”
Saúde mental
Outro fator fundamental para a qualidade de vida e sucesso no combate ao câncer é o psicológico. Os sintomas desencadeados pelo câncer e pelo tratamento, além da possibilidade da morte, acabam por desencadear outros problemas, como ansiedade, insônia e depressão. Para esses, a Cannabis também pode contribuir.
“Eu gosto muito do termo saciedade psicológica”, conta o médico. “ Se o paciente está tendendo a uma depressão, ansiedade, vai estar regulado para evitar que saia do eixo e, assim, conseguir passar por essa fase da vida de modo que não atrapalhe o campo social. Que não tenha déficit em aspectos da vida.”
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Efeito antitumoral
Todos esses cuidados, no entanto, são paliativos. Mas, de acordo com Melo Filho, os benefícios não param por aí. “O quarto é o efeito antitumoral. Se fosse uns dois anos atrás, eu ia listar uma série de efeitos benéficos em relação ao tratamento, mas não te traria uma certeza sobre o efeito antitumoral.”
“Hoje, com estudo e pesquisa, posso te falar com uma confiança maior que a Cannabis tem um efeito anticancerígeno. Eu acredito que em um futuro próximo, a gente vai conseguir suprimir um câncer, um tumor, somente com o uso dos canabinóides.”
O médico explica que altas doses de THC atuam junto ao sistema endocanabinoide na regulação de um processo celular chamado apoptose. É uma espécie de morte programada das células. Nosso organismo, diante de alguma anormalidade, libera enzimas que matam a célula problemática. O mal funcionamento desse mecanismo faz com que células doentes, como as que crescem demais e viram tumores, não sejam eliminadas. Fitocanabinoides, principalmente o THC, fazem com que a apoptose volte a funcionar corretamente.
“Testes em laboratório, em hospitais oncológicos, que antes não eram permitidos, hoje tem uma abertura maior. Esse ano de 2021 vai ter uma explosão enorme de produção científica em relação a isso.”
Apesar da expectativa animadora, o dr. Pedro não recomenda que seus pacientes abandonem os tratamentos convencionais. “A quimioterapia, por mais danosa que seja, tem seus efeitos positivos em relação ao tratamento. Eu não posso bater de frente com algo que tem uma comprovação e um tempo de estudo maior. A ideia é fazer como associação, não um substituto.”