Desde 2023, celebramos aqui no Brasil em 19 de abril o Dia dos Povos Indígenas substituindo a nomenclatura anterior, Dia do Índio. Essa mudança aconteceu para evidenciar a diversidade de povos e de culturas dos povos originários do nosso país.
De acordo com o Censo 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são mais de 200 povos indígenas em território brasileiro. Portanto, os povos originários não são uma população homogênea e precisa ser vista com a complexidade que possuem.
Nesse Dia dos Povos Indígenas, para falar sobre a relação dessas pessoas com a Cannabis, precisamos considerar essa diversidade. Além disso, devemos respeitar que essa relação acontece a partir do contato desses povos com outros povos de outros continentes, como africanos escravizados e europeus colonizadores.
Assimilando uma nova planta
A planta que chamamos Cannabis tem origem do continente asiático, com algumas pesquisas indicando que a planta cresceu originalmente no lugar onde hoje fica o Tibete. De lá, nós da humanidade a levamos para o restante do mundo aproveitando sua versatilidade para ser matéria-prima para medicamentos, itens da vida diária e um sacramento.
Embora a América tenha uma enorme biodiversidade, não existia Cannabis por aqui até o contato com os europeus. A relação dos povos originários das Américas com as plantas é muito grande e por aqui domesticamos vegetais que também se espalharam pelo mundo, como o tabaco, a batata, o tomate e o cacau, só para mencionar alguns.
No entanto, o contato dos povos indígenas do Brasil com a Cannabis acontece em um momento histórico recheado de interações inéditas e violência. A princípio, os colonizadores portugueses desejavam estabelecer o cultivo de cânhamo na nova colônia com o objetivo de produzir as fibras tão importantes para a navegação. Porém, essa cultura não conseguiu prosperar.
Os primeiros contatos dos povos originários com a Cannabis vem através das pessoas trazidas da África pelo tráfico de escravizados. Essas pessoas trouxeram sementes de sua terra natal e introduziram a nova espécie aqui no Brasil.
A Cannabis e o povo Guajajara
A partir daí, diversos povos indígenas tiveram seu primeiro contato com a Cannabis. Alguns a rejeitaram e proíbem até hoje, como alguns que habitam a região do Xingu. Outras culturas indígenas ocultaram ou ainda ocultam o seu uso da Cannabis principalmente pela insegurança que isso pode trazer. Por outro lado, temos o exemplo de algumas culturas que assimilaram a nova espécie e até hoje a utilizam na sua farmacopeia.
O caso mais conhecido é dos Guajajara, povo que habita a parte oriental da Amazônia, no estado do Maranhão. O contato com a Cannabis veio a partir da interação com escravizados oriundos do continente africano por volta do século XVIII. Desde então, os Guajajara cultivam e utilizam a planta em preparos com outras ervas para tratar algumas condições de saúde.
Hoje em dia temos uma herdeira dessa cultura com projeção nacional, a Ministra dos Povos Indígenas Sonia Guajajara. Em 2018, a então candidata à presidência na chapa com Guilherme Boulos, se posicionou como favorável à regulamentação da Cannabis mencionando o uso tradicional pelos Guajajara.
"Para o povo Guajajara, a maconha não é uma droga. Ela faz parte da cultura, é uma erva medicinal utilizada para curar enfermidades. Usamos para fazer chá, que trata dor de estômago e tem efeito calmante. Então, da nossa parte, é natural a descriminalização.#BoulosESonia50 #Psol pic.twitter.com/DvKCuLDrGm
— Sonia Guajajara (@GuajajaraSonia) September 9, 2018
“Para o povo Guajajara, a maconha não é uma droga. Ela faz parte da cultura, é uma erva medicinal utilizada para curar enfermidades. Usamos para fazer chá, que trata dor de estômago e tem efeito calmante. Então, da nossa parte, é natural a descriminalização.” Disse a atual ministra.
Aílton Krenak e a entidade da Cannabis
Outra figura brasileira de destaque ligada aos povos indígenas e que defende a Cannabis é o escritor e filósofo Aílton Krenak. Ele, que é o primeiro indígena a ser eleito imortal da Academia Brasileira de Letras, foi uma das principais falas no III Seminário Internacional Cannabis Amanhã, em 2022.
Dividindo o microfone com o neurocientista Sidarta Ribeiro, ele esclareceu que a cosmovisão dos povos originários do Brasil propõe uma outra relação com a natureza, incluindo a Cannabis.
Você pode ver a mesa completa no vídeo abaixo e separamos alguns trechos da fala do imortal da ABL, Aílton Krenak.
“Essa planta que está provocando o nosso encontro aqui hoje, tem uma entidade assim como todas as plantas têm a sua entidade. Esse maracá, esse chocalho, tem um desenho que é uma matriz gráfica de um povo da floresta amazônica chamado Shipibo. Os shipibo tratam cada planta com a sua entidade. E eu pensei, junto com o Sidarta, que a gente, hoje, iria evocar a entidade da Cannabis.
Então a gente pode saudar essa planta como uma entidade não-humana, mas que nós acolhemos com reverência, com respeito e sabendo que para algumas pessoas ela é a única maneira de passar a vida sem tanta dor, sem tanto desconforto. Que é quando ela tem o uso curativo, medicinal.
Para muitas pessoas, ela é também a via de acesso para uma transcendência a um contato com outra experiência, com outros portais, com outros estados de consciência. Você não precisa estar enfermo para fazer um chá, para fazer qualquer remédio com essa planta. Você pode simplesmente estar em ótima situação querendo experimentar outras visões do mundo.”
Cannabis, maconha ou dirijo?
Também cabe destacar nesse Dia dos Povos Indígenas o documentário brasileiro “Dirijo”, de 2009. O filme mostra a relação entre as pessoas mais velhas do povo Mura com a Cannabis, que eles conheciam por outros nomes como dirijo, dega ou liamba.
O curta-metragem está disponível no YouTube e você pode assistir abaixo.
Uso medicinal da Cannabis hoje em dia
Se hoje os avanços científicos mostram que a Cannabis pode ser uma ferramenta terapêutica para dezenas de condições de saúde, aliando essa expertise com o conhecimento tradicional dos povos originários, passado de geração em geração por séculos, temos um potencial gigantesco no Brasil.
A flora brasileira é uma das mais biodiversas do planeta, além de contar com milhares de espécies que ocorrem exclusivamente por aqui. Assim, podem surgir combinações únicas que podem ampliar o número de condições de saúde que podemos tratar com produtos naturais e que provoquem menos efeitos colaterais nos pacientes.
Para começar um tratamento para a saúde com Cannabis, é necessário ter o acompanhamento de um profissional da saúde. Pelas leis brasileiras, é fundamental que um médico ou dentista acompanhe o paciente e recomende a dose e produto mais adequados.
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