CannaDouro reúne cerca de 5 mil visitantes em um dos maiores eventos da cultura canábica europeia
Balas, cervejas, algodão doce, waffles, gin, vinhos, lubrificantes íntimos, farinha de proteína, chás, roupas, casas e prédios, energéticos, lubrificantes íntimos e até preservativos. Já imaginou desenvolver todos esses produtos com o cânhamo, uma subespécie da Cannabis sem efeitos psicotrópicos? Produtos como esses aqui no Brasil ainda não são permitidos pela legislação (muito embora a maioria não contenha canabinoides), mas em Portugal esse universo de possibilidades já pode ser encontrado em qualquer esquina e a 5ª edição da Feira Internacional de Cânhamo de Portugal foi uma prova de que esse mercado na Europa é latente e está em franca expansão.
Nos dias 19 e 20 de novembro a cidade de Porto recebeu um dos maiores eventos da cultura canábica da Europa na antiga Alfândega do Porto, um edifício histórico do século XIX, às margens do Rio Douro. Nos dois dias de evento, cerca de cinco mil visitantes puderam visitar mais de 60 stands que reuniram as principais novidades do cenário, além de trocar experiências e promover network. O Portal Cannabis & Saúde fez a cobertura completa e exclusiva (confira todos os vídeos).
Desde a 1ª edição em 2017, a CannaDouro se consolida como um dos principais espaços de exposição, debate e comércio de produtos à base de Cannabis europeus, recebendo visitantes de toda a faixa atlântica da Península Ibérica, assim como de diversos outros países. “Foram dois dias de intensa troca de experiências. Várias associações e movimentos de ativistas disponibilizaram informações aos visitantes para tentam inverter os efeitos nefastos do proibicionismo. Entre os temas: redução de riscos e a defesa dos direitos dos pacientes de Cannabis medicinal, que continuam com dificuldade de acessar às terapias que necessitam. Na zona cultural, tivemos muitas instalações artísticas e exposições fotográficas que giraram em torno da Cannabis”, detalha João Carvalho, Diretor do evento.
A farmacêutica brasileira, Adriana Ribeiro, foi uma das palestrantes do evento no painel ‘Movimento das mães pela Cannabis em Portugal’, que pede o reconhecimento do direito humano de cultivar a planta como forma de acesso. “Nós precisamos aqui distinguir a diferença de quando é necessário a parte preventiva para manter a homeostasia no geral do corpo e, ao mesmo tempo, a parte medicinal que seja complemento. Ou seja, nunca podemos dizer que a pessoa não pode fazer algo preventivo, quando na realidade vai complementar o tratamento medicinal. Nós temos que trabalhar em conjunto, ou seja, tanto com a parte do cânhamo, que já tem licença, e agora tentarmos um aporte maior para as pessoas que precisam da Cannabis medicinal”, defende a brasileira.
Regulamentação em Portugal
Em Portugal, apesar de o consumo de drogas ter sido descriminalizado desde 2001 (até 5g de haxixe e 25g de flores), o cultivo individual ou por meio de associações para fins medicinais não é permitido. No país, a judicialização do cultivo ainda não funciona como no Brasil e o instrumento do habeas corpus preventivo naquele país não funciona como aqui. O THC também é marginalizado. Muito embora existam pesquisas acadêmicas que demonstram a eficácia medicamentosa dessa molécula para inúmeras patologias, em Portugal os dispensários só podem comercializar flores com até 0,2% de tetrahidrocanabinol e para colecionadores. “Já existem flores com THC que podem ser compradas nas farmácias com prescrição médica, mas isso acontece muito pouco. A grande maioria dos pacientes acaba tendo que recorrer ao mercado ilícito como em outros países do mundo”, explica Laura Ramos fundadora da CannaReporter. De acordo com a jornalista, poucos médicos são prescritores da Cannabis medicinal em Portugal onde ainda falta informação e o estigma é grande.
“Há uma polêmica sobre a regulamentação do cânhamo industrial e o que são as flores de CBD. A situação aqui em Portugal e no resto da Europa ainda não é muito clara. Por isso, precisamos trazer mais informações para as pessoas. Nos dispensários, as flores de CBD são vendidas para colecionadores. É um mecanismo de contornar a lei. Uma saída para que se possa vender. Acho importante que haja uma uniformização de regulamentações na Europa. Quem sabe possamos seguir a tendência da Alemanha – que está para legalizar o uso adulto – e assim facilitar o acesso aos doentes”, questiona Laura Ramos.
A brasileira influenciadora digital e budtender, Carol Binoide, que mora em Portugal há 3 anos, explica que apesar de o país permitir a venda de produtos de cânhamo como alimentos feitos com a farinha ou o óleo da semente, nenhum comestível pode conter canabinoides. “Apenas os óleos da semente. Já os cosméticos estão em uma zona cinzenta, alguns agentes dizem que não pode conter CBD, outros dizem que pode. E a lei muda com frequência. Entretanto, conseguimos achar no mercado cosméticos tanto com CBD como sem, ou seja, apenas com o óleo da semente. Também temos vapes e e-líquids com CBD para vaporização. Já as sementes para cultivo são vendidas como itens colecionáveis. Os óleos e as cápsulas são vendidos como suplemento alimentar, o que distância a sociedade do conhecimento sobre o potencial terapêutico e também desvia o foco das devidas fiscalizações”, explica.
Entre os destaques da feira, está o sistema de automação que cuida de todo o processo de cultivo à distância e o uso da fibra da Cannabis na construção civil. O arquiteto português Francisco Fonseca, que trabalha há 20 anos com materiais cultivável em obras, diz que é possível utilizar o cânhamo para produzir painéis, tijolos e móveis de pré-fabricação a preços bem mais em conta do que os materiais tradicionais usados na construção civil. De acordo com o arquiteto, o cânhamo proporciona ainda qualidade acústica e térmica bem superior aos tijolos e revela também que o carvão ativado do cânhamo pode ajudar a purificador o ambiente. “O cânhamo é um material extraordinário que não degrada o meio ambiente e ainda promove a captura de gás carbônico. É uma planta completa e ecologicamente correta”, diz Fonseca.
Dos produtos expostos na feira, os que mais chamaram a atenção foram as roupas de cânhamo tingidas com a casca da cebola e o lubrificante íntimo que atua como um vibrador. “Esses produtos foram desenvolvidos para dar mais prazer na vida sexual das pessoas. São 100% veganos e naturais, desenvolvidos apenas com o óleo da semente. Não possuem CBD e nem THC e o prazer é garantido”, explica a Marcia Martins, funcionária da Holy Mary. De acordo com um estudo promovido pela Universidade de São Paulo (USP) 55,6% das mulheres brasileiras não conseguem chegar ao clímax durante ato sexual. Ou seja, mais um mercado que pode avançar no Brasil com prescrição médica.
Destaques:
A loja da Maria
Reúne os mais diversos produtos que vão desde suplementos necessários à fertilização do cultivo até as máquinas de extração. Ventoinhas, umidificadores. Parte recreativa, spacecake, brownies, cervejas, vinhos, icetea, bebidas energéticas e crepes. Todos os produtos com até 0,2% de THC.
CannaBeer
Cerveja fabricada com a semente do cânhamo incorporada ao malte. Fabricada em Valência na Espanha. Não contém canabinoides. Tostada (7,5% teor alcoólico), ruiva (6% teor alcoólico) e puro malte (5% teor alcoólico).
Open Grow
Sistema de automação agrícola modular que controla a temperatura, a umidade, a irrigação e o controle do solo. O sistema permite o controle do cultivo à distância.
Hemp Eco Systems Portugal
Empresa que utiliza o cânhamo na construção civil exclusivamente naturais. Une a parte industrial à artesanal. Hemp, água, cal e um aditivo mineral. Parede, acabamento e pavimento. É possível fazer a casa exclusivamente com cânhamo. Obra limpa, Todos os materiais biodegradáveis.
CannaReporter
Leitores em mais de 170 países. Tradução automática para oito línguas. Informação fidedigna sobre a Cannabis.
Holy Mary
Lubrificantes íntimos desenvolvidos com as sementes de cânhamo.
Cannashock
Balas, pirulitos, biscoitos, algodão doce, waffles e jujubas desenvolvidas com as sementes do cânhamo.
Grow the jungle
Placas de luzes com diferentes espectros utilizadas no cultivo indoor
O benefício
Gin desenvolvido com os terpenos da Cannabis e o óleo da semente
Zerum neutralize
Produto que neutraliza odores
Sensihemp
Roupas produzidas a partir da fibra da Cannabis com um processo de tingimento inovador a partir das cascas de vegetais.