“Senti que havia uma necessidade muito maior do que apenas palestras e cursos de curta duração. A demanda veio dos profissionais. Eles diziam que não se sentiam seguros porque não tiveram formação na academia. E era preciso ofertar em uma universidade pública”, conta Katy Lísias, coordenadora do projeto.
A relação de Katy Lísias Gondim Dias de Albuquerque com a Cannabis medicinal começa em dezembro de 2015. Naquela época, uma de suas sobrinhas sofria com constantes crises convulsivas por conta de um problema neurológico que a acompanhava desde o nascimento.
Nenhum remédio dava conta de reduzir os episódios. Farmacologista formada pela Federal da Paraíba (UFBP), com doutorado em Farmacologia de Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos, ela sentia que poderia fazer mais pela criança. Partiu atrás de outros remédios e encontrou os óleos de Cannabis. Foi como tirar com a mão: em 24 horas, as convulsões caíram pela metade.
A história teve um final triste, com o falecimento da sobrinha, em 2016. Mas Katy queria criar condições para propagar os benefícios do uso medicinal da planta.
“A gente ficou muito feliz, na época, com os resultados. E pensei: assim como isso ajuda minha sobrinha, preciso criar um projeto de pesquisa para ajudar outras crianças que também precisam”, explicou ao portal Cannabis & Saúde.
“Um dos principais argumentos contrários ao uso desses remédios é que ainda não existe pesquisa suficiente. Então comecei a estudar para deixar os médicos mais seguros e aumentar as prescrições”, contou.
Desde então, ela promove palestras e cursos rápidos para divulgar o uso medicinal da Cannabis à sociedade. Só que tudo que fazia ainda parecia pouco.
“Senti dentro do projeto que havia uma necessidade muito maior do que apenas palestras e cursos de curta duração. A demanda veio dos profissionais. Eles diziam que não se sentiam seguros porque não tiveram formação na academia. E era preciso ofertar em uma universidade pública”, conta.
Foi assim que surgiu, em outubro do no ano passado, a disciplina optativa “Sistema Endocanabinoide, perspectivas terapêuticas da Cannabis sativa e seus derivados”, na Universidade Federal da Paraíba, onde Katy dá aulas.
No currículo, a professora reuniu o contexto histórico e farmacológico da planta e seus derivados, e a ação do sistema endocanabinoide nas mais diferentes doenças, e aspectos regulatórios. Um apanhado geral de conhecimentos sobre Cannabis.
E tem sido bem recebida entre os estudantes de saúde da UFPB. No primeiro semestre, que acaba em abril deste ano, 59 alunos se inscreveram da disciplina. A ideia inicial era abrir para os cursos de Farmácia, Biomedicina e Medicina.
Só que aí surgiram estudantes de outras graduações: odontogolgia, enfermagem, terapia ocupacional, ciências biológicas e psicologias.
“A gente ficou muito feliz. Teve uma abrangência enorme, muito além do esperado”, comemora a professora.
Não à toa, a disciplina seguirá nos próximos semestre, à espera de novos estudantes.