Cannabis é utilizada como medicamento há milênios
Historicamente, a planta Cannabis é utilizada como medicamento há milênios. Existem relatos de seu uso há mais de 4000 anos para controle de convulsões, dores crônicas, depressão e outras doenças crônicas de diferentes órgãos. Até inicio da década de 1940 ela fazia parte da farmacopeia internacional, inclusive no Brasil. Com a proibição do uso da planta por sua utilização com fins recreativos, pelo Departamento de Narcóticos dos Estados Unidos em 1937, ela foi taxada como substância extremamente perigosa e viciante, deixando de ser utilizada como medicamento internacionalmente a partir de 1941. Poucas pesquisas foram sendo realizadas a partir de então até que ela ressurge na década de 1950 como agente antibacteriano.
Sistema endicanabinoide e as comprovações científicas da Cannabis para uso médico
Nos anos 90, os estudos levaram gradativamente ao conhecimento dos componentes do Sistema Endocanabinoide presente em nosso organismo. Apesar das dificuldades, as pesquisas foram se intensificando, e os mecanismos pelos quais a planta atua em nosso sistema endocanabinoide passaram a ser esclarecidos fazendo com que ela começasse a ser mais utilizada. Recente revisão européia dos resultados de ensaios clínicos controlados, indicam que os canabinoides, substâncias presentes na planta cannabis e que interagem com nosso sistema endocanabinoide, agem como medicação coadjuvante importante em diferentes patologias crônicas que não respondem bem a maioria dos tratamentos convencionais.
Entre estas indicações, estão uso como:
- antieméticos nos pacientes em quimioterapia;
- na dor crônica de difícil controle principalmente dores por disfunção do sistema nervoso;
- na espasticidade da esclerose múltipla;
- no controle da dor,
- melhora do apetite
- diminuição de ansiedade
- melhora do sono em pacientes em cuidados paliativos;
- na epilepsia na infância refratária a tratamento.
O relatório das Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina dos Estados Unidos de 2017 faz uma revisão rigorosa da pesquisa científica publicada desde 1999 sobre o que se sabe em relação aos impactos da Cannabis na saúde, e produtos derivados da cannabis e canabinoides, desde seus efeitos terapêuticos até os riscos de seu uso recreativo. O comitê que realizou o estudo e redigiu o relatório considerou mais de 10.000 resumos científicos para chegar às suas quase 100 conclusões.
Usos terapêuticos da Cannabis
Em relação aos usos terapêuticos da Cannabis e dos canabinoides, os experts concluíram que pacientes adultos portadores de dor crônica experimentavam uma redução significativa nos sintomas de dor. Para adultos com espasmos musculares relacionados à esclerose múltipla, havia evidências substanciais de que o uso de canabinoides orais melhoravam os sintomas relatados.
Além disso, em adultos com náuseas e vômitos induzidos por quimioterapia, havia evidências conclusivas de que certos canabinoides orais eram eficazes na prevenção e tratamento dessas doenças.
No ano seguinte, estudos acrescentaram a eficácia dos canabinoides como medicação coadjuvante no tratamento da epilepsia refratária da infância.
Indicações da Agência Israelense de Cannabis Medicinal
Outra informação importante vem da Agência Israelense de Cannabis Medicinal, que através de critérios detalhados, especificou uma lista de indicações da Cannabis de uso médico que inclui novamente as náuseas e vômitos no tratamento quimioterápico, dor oncológica, dor crônica, doença de Crohn, colite ulcerativa, caquexia aidética, esclerose múltipla, doença de Parkinson, Síndrome de Tourette, epilepsia tanto no adulto como na infância, Transtorno do Estresse Pós Traumático, pacientes em cuidados paliativos, e incluíram também, em janeiro deste ano, o autismo.
Em documento recém publicado por psiquiatras da Associação Médica Panamericana de Medicina Canabinoide, inúmeros trabalhos científicos foram citados comprovando a eficácia em doenças de saúde mental.
Porém, sem dúvida se faz necessário expandir e melhorar a qualidade das pesquisas com Cannabis, aprimorar os esforços na coleta de dados para apoiar o avanço da pesquisa e abordar as atuais barreiras à pesquisa nesta área.