A Receita Federal no Paraná informou na semana passada que apreendeu um entorpecente até então desconhecido da comunidade científica. A droga estava em uma correspondência enviada dos Países Baixos para os Correios de Pinhais. Segundo a Universidade Federal do Paraná, trata-se de uma Cannabis sintética. Cientistas da UFPR decobriram que o produto teve as moléculas modificadas em laboratório para dificultar a identificação, tanto por cães farejadores, como em testes de laboratório.
A apreensão ocorreu em 18 de agosto deste ano e foi informada pela Receita na semana passada. O órgão informou à Folha de SP que a alteração da droga não impediu que dois cachorros identificassem a presença de maconha na embalagem. Antes, a correspondência já havia sido identificado como suspeito pelo scanner do Centro Internacional dos Correios, em Pinhais. Os animais foram necessários para reforçar a necessidade de abrir o material.
O local recebe todas as encomendas de pequeno porte vindas do exterior ao Brasil, que são posteriormente encaminhadas para seus destinatários a todos os estados.
No caso dos cinco pacotes onde estava a nova maconha sintética, acrescentou a Receita Federal, eles seriam despachados para São Paulo. Ao todo, foi apreendido 1,2 kg da droga, que está sob a responsabilidade da Polícia Federal.
No dia seguinte à apreensão, amostras foram encaminhadas para o Centro de Ciências Forenses do Departamento de Química da UFPR para serem analisadas.
Segundo o professor Andersson Barison, coordenador do Laboratório Multiusuário de Ressonância Magnética Nuclear da UFPR, ele e sua equipe constataram, após um dia inteiro de análises, que o entorpecente não havia sido registrada na literatura científica mundial.
“O que é chamada de maconha sintética não tem origem na planta. O canabinoide sintético é feito em laboratório e simula os efeitos (da Cannabis natural). O que esse canabinoide que identificamos tem de inédito é uma pequena modificação na molécula. Para enganar a legislação, fazem modificações na molécula, diferente das descritas pela Anvisa, tornando difícil para as agências identificarem a substância como uma ilegal”, explicou à Folha.
O cientista disse ainda que os canabinoides sintéticos são uma classe de substância, com funções químicas características em algumas moléculas.
“Eles contam com um núcleo básico semelhante. O que fizeram foram pequenas modificações nesse núcleo básico da molécula. Como um exemplo, eles trocaram nitrogênio por cloro”.
A UFPR começou neste ano uma parceria com a Receita Federal, realizando análise não só de drogas, mas também de medicamentos e outros produtos, para verificar se são feitos de forma autorizada no Brasil.
Além das análises, a parceria também ajuda para a atualização de cães farejadores, que agora serão treinados para encontrar com maior facilidade a nova droga, em eventuais postagens futuras vindas do exterior.
“A perspectiva é de que a parceria traga bons frutos tanto para Receita Federal, que poderá aperfeiçoar a detecção de substâncias ilícitas em remessas internacionais e impedir o tráfico de drogas internacional, quanto para a UFPR que poderá proporcionar aos estudantes de graduação e de pós-graduação acesso a uma variedade maior de matérias-primas para realização de análises”, diz trecho de nota da Receita Federal.