Ciências e organizações da sociedade civil dividiram o palco no terceiro e último dia da 1ª Conferência Internacional de Cannabis Medicinal (CICMED). O evento, que começou na última quinta-feira (11) com um curso pré-conferência, seguiu até sábado (13) com alguns dos principais especialistas do Brasil e do Mundo sobre a Cannabis medicinal e o sistema endocanabinoide.
(Acompanhe a cobertura do portal Cannabis & Saúde do curso pré-conferência e das palestras que aconteceram na sexta-feira.)
O conhecimento científico dominou grande parte da programação do sábado, com destaque especial para os detalhes do funcionamento do sistema endocanabinoide e como seu funcionamento está relacionado com diversas patologias, do câncer à obesidade.
Uma avalanche de estudos e evidências publicadas em periódicos científicos renomados que demonstram como a Cannabis medicinal interage com organismo dos pacientes para controlar ou eliminar sintomas e melhorar a qualidade de vida.
O experiente médico norte-americano David Bearman foi um dos convidados. Em sua segunda participação no CICMED, falou sobre o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).
“Cannabis desacelera e diminui impulsos sensoriais internos e externos via inibição sináptica. Isso permite aos pacientes com TDAH um processo melhor e mais completo de informação atingindo as áreas corticais superiores do cérebro”, disse.
“O sistema límbico tem um monte de anormalidades e algumas dessas anormalidades podem ser corrigidas, tratadas ou desaceleradas pela Cannabis.”
Compaixão no CICMED
Flávio Alves, neuropediatra e diretor científico da Associação Pan-Americana de Medicina Canabinoide, falou sobre o uso em pacientes com encefalopatia crônica não evolutiva, mais conhecida como paralisia cerebral, uma doença crônica que, embora grave, não piora ao longo do tempo.
“Um grupo de distúrbios permanentes do desenvolvimento do movimento, da postura, que vai causar limitação de atividade. Em uma grande maioria dos casos estão associados com deficiência intelectual e inúmeras outras comorbidades.”
“Quando você fala de um paciente com paralisia, é impossível não pensar na família. O uso compassivo quer dizer o uso com compaixão. O uso com sensibilidade, onde você vai tentar combater o mau. É o uso que você vai fazer para tentar diminuir o sofrimento desse paciente e das famílias.”
“Podemos concluir que nós temos uma melhora de vida desses pacientes, O uso compassivo é o que leva a nós médicos a entender esse paciente e tentar melhorar a qualidade de vida da família, amiguinhos da escola, professores, todo mundo.”
Cannabis e o peso
O sistema endocanabinoide também foi o assunto principal na palestra da médica nutróloga Paula Vinha, coordenadora do evento, sobre obesidade, diabetes e perda de peso. “É um sistema neuromodulatório lipídico e com isso ele é interferido pela quantidade de lipídios que a gente ingere. Vai depender do que a gente come para ter uma boa atuação.”
“A dieta ocidental é altamente inflamatória. Todo mundo consome muito mais gordura saturada. Hoje em dia, as pessoas consomem 20 partes de ômega 6 e uma de ômega 3 e a relação indicada pela Organização Mundial da Saúde é de cinco para um. São quatro vezes menos e a gente sabe que o ômega 6 é inflamatório.”
“A recomendação é reduzir o consumo de óleo vegetal e frituras e aumentar o consumo de alimentos não processados, como grãos, frutas, verduras e legumes.”
No caso da obesidade, o sistema endocanabinoide não está funcionando corretamente e é quando a Cannabis medicinal pode ajudar na modulação e obter benefícios clínicos.
“A Cannabis medicinal melhora os parâmetros inflamatórios; a ingestão calórica; níveis glicêmicos, de insulina e lipidograma; hormônios intestinais, fazendo essa regulação do mecanismo da saciedade e da fome; o paciente fica mais calmo, reduz o cortisol e melhora o sono. O paciente fica mais calmo e com isso a gente tem uma melhora nos parâmetros inflamatórios e metabólicos.”
Organizações sociais no CICMED
O palco da 1ª CICMED abriu espaço para organizações da sociedade civil e algumas pessoas fundamentais na história, ainda em curso, do acesso ao medicamento extraído a partir da planta da Cannabis Sativa.
“É importante que os movimentos sociais estejam aqui presentes porque eu acho que a gente nunca pode esquecer do propósito quando a gente fala de Cannabis”, afirmou Margarete Brito, líder executiva da APEPI (Apoio a Pesquisa e Pacientes de Cannabis), que destacou as quase 4 mil vidas impactadas ao longo dos dez anos de fundação.
“Eu convido todo mundo, inclusive da indústria que está presente, a caminhar com esse tema, mas sempre é com propósito.”
“Tem muita gente sofrendo hoje em dia por conta de patologias que não tem respostas científicas e os pacientes ficam à deriva e, por levar a ideia de uma possibilidade de saúde, que primeiro eu agradeço vocês”, disse Filipe Suzin, da Associação Curando Ivo, se referindo aos médicos da plateia.
“Eu agradeço vocês por estarem aqui buscando conhecimento que é muito importante para nós, pacientes. A gente precisa de vocês. Sem vocês a gente não teria acesso ao tratamento, por toda essa hipocrisia.”
O encerramento do evento ainda contou com homenagens a dois ícones na luta pelo acesso ao tratamento com Cannabis medicinal recentemente falecidos: o padre Ticão e o pesquisador Elisaldo Carlini.
Cannabis & Saúde no CICMED
Durante o evento, diversos médicos e especialistas passaram pelo estande do portal Cannabis & Saúde no evento. Você pode conferir todas as entrevistas clicando AQUI.