A 1ª Conferência Internacional de Cannabis Medicinal realizou nesta quinta-feira (11) o curso pré-conferência: Endocanabinologia e Cannabis medicinal da prática clínica. A atividade foi pensada para garantir que todos os profissionais da saúde presentes no evento, independente do nível de conhecimento em relação ao sistema endocanabinoide, pudessem acompanhar e tirar o máximo proveito do conteúdo apresentado nas palestras da conferência, nos dias 12 e 13 de agosto.
“Os médicos estão saindo com uma base boa daqui”, afirmou a médica nutróloga Paula Vinha, principal coordenadora científica do evento. “Quando eu fiz a abertura do evento, eu avisei aos médicos que nosso objetivo com esse curso não é criar especialistas. A gente quer que ele saiba que todo mundo tem um sistema endocanabinoide e a Cannabis medicinal é uma ferramenta que deve ser entendida para poder ser utilizada.”
“É óbvio que a segurança na prescrição vem com a prática, mas só da gente poder transmitir as particularidades da planta, falar do sistema endocanabinoide e mostrar a aplicabilidade da Cannabis medicinal com evidências científicas, eu fico muito feliz”, continuou Vinha. “O conteúdo foi pesado, com uma carga horária extensa, mas o pessoal não está reclamando.”
O curso pré-conferência
O conteúdo pré-transferência foi dividido em duas partes. Na primeira metade desta quinta-feira, a programação foi voltada para o contexto que envolve a Cannabis medicinal e o sistema endocanabinoide. A começar pela história do uso medicinal da planta, que já é utilizada pela humanidade há, pelo menos, 10.000 anos.
“O que é droga? Eu vendo drogas há mais de 20 anos. Drogas lícitas, mas são drogas. Toda substância que altera o funcionamento do organismo é uma. O cafezinho é uma droga”, afirmou Vivian Dalla Colletta, farmacêutica, bioquímica e membro do comitê científico do CICMED.
“A demonização da Cannabis foi feito com diversos objetivos, mas nunca pensando na saúde das pessoas. Não tenham medo de prescrever Cannabis. O que mata são as drogas da drogaria. Não existe um único registro de morte por Cannabis em milênios de uso.”
De acordo com Gabriel Barbosa, biotecnólogo e membro do comitê científico do CICMED, os fitocanabinoides se conectam a receptores específicos que compõe o sistema endocanabinoide espalhado por todo o corpo que são ativados de acordo com a demanda do organismo.
“Os receptores estão presentes no sistema cardiorrespiratório, mas em quantidade muito pequena. A hipótese é que, por isso, a Cannabis não provoca overdose.”
Segundo a médica pediatra Camila Milagres, há que se tomar um cuidado extra com os canabinoides sintéticos, já que provocam efeitos adversos (com pelo menos um registro de óbito) mais intensos que dos fitocanabinoides extraídos da planta. Por outro lado, há formas não farmacológicas de modular o sistema endocanabinoide.
“O sistema endocanabinoide é um sistema amplo, com uma grande variedade de funções no corpo. Diversos alimentos são capazes de modular o sistema endocanabinoide, assim como os exercícios físicos.”
O uso dos canabinoides extraídos da planta entram quando há alguma disfunção no funcionamento desse sistema. A resposta do paciente, no entanto, varia de acordo com o organismo. “Se o organismo tem um metabolismo mais rápido, demanda doses maiores. Testes farmacogenéticos ajudam a mensurar, mas é importante que tratemos o paciente e não o exame ou o diagnóstico”, disse Milagres.
A consultora técnica/científica e Perita Judicial em Cannabis Medicina, Ana Gabriela Baptista listou algumas das aplicações clínicas da Cannabis, além de apresentar evidências científicas que demonstrem eficácia. Ansiedade, TDAH, Alzheimer, Parkinson, dor crônica, autismo e epilepsia estão entre as patologias cujos benefícios da Cannabis são sentidos pelos pacientes.
Na segunda metade do dia, o foco do curso pré-conferência foi a parte prática da prescrição. Dos aspectos legais que envolvem a Cannabis medicinal aos tipos de produtos disponíveis no mercado nacional e em outros países, além da abordagem de prescrição de acordo com a patologia dos pacientes.
Para encerrar o dia, os médicos palestrantes apresentaram casos clínicos de pacientes com diversas condições específicas, como na pediatria, casos cirúrgicos, na medicina esportiva, TEA, insônia, cuidados paliativos e oncológicos; perda de peso e caquexia; e dor crônica.
A conferência internacional
Este é só o começo. “Estou muito orgulhosa desse evento. Está acontecendo depois de três anos da gente trabalhando nele. O interesse no curso pré-conferência foi muito maior do que eu imaginava. A gente tem 100 inscritos hoje e teve mais procura por vagas que a gente pode atender”, garante Vinha.
“Nos próximos dias, a gente espera um público de pelo menos 500 pessoas para a gente fazer atualização científica de Cannabis medicinal, que é o que precisa para combater a desinformação”, prosseguiu.
“Vão ser painéis de médicos renomados, cientistas renomados. A gente vai ter o lançamento do Tratado de Cannabis medicinal, o lançamento da Associação Pan-Americana de Medicina Canabinoide. Vamos ter um lançamento de pesquisas que estão fazendo aqui no Brasil e vão falar no evento. Estou muito orgulhosa.”
Felipe Leão, médico generalista prescritor de Cannabis medicinal, o conteúdo do curso foi útil para revisar o conhecimento sobre o tema. “Nitidamente, todo mundo que está aqui é extremamente bem capacitado. Claro que o tempo é curto, então até agora a gente não conseguiu aprofundar tanto, mas foram aulas com muita qualidade. Com pesquisa científica, evidências, casos clínicos, todos tópicos necessários para a gente ter uma discussão sobre o tema.”
Para aprofundar nas discussões, Leão espera pelos próximos dias, quando a conferência acontece de fato. “Para mim, vai ser muito importante as questões sobre a prática clínica. Principalmente as atrações internacionais, trazendo pesquisas de ponta e novidades para poder refinar meu conhecimento e continuar trabalhando com essa grande ferramenta terapêutica.”
A 1ª Conferência Internacional de Cannabis medicinal segue até sábado (12 e 13) no complexo de hotéis Grand Mercure e Pullman Vila Olímpia. O evento busca ser um marco para a história da medicina ao reunir especialistas e estudiosos sobre Cannabis medicinal e sistema endocanabinoide.
Cannabis & Saúde marca presença
Além da cobertura integral da 1ª CICMED, o portal Cannabis & Saúde é parte integrante do evento.
Um dos patrocinadores do evento, que acontece de forma independente e livre de vieses econômico, contaremos com um estande próprio no qual receberemos alguns dos principais especialistas em Cannabis medicinal que marcam presença no CICMED para entrevistas exclusivas.
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