Em cada congresso internacional, Celso Sanseverino encontrava palestrantes falando das vantagens da Cannabis medicinal. O cirurgião-dentista paulista se especializou em dores na região orofacial, incluindo casos de dor muscular e do nervo trigêmeo.
A aproximação com a Cannabis começou em 2005, quando procurava produtos alternativos e mais naturais para tratar da dor. Ficou entusiasmado com os avanços na Califórnia e no Colorado a partir de 2010, analisando com interesse os relatos de melhora de pacientes americanos e em outros países, como Canadá e Israel. A partir daí ficou ansioso com a possibilidade de prescrever para seus pacientes.
Dores faciais
Os casos de dores faciais crônicas são complexos e difíceis de entender. A dor pode ser causada pelo apertamento dental, erroneamente confundido com o bruxismo. “Quem aperta os dentes tem contração forte mas não relaxa”, diz. O aperto constante cansa o músculo por ser uma utilização não usual, que causa dor e fadiga. As dores descem do pescoço e da base posterior da cabeça. “Quanto mais dói, mais o paciente fica irritado, fica mais tenso e aperta mais”.
Sanseverino fala da ansiedade nesse processo, que vem com a produção de adrenalina, viciante como qualquer droga. Vendo seus pacientes estressados e ansiosos, queria quebrar esse ciclo e a resposta foi a Cannabis. Sanseverino explica que o CBD consegue diminuir a ansiedade e a dor, interrompendo o desejo inconsciente de mais adrenalina.
Reabilitação oral
A decisão de prescrever Cannabis medicinal trouxe ao dentista pacientes com dor orofacial referenciados por outros médicos, com quem tem muito contato em decorrência de seu mestrado e doutorado na Unicamp. Sanseverino percebeu que as pessoas vinham polimedicadas: dois ou três tipos diferentes de tarja preta para dor e ansiedade.
“Estavam sendo drogados, com muitos efeitos colaterais, deprimidos, desanimados, com baixa autoestima e péssimo relacionamento social e familiar”, conta. Sua conclusão era de que os pacientes estavam “pagando” o desenvolvimento da medicina com a própria saúde. Decidiu que queria tratar seus pacientes de outra forma.
Sanseverino diz que prefere usar várias especialidades num paciente, sempre pensando na reabilitação oral. “A primeira coisa é orientar”, que para ele significa a obrigação de fazer um bom diagnóstico e explicar o que o paciente precisa fazer para melhorar. “Quando ele entende, muda tudo. Não adianta fazer a prescrição se o paciente continua fazendo o que o levou ao problema” e arremata: “Ações conjuntas trazem o resultado, não é só tomar a Cannabis que vai sarar”.
Ele também percebe que muitos de seus pacientes não estão mais habituados ao estresse de uma cirurgia. São cada vez mais pessoas que nunca tiveram que fazer uma obturação, mas sentem a necessidade de passar por algum procedimento. Lembrando que estar na cadeira do dentista nunca soa confortável, o dentista sugere dar a eles algumas gotas de CBD para diminuir o estresse.
Pesquisas promissoras
Hoje, ele só pode prescrever para aqueles que têm muita dor: fibromialgia, contraturas musculares faciais, pós-cirúrgico, ansiedade forte ou quadros infecciosos, e confessa que gostaria de usar muito mais. Acredita que ainda há diversos usos da Cannabis ainda não explorados e, por isso, decidiu iniciar pesquisas na área.
O trabalho ainda está em andamento, razão pela qual prefere ainda não dar detalhes, mas adiantou que trabalha para desenvolver medicamentos tópicos específicos para odontologia. O objetivo é ampliar o uso de Cannabis na área e aproveitar as propriedades bactericidas e anti inflamatórias da planta, da prevenção ao pós cirúrgico.
Outro caminho que Sanseverino segue na pesquisa é a busca de melhores indicadores para facilitar a prescrição. Atualmente, desenvolve um trabalho sobre a leitura de indicadores genéticos.