Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e da Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ) mostrou a eficácia do canabidiol (CBD), um dos compostos da planta Cannabis, no combate a bactérias que causam doença periodontal.
De acordo com o estudo, o canabinoide pode agir como um agente antibacteriano e antibiofilme com baixa toxicidade. Assim, o CBD surge como uma opção promissora para tratamentos odontológicos, especialmente porque muitas bactérias desenvolveram resistência aos antibióticos convencionais.
Conversamos com um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo, o biomédico Carlos Henrique Martins, para entender como essa descoberta pode ajudar no desenvolvimento de novos produtos e tratamentos para a saúde bucal.
A doença periodontal e os tratamentos
Imagine seus dentes como árvores. As raízes estão no solo, que as ajuda a ficarem firmes. Nos dentes, o “solo” é formado pelos ossos da mandíbula e a gengiva, que dão sustentação.
A doença periodontal é como uma praga que ataca o solo em volta das raízes de uma árvore, diminuindo a sustentação e provocando a queda dessas árvores. Nos nossos dentes, a praga são bactérias que se acumulam na placa bacteriana e no tártaro, acabando com a sustentação e fazendo com que fiquem mais fracos até caírem.
Para evitar a doença periodontal, o cuidado com a saúde bucal é essencial. Escovar os dentes e usar o fio dental diariamente são práticas simples que fazem a diferença. Quando a doença periodontal é diagnosticada, o dentista pode remover a placa e o tártaro de forma mecânica, prescrever antibióticos ou, em situações mais graves, fazer uma cirurgia.
A necessidade de buscar alternativas aos antibióticos
O uso exagerado de antibióticos tornou muitas bactérias que causam a doença periodontal resistentes ao tratamento medicamentoso, tornando urgente a busca por alternativas. Por isso, os pesquisadores da UFU viram no CBD uma opção viável devido às suas propriedades antimicrobianas reconhecidas em estudos anteriores.
Segundo Carlos Henrique, o estudo com CBD está em estágios iniciais, mas com potencial para inspirar o desenvolvimento de novos produtos odontológicos no futuro.
“Começamos a fazer um levantamento bibliográfico para saber quais bactérias não tinham sido trabalhadas com CBD. Então, achamos que essas bactérias causadoras da doença periodontal poderiam ser interessantes.
Nossa equipe já trabalhou com bactérias que causam cárie, infecção no canal, na gengiva, no periodonto… Então, acreditamos que isso um dia possa virar um produto enxaguante bucal.”
De acordo com o pesquisador, um produto enxaguante bucal com canabinoides têm o potencial de complementar as abordagens tradicionais.
“Ainda não tem nenhum produto químico que você ponha na boca para remover a placa dental. Quando você faz sua limpeza com o dentista, ele usa um instrumento para poder remover o excesso de placa, é uma remoção mecânica mesmo.
A gente trabalhou de duas formas aqui: com a bactéria sozinha e com a bactéria na forma de biofilme, ou seja na forma onde ela se reúne com outros microrganismos. Esse biofilme é o que a gente encontra na nossa boca, que popularmente chama de placa dental.”
Resultados do estudo com CBD
Os pesquisadores analisaram a atividade antibacteriana e antibiofilme do CBD contra cinco bactérias que causam a doença periodontal: Actinomyces naeslundii, Peptostreptococcus anaerobius, Veillonella parvula, Fusobacterium nucleatum e Aggregatibacter actinomycetemcomitans.
Os principais resultados foram:
- O CBD tem efeitos antibacterianos em doses baixas;
- Foi eficaz na inibição de biofilmes, camadas de bactérias que se formam na superfície dos dentes;
- Apresentou um perfil seguro em modelos animais, com baixa toxicidade.
Para Carlos Henrique, os achados abrem caminho para futuros estudos para avaliar a eficácia em humanos.
“Nosso trabalho começa quando vislumbramos a possibilidade de um produto natural virar um medicamento, a gente faz esses testes e depois, tudo dando certo, começa a evoluir para outros ensaios, ensaios em animais, ensaios mais robustos.”
Reduzindo o preconceito em relação à Cannabis
Mesmo com os desafios que as universidades públicas no Brasil enfrentam, como falta de recursos, os pesquisadores seguem avançando. O estudo da UFU será publicado no Journal of Applied Microbiology e, segundo Carlos Henrique Martins, ajudará a diminuir os estigmas em torno da Cannabis.
“Vamos desmistificando o preconceito em relação à Cannabis com a própria ciência. Que possamos aglutinar pessoas com o mesmo objetivo e outros pesquisadores para avançarmos ainda mais nessa fronteira do conhecimento e beneficiar as pessoas, porque o objetivo final são as pessoas que precisam de uma melhora terapêutica.
A cada dia podemos descobrir um benefício novo. Uma única planta pode ter uma diversidade de ação farmacológica muito grande.”
Como iniciar um tratamento com medicamentos à base de Cannabis
Para fazer um tratamento para a saúde com medicamentos à base de Cannabis, é necessário ter a prescrição de um médico ou dentista experiente nesse tipo de tratamento. Nesse sentido, existem produtos para uso odontológico com canabinoides disponíveis através da importação, regida pela RDC 660 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Portanto, para tratar a doença periodontal ou alguma outra condição que exija esse tipo de produto, o primeiro passo é se consultar com um profissional da saúde.
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