A história de uma mãe que encontrou a solução para o filho e acabou trazendo de volta a lucidez da mãe centenária
Aos 40 e poucos anos, Júnior estava desnutrido e diabético, definhando diante dos olhos da mãe. Gritava, não dormia e exigia a atenção de Marina de Carvalho Rodrigues 24 horas por dia. Em desespero, ela tentou encontrar outros casos de pacientes adultos com autismo severo como o que tinha seu filho. Não encontrou nenhum. Somente o CBD.
O que Marina não sabia é que Júnior já tinha passado da média da expectativa de vida de um autista severo. Um extenso estudo sueco realizado pelo Instituto Karolinska e publicado no jornal British Journal of Psychiatry em 2015, mostrou que autistas com dificuldades de aprendizado, como Júnior, têm 40 vezes mais chances de morrer de forma prematura por problemas neurológicos. E a sua expectativa de vida é de 30 anos a menos que a população geral. Talvez fosse por isso ela tenha tido dificuldades em encontrar outros autistas severos adultos no Brasil.
O diagnóstico
Mas Marina já estava acostumada a navegar no escuro: quando Júnior nasceu, nos anos 70, pouco se sabia sobre autismo. Seu primeiro diagnóstico foi de deficiência auditiva e dificuldade intelectual. Por pura sorte, ele rejeitou o caro aparelho importado que Marina comprou. Poderia ter ficado surdo de verdade. Com 8 meses, Júnior deixou de ser responsivo. O balbucio acabou, se tornou introspectivo, desenvolveu estereotipia (ação repetitiva) e parou de brincar.
No terceiro ano de vida, finalmente veio o diagnóstico de autismo, dado pelo neurologista Paulo Niemeyer Filho. Outro neurologista, Carlos Bacelar, ficou impressionado: Júnior apresentava cinquenta sintomas dos setenta e poucos que se conheciam de autismo. Era um autista tradicional: totalmente dependente, não verbal e com um grau severo.
Júnior chegou a frequentar escola especial, mas na época, a maioria dos colegas tinha síndrome de Down. Ele ficava num canto isolado, e praticamente dormia o dia todo. A mãe precisou deixar a faculdade para ficar com o filho.
Da infância, à adolescência, à vida adulta
Marina teve outros dois filhos, e só aí percebeu como o desenvolvimento de Júnior tinha sido lento. Ela conta do dia em que estava com Júnior no colo e percebeu seu interesse em ver os irmãos levando a colher à boca enquanto comiam. Resolveu colocar a colher para ele também: ele imitava os irmãos. “Existe uma coisa invisível entre mãe e filho especial”, diz a mãe emocionada. A partir daí, Júnior aprendeu a ir ao banheiro sozinho, levava seu prato na pia, tudo imitando os irmãos.
Porém, pararam por aí as boas notícias. Ele vivia constipado, se autoflagelava, batia a cabeça na parede, chegando a perder dentes. Apenas com 18 anos parou de se bater, assim que teve a primeira convulsão. Foi como uma passagem para a vida adulta. Mais dúvidas e desespero. Júnior passou a tomar ainda mais remédios, ficou desnutrido, sua vida foi uma sucessão de remédios que pouco efeito faziam.
Em 1998, Marina trouxe a mãe, dona Djanira, para morar com eles. A idosa estava com Alzheimer e Marina temia deixá-la sozinha em casa.Três anos depois, o pai de Júnior morreu de câncer, e ele piorou ainda mais, traumatizado com a ausência definitiva. “Ele ficou louco de hospício”, relembra. Agitado, gritava muito, nem tinha descanso nem deixava a mãe cuidar da avó.
Ela o levou a um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). Foi uma experiência ruim. “Era uma fábrica de remédios controlados, hipnóticos, nada resolvia. Ele era uma cobaia, eu sabia que ele estava com problemas de saúde com tanto remédio”. Marina conta que ela mesma fez uma requisição de exames e pediu para um amigo médico solicitar. Júnior estava com diabetes, com glicose acima de 400.
A luz na internet
Foi nessa fase, quando Júnior estava com 40 e poucos anos, que Marina começou a ter dificuldades para encontrar casos semelhantes aos do filho. A qualidade de vida dele decaiu rapidamente. Por isso, quando procurava informações, queria reportagens sem romantização da doença, do tipo “autista super inteligente”.
Encontrou a página O Autismo em Minha Vida, em 2019, que relata as lutas de uma moça autista adulta que faleceu em abril deste ano. Na página, recebeu diversas dicas, e chegou a experimentar aromaterapia, mas sem resultados. Até que, conversando no site, alguém sugeriu Cannabis.
Foi quando descobriu Cris Palácios, terapeuta canábica. Também consultou com o médico prescritor de Cannabis, dr. Rodrigo Mistrinel, e a biomédica Mari Aprile, que passaram a dar consultoria diária e prescrição correta de óleo de Cannabis, com um pouco de THC e mais CBD.
Nesse ponto, janeiro de 2020, a aparência de Júnior era de uma pessoa no fim da vida. Extremamente magro, fraco, agitado. Marina reviu completamente a dieta: cortaram glúten, lactose, carnes e peixes. Descobriram que tinha vários tipos de verminoses, decorrentes do consumo destes alimentos e de colocar qualquer coisa na boca.
Com apenas três gotas de CBD por dia, boa alimentação e desmame quase total dos remédios alopáticos (hoje ele toma apenas dois para convulsão, mas a dose foi reduzida de 1.000mg para 500mg), Júnior voltou a comer, passou a dormir a noite toda, está reaprendendo a comer sozinho, obedece à mãe e espera pacientemente enquanto ela cuida da avó.
A doença e a melhora da avó
E dona Djanira, mãe de Marina? Completou 103 anos no dia seguinte ao desta entrevista. Desde os 101 anos, sua situação deteriorara muito, não responsiva e apática, deitada o dia todo em cama hospitalar. Marina e os médicos resolveram testar uma gota por dia do óleo de Júnior na avó. Pouco tempo depois, dona Djanira voltou a falar, reconheceu o quarto, conversou com Marina. Estava lúcida como 20 anos atrás, resultado que impressionou os próprios médicos.
Com filho e mãe melhores graças à Cannabis, Marina só quer ajudar a divulgar os benefícios do medicamento. “Eu estava entrando em desespero. O que eu mais quero na vida é que outras pessoas não tenham que passar por isso.”
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