Na quinta-feira (5), o Congresso Brasileiro de Cannabis Medicinal colocou o mercado e a legislação em discussão. Veja o que rolou de melhor
Em seu terceiro dia, o Congresso Brasileiro de Cannabis Medicinal deixou um pouco a saúde de lado para focar nos negócios e os avanços da legislação relativos ao tema. Uma mudança que não foi só vista no palco, mas no público. Médicos e profissionais da saúde deram lugar a empreendedores em busca de mais informações para ingressar ou se destacar neste promissor mercado.
Quem quiser saber o que rolou nos dois primeiros dias, dedicados à discussão das propriedades medicinais da Cannabis, pode acompanhar aqui e aqui.
Mercado da Cannabis no Brasil e no mundo
O palco estava cheio na palestra de abertura. A jornalista Manuela Borges, com um vestido feito de cânhamo, mediou uma conversa com o jornalista Ricardo Amorim, do blog Cannabiz no site da Veja; Gustavo Marra, diretor de operações da USA HEMP BRASIL; Dr. Claudio Lottenberg, médico oftalmologista; Tarso Araújo, presidente da Diretoria-Executiva da BRCann; a consultora Cíntia Vernalha; e Viviane Sedola, CEO na Dr. Cannabis.
Como não poderia ser diferente, logo o papo entrou no principal entrave para que a Cannabis chegue aos pacientes que precisam. “O grande limitador ainda é o preconceito. O nível de desinformação ainda é muito grande”, afirmou Tarso Araujo. “A regulamentação muda da noite para o dia, a lei também, mas a cultura depende de tempo e de batalha. É importante que o mercado cresça, mas não a qualquer custo.”
Mas não é só as propriedades medicinais que podem ser aproveitadas. A Cannabis é uma planta versátil, que pode ter uso têxtil, como comprova o vestido da Manuela Borges, mas também como combustível e na construção civil, por exemplo. “Se a gente não usar a ciência a nosso favor, nunca vamos quebrar os preconceitos em relação ao uso da Cannabis”, disse Gustavo Marra. “Como você pode fechar a porta para um medicamento que você não conhece? Levar para frente o conhecimento sobre a substância é o mais importante”.
Oportunidades de investimento no mercado da cannabis
A Cannabis tem perspectiva de movimentar 60 bilhões de dólares até 2026. Ano passado, porém, a cifra já foi expressiva, com 29 bilhões que circularam em função da planta. Os EUA é quem melhor se aproveita, com 23,3 bilhões desse total.
Em debate mediado pelo jornalista Victor Sena, especialistas falaram sobre o potencial e dificuldades que ainda persistem no mercado da Cannabis.
Enzo Pacheco, analista de investimentos da Empiricus, acompanha há cinco anos este mercado e destaca que as empresas de Cannabis negociam suas ações com valores abaixo daquelas com porte semelhante em outros setores. Somado ao avanço da legalização em muitos países e a tramitação de projetos de lei que buscam regulamentar a produção e comercialização, a Cannabis configura um investimento com bom potencial de retorno a médio e longo prazo.
No entanto, há desafios a serem superados, como revelou George Wachsmann, sócio fundador da fintech Vitreo, ao compartilhar sua experiência na criação do primeiro fundo de investimentos brasileiro dedicado à Cannabis.
Durante o processo, ele conta que a empresa teve até que contratar um advogado criminalista para se certificar que nada estava fora da legislação. Apesar da insegurança jurídica, não desanima, pois sabe que estes desafios são parte de estar na fronteira de um novo mercado.
Os avanços no legislativo com a pauta Cannabis
Avançar na abertura e desenvolvimento do mercado brasileiro de Cannabis. Este objetivo comum levou um grupo de políticos de diferentes partidos a dividirem o palco no terceiro debate do dia: Caio França (PSB/SP), Sérgio Victor (Novo/SP), Leandro Grass (Rede/DF); o deputado federal Alex Manente e o ex-presidente da Anvisa Dirceu Barbano.
Eles compartilharam frustrações e esperança na aprovação de projetos de lei que ampliem o acesso dos pacientes à Cannabis medicinal. Caio França é autor do PL 1.180/2019, que visa o fornecimento de medicamentos com canabidiol na rede pública de São Paulo.
“Estamos com o projeto pronto para ser votado, mas o atual presidente (da Assembleia Legislativa de São Paulo, Carlão Pignatari do PSDB) disse que nessa legislatura será pouco provável que isso ocorra. Torço para que juntos possamos mudar o entendimento dele. Era para estar aqui no Congresso com o projeto aprovado”, revelou.
Dirceu Barbano, porém, não deixou de ressaltar os avanços recentes em relação ao acesso no País. “O Brasil deu um passo fundamental na possibilidade de usar plantas como a Cannabis como ferramenta para medicina. A gente só não avança mais rápido, porque há forças contrárias. Lutamos por um país no qual sejamos livres para decidir os rumos da nossa vida.”
As alternativas de acesso aos produtos derivados da Cannabis
A criação de uma Câmara Nacional de Cannabis e um Conselho Nacional da Cannabis, entidades focadas na construção de um diálogo dentro do setor, foi uma das ideias apresentadas no debate de encerramento do terceiro dia do Congresso Brasileiro de Cannabis Medicinal, mediado pelo jornalista João Negromonte.
Pedro Sabaciauskis, fundador da associação de pacientes Santa Cannabis, defende uma regulamentação do setor que crie um mercado nacional que seja democrático, com espaço para as associações de pacientes.
A falta de regulamentação induz a muitos recorrerem ao judiciário. De acordo com o advogado criminalista Higor Oliveira, do Instituto Humanitas360, apenas no estado de SP, no último ano, houve um aumento de 1162% na judicialização.
“Precisamos mudar muito as regulamentações, e consequentemente a legislação. Acho importante dentro do tema do painel Cannabis medicinal da gente colocar também a questão da guerra às drogas”, afirmou. “Porque enquanto uns têm acesso a remédio outros morrem pela mesma substância em uma guerra às drogas.”
O advogado Emílio Figueiredo, fundador da Rede Jurídica pela Reforma da Política de Drogas, complementou. “Não há cannabis medicinal suficiente para tratar uma sociedade doente pela guerra. Se a gente quer ter saúde no Brasil, não adianta somente regulamentar a Cannabis medicinal.”
“A gente precisa ter uma solução para o que é hoje chamada a guerra às drogas. Guerra a determinadas pessoas e territórios, principalmente pessoas pretas e territórios de favelas e periféricos.”
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