Aposto em uma tendência que deve prevalecer, e crescer, em 2023: a presença da Cannabis em pesquisas científicas das universidades brasileiras.
Duas universidades podem cultivar maconha no Brasil
Atualmente no Brasil duas universidades podem realizar o cultivo de Cannabis para fins de pesquisa: a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Mas é importante esclarecer que as licenças são diferentes:
UFRN: A licença do UFRN é única e pioneira no Brasil. Pois a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou o cultivo de Cannabis pela para desenvolvimento de pesquisa científica. Essa é a primeira vez que a Anvisa permite o cultivo da planta para fins científicos no país. As pesquisas autorizadas pela Anvisa na UFRN são pré-clínicas e não serão feitas em humanos.
UFSC: A UFSC é a primeira instituição de ensino superior do País a obter uma medida judicial que lhe permite produzir todos os insumos para a pesquisa da aplicação da Cannabis na área da medicina veterinária. Ou seja, a 1ª Vara da Justiça Federal, em Florianópolis, concedeu um salvo-conduto que autoriza o pesquisador e professor Erik Amazonas, do Centro de Ciências Rurais (Campus de Curitibanos), a realizar o cultivo, preparo, produção, fabricação, depósito, porte e prescrição da Cannabis sativa.
Salvo-conduto e licença da Anvisa para pesquisa com Cannabis: tendência para 2023
“A Federal do Rio Grande do Norte tem uma autorização especial de pesquisa dada pela Anvisa. Finalmente aplicando a lei de drogas, o parágrafo único do artigo segundo. Então pela primeira vez foi aplicada essa lei. A diferença é que o meu é um salvo-conduto.
Fiz a solicitação para o mesmo fim que a Federal do Rio Grande do Norte. E tive a mesma negativa que eles. A diferença é que eles, e a Reitoria, recorreram e ganharam. Se a gente tivesse recorrido, talvez teríamos ganho. A diferença é que uma é de fato a lei sendo aplicada na Federal do Rio Grande do Norte e a UFSC é uma decisão judicial devido ao fato de não ter sido aplicada”, explicou o professor Erik Amazonas que coordena a linha de pesquisa “Endocanabinologia e Cannabis Medicinal”, do Grupo de Estudos em Produção Animal e Saúde, da UFSC.
Além de ser responsável pela pesquisa que tem como objetivo reunir conhecimento sobre os óleos derivados de diferentes linhagens da Cannabis e comparar métodos de extração de compostos, Amazonas é autor da frase que conquistou espaço entre estudiosos da planta: “Lugar de Cannabis é nas Universidades”.
Ciência como um norte nas decisões de uma sociedade
A pandemia serviu, ou deveria ter servido, como um grande alerta: o desenvolvimento da ciência é imprescindível para o desenvolvimento de um país. Negar o que as pesquisas científicas apontavam durante a pandemia resultou em muitas perdas que poderiam ter sido evitadas no Brasil. Não vamos esquecer que hoje soma-se no país o assombroso número de 691.994 mortes desde o início dos contágios.
O lado positivo é que é crescente a adesão às vacinas nas capitais brasileiras e que o reforço com vacina atualizada contra Covid reduz pela metade o risco de internação.
Ou seja, a pesquisa científica é um elemento imprescindível na engrenagem que conecta o conhecimento, a prática das pessoas e as decisões que os governantes tomam em uma sociedade. Funciona assim: estudos científicos proporcionam conhecimento e segurança para tomadas de decisões relevantes para um país.
Ciência para apoiar a futura regulamentação no Brasil
Essencialmente as decisões sobre uma decisiva regulamentação da Cannabis no Brasil poderá ter como base pesquisas científicas. E estes estudos podem ser, e de fato já estão sendo, desenvolvidos no país, como a UFRN e a UFSC.
Mas muitas outras universidades como a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) por exemplo, desenvolvem pesquisas com Cannabis mesmo sem ter a licença de cultivo.
A pesquisa da UNILA destaca-se por seu pioneirismo em apontar os benefícios de pequenas doses de Cannabis para o tratamento do Alzheimer. Basicamente estas pequenas doses reverteram sintomas da doença como a perda de memória.
Pesquisas hoje no Brasil sobre Cannabis
Segundo o mapeamento da Kaya Mind no Anuário da Cannabis, via publicações na SciELO, biblioteca digital, houve o total de 162 pesquisas, desde o início que se deu em 1989 e segue até hoje.
Ainda segundo o relatório, a distribuição das áreas de pesquisa com termo Cannabis é da seguinte maneira :
- 81,5% Ciências da Saúde
- 9,5% Ciências Humanas
- 3,6% Ciências Biológicas
- 3,0% Ciências Exatas da Terra
- 1,8% Multidisciplinar
- 0,6% Ciências Agrárias
Já em relação ao teor dos cursos de Cannabis no Brasil, o Anuário, que está disponível para download aqui, apontou que “a maioria dos programas docentes ainda é voltada para o âmbito medicinal, totalizando 42%”.
A divisão do teor dos cursos de Cannabis no Brasil é a seguinte:
- 42% medicinal
- 41% Nutrição
- 4% Veterinária
- 3% Culinária
- 3% Cultivo
- 2% Direito
- 2% Carreira
- 2% outros
- 2% Cultivo/Extração
A expectativa é que em 2023 os números se ampliem de universidades que estudam a planta e todo o universo que esta indústria compreende.
Unicamente com conhecimento será possível romper as barreiras sobre a maconha e reconhecer que uma regulamentação trará benefícios econômicos e principalmente à saúde de muitas pessoas e animais.