Neurocirurgião, professor e pesquisador, o médico Marcelo Valadares soluciona dúvidas sobre o que se sabe do tratamento com fitocanabinoides
Médico neurocirurgião e pesquisador da Disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e do Hospital Albert Einstein, Marcelo Valadares é diretor do Grupo de Tratamento de Dor de Campinas e, dentro de seu arsenal terapêutico, prescreve para seus pacientes a Cannabis medicinal.
Para ajudar a solucionar dúvidas de médicos e pacientes, o médico respondeu sete questões que costumam confundir quando o assunto é a indicação de Cannabis medicinal para tratar dores crônicas e insônia.
Há hipóteses de que os efeitos do CBD podem auxiliar na redução de inflamações no cérebro?
O Dr. Marcelo Valadares explica que parece haver evidência, de acordo com alguns estudos, de que a substância pode auxiliar no tratamento de pacientes com transtornos e doenças neurológicas.
Nessas pesquisas, há evidências de que o principal efeito do CBD no cérebro é a redução de inflamação, que está relacionada a doenças como Alzheimer, ansiedade, depressão e epilepsia, entre outras.
O canabidiol é um tratamento viável para dores crônicas?
Um estudo da The Health Effects of Cannabis and Cannabinoides, nos Estados Unidos, revelou que o alívio de dores crônicas é a condição mais comum citada pelos pacientes em relação ao uso do CBD medicinal.
Estudos também mostram a presença de receptores canabinoides na medula espinhal, no sistema límbico, que é regulador das emoções, no hipocampo, na medula espinhal e no hipocampo, relacionado às memórias.
Segundo o neurocirurgião, o uso do canabidiol em pacientes com dor crônica intensa mostra benefícios significativos, pois a cannabis tem ação direta no mecanismo central de dor.
O Dr. Marcelo Valadares, inclusive, já teve relatos de bons resultados entre seus pacientes. “É um valioso recurso quando as primeiras linhas de tratamento não se mostram benéficas ou apresentam efeitos colaterais indesejáveis”, ressalta.
É fácil iniciar o tratamento com Cannabis medicinal?
No Brasil, o uso de medicamentos à base de CBD para dores neuropáticas é permitido, mas não é um tratamento tão acessível. Os medicamentos à base de canabinoides podem ser indicados para tratamentos de dores neuropáticas crônicas, porém com uma receita especial e preenchimento de um formulário pelo médico responsável. É importante lembrar que os medicamentos são de alto custo e difícil acesso.
O CBD pode ser um complemento no tratamento para a dor de pacientes com Parkinson?
Estudos mostraram melhorias na qualidade de vida de pacientes com a doença de Parkinson. Entretanto, há controvérsias em relação às melhorias nas funções motoras. O médico, especialista em tratamento de doenças neurodegenerativas, afirma que alguns estudos mostram evidências, mas ainda são preliminares. Entretanto, o neurocirurgião afirma que é possível considerar o canabidiol para casos de dor crônica relacionada à Doença de Parkinson.
O uso de CBD pode retardar a progressão do Alzheimer?
Estudos trazem evidências sobre o uso da Cannabis medicinal para o tratamento de pacientes com Alzheimer.
Há limitações medicamentosas tanto para minimizar os sintomas, quanto para retardar a progressão do Alzheimer neste momento, o que enfatiza a necessidade de desenvolver mais pesquisas e viabilizar novas opções de tratamento. “Na literatura, estas pesquisas mostram-se promissoras, mas são necessárias mais avaliações acerca do tema “, diz o médico.
No caso da epilepsia, o canabidiol pode ser um substituto dos medicamentos tradicionais?
Casos de epilepsia, muitas vezes, são de difícil controle. Um trabalho publicado no periódico médico The New England Journal of Medicine com pacientes que possuem a síndrome de Dravet, mostra que a média de crises convulsivas por mês diminuiu de 12 para 6 após o uso da solução oral de canabidiol. Existem evidências sólidas especialmente no caso de crianças.
Em quadros de insônia, o canabidiol é recomendado?
Pesquisas apontam que os canabinoides são bem-sucedidos na melhora da qualidade do sono em geral e podem ser uma alternativa aos tradicionais medicamentos usados para dormir que podem gerar dependência e uma série de efeitos colaterais. Inclusive, o uso da Cannabis tem sido estudado em pacientes com Estresse Pós-Traumático que sofrem com distúrbios do sono.