O que diz a ciência sobre o uso dos fitocanabinoides em pacientes com Esclerose Lateral Amiotrófica
A Esclerose Lateral Amiotrófica, popularmente conhecida como ELA, é uma doença degenerativa e progressiva para a qual não há cura. Com o sucesso obtido com o uso de Cannabis medicinal no tratamento de outras doenças degenerativas, como Parkinson e Alzheimer, surge a esperança do uso também em pacientes com ELA. Mas será que funciona?
O que é Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA)?
A ELA ocorre pela deterioração dos neurônios motores no sistema nervoso. Como consequência, aos poucos, vão perdendo a capacidade de enviar impulsos elétricos para as demais áreas do corpo, prejudicando tanto os movimentos, como os sistemas autônomos, com dificuldades na fala, deglutição e respiração.
Como é o tratamento?
O único medicamento aprovado na “contenção” da doença é o Riluzol, com um pequeno aumento na sobrevida dos pacientes. No entanto, tende a perder a eficácia em casos mais avançados da doença. Terapias não-medicamentosas, como fisioterapia, podem ajudar a conter os sintomas clínicos nos estágios iniciais da doença.
Cannabis ajuda a conter a evolução da doença?
De acordo com parecer da Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica (ABRELA), “Atualmente emergem estudos que buscam associar o uso da Cannabis medicinal (canabidiol – CDB) à Esclerose Lateral Amiotrófica, pelo fato dos componentes possuírem características antioxidantes, anti-inflamatórias e de neuroproteção.”
A esperança é que a Cannabis possa retardar a morte neuronal e, assim, a progressão da doença.
“Frisamos, com toda a nossa experiência, não somente pelo grande atendimento dessa clientela, mas com base em artigos científicos atuais, que o CDB isolado ou associado com THC (Tetrahydrocannabinol) não se apresenta como droga modificadora da doença”, diz o parecer.
O que diz a ciência?
Pesquisadores apontam que o THC pode se ligar aos receptores CB1, inibindo a atividade dos receptores que determinam a produção de um neurotransmissor chamado glutamato nos neurônios. Embora o glutamato em excesso possa causar danos às células do sistema nervoso central, e contribuir para a neurodegeneração, mais estudos precisam ser realizados para comprovar a Cannabis como uma droga modificadora da doença. O mesmo acontece com a atividade neuroprotetora do CBD, já demonstrada em ratos geneticamente modificados em laboratório, mas com poucos estudos em humanos.
Como explica a neurologista Christina Funatsu. “Para chegar a uma conclusão, é preciso acompanhar um grupo grande de pacientes dessa, que é uma doença rara, ao longo de anos de tratamento com Cannabis e comparar com um grupo de controle, com placebo.”
“Acompanhar somente dois ou três indivíduos não é suficiente. Precisamos ter matéria-prima (Cannabis) para acompanhar cem pacientes, algo difícil pelo acesso limitado ao medicamento.”
Ou seja: “O que não existe é pesquisas científicas com robustez e controle necessários para comprovar a eficácia dos fitocanabinoides na contenção da doença”, afirmou Funatsu.
A Cannabis é recomendada para pacientes com ELA?
“Nesse momento, a Cannabis tem efeitos importantes comprovados para lidar com os sintomas da ELA. Não para conter a evolução da doença. Pode ser que esteja ocorrendo, mas não posso afirmar isso com segurança”, diz a neurologista.
Para a médica, mesmo em pacientes que sentiram de forma prática os benefícios da Cannabis no tratamento de ELA, como já relatado aqui no Cannabis & Saúde, não é possível afirmar que os ftocanabinoides estejam freando a doença.
Por ajudar em diversos sintomas comuns aos pacientes com doenças crônicas em geral, como ansiedade, falta de apetite, insônia, enjoo e ajudar a modular o humor, a Cannabis já ajuda a melhorar a qualidade de vida do paciente, embora não necessariamente esteja agindo diretamente sobre a causa da patologia. “O fato do paciente estar se sentindo melhor, favorece seu quadro.”
Quais são os cuidados?
O parecer da ABRELA alerta que “algumas informações midiáticas sobre o uso do CDB em pacientes com ELA, embora tragam esperança de melhora para os pacientes, também geram sofrimento psíquico, pois muitos acreditam na resolução do problema.”
“Alertamos que todo medicamento, controlado ou não, deve ser antes discutido com o médico especialista/prescritor.”
Conclusão
Embora ainda faltem estudos clínicos de longa duração que comprovem a ação benéfica da Cannabis no controle da ELA, o controle proporcionado pelos fitocanabinoides em alguns dos sintomas que costumam acompanhar os pacientes pode entregar uma maior qualidade de vida.
Como conclui o parecer da ABRELA: “O questionamento é se o CDB pode ou não ser prescrito para pacientes com ELA. Certamente pode, desde que o prescritor saiba exatamente seu objetivo no controle de determinados sintomas. Muitos de nós já prescrevemos ou iremos prescrever o CDB com ou sem THC para pacientes com ELA; obviamente, sempre cientes da sua indicação clínica.”