Jaime* eliminou suas crises de pânico e controlou a ansiedade graças à Cannabis medicinal. Conheça a história dele
Jaime* eliminou suas crises de pânico e controlou a ansiedade graças à Cannabis medicinalrestar atenção sempre foi um desafio para ele. Na escola, vivia disperso com visitas frequentes à diretoria. “Por falta de conhecimento, não existia isso de levar em psicólogo, psiquiatra. Meu pai achava que era preguiça.”
Quando adulto, decidiu buscar respostas para os problemas que sempre o acompanharam. “Passei anos procurando. Tinha problemas de memória, insônia”, lembra. “Trabalho com tecnologia da informação e o escritório é um pesadelo. Uma mosca que pousa na parede já desvia meu foco, imagina um escritório inteiro. Acabava virando a madrugada no escritório, que era o momento que conseguia trabalhar.”
Diagnóstico: TDAH
Após muito procurar, encontrou um diagnóstico: Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Até conseguiu recuperar o foco com Ritalina, mas os benefícios duravam pouco e precisava de doses cada vez maiores para que fosse eficaz. Logo desistiu.
Sua alternativa era criar métodos que o ajudassem a cumprir os afazeres. “Desenvolvi mecanismos de compensação. Inventava uma listinha de coisas para fazer, por exemplo, mas logo parava de funcionar. Nenhuma funciona indefinidamente”, conta. “De qualquer forma, acabo sempre desgastado. Tenho que me esforçar muito mais do que seria o normal para concentrar.”
Mais distrações
Há cinco anos, no entanto, o que era difícil, se tornou ainda pior. Jaime passava seu primeiro fim de ano em sua casa nova, em Bertioga, litoral de São Paulo, quando um som ensurdecedor começou. A casa ao lado havia sido alugada para o feriado e, logo que chegaram, colocaram as potentes caixas de som, que ocupavam todo o porta malas do carro, para tocar.
“A janela da minha casa tremia. Um som grave, muito alto. Foram cinco dias assim, 24 horas por dia. Eu não consegui dormir. Andava como se tivesse tomado uma surra”, relata. “No último dia, a polícia ambiental chegou depois da gente reclamar. Mas quando foram embora, o cara começou a me xingar. Juntou tudo. Já fragilizado, o cara apontando o dedo na minha cara, me deu um choque. Baixou a pressão. Hoje eu consigo identificar que esse evento traumático me fixou um gatilho.”
Desde então, qualquer carro que passava com o som alto na rua, se transformava em crise. “A sensação é de violência física. Eu não consigo raciocinar. Uma sensação de desespero. Como se você estivesse sendo torturado, sem hora para acabar”, afirma o jovem. “Quando passava o gatilho, o sentimento ainda ficava por horas comigo. Às vezes, por dias.”
“Depois, eu sempre ficava pensando que poderia controlar. É só um som, na próxima vez vou fazer isso e aquilo. Mas quando chega, todo esse raciocínio vai por água abaixo. Não consegue nem lembrar de mais nada.”
Déficit de atenção e pandemia
Com a chegada da pandemia, Bertioga passou a viver um feriado constante, com o barulho se estendendo pela semana. “Eu passei cinco meses fazendo um isolamento acústico no meu escritório, para ter pelo menos um lugar para fugir. Pensava que não era possível não existir nada que me atendesse.”
Sua busca por soluções não parava, mas geralmente vinha acompanhado de resultados desanimadores. “Ia no psiquiatra e dificilmente vai encontrar um cara que vai procurar entender o que está acontecendo. Te olha, aham, e receitam qualquer antidepressivo”, conta. “Eu nunca consegui manter o tratamento porque me deixava muito cansado. Não conseguia nem trabalhar. Muito problema intestinal.”
TDAH e Cannabis medicinal
Em meio às suas pesquisas, descobriu o nome do que poderia ser sua condição: Misofonia. Uma espécie de intolerância aos sons. “Meu vizinho pode estar escutando Pink Floyd, que eu adoro, e dá ansiedade do mesmo jeito. É o som do desrespeito, como eu chamo. Essa coisa de que nunca sabe quando vai acabar.”
Até que lembrou da Cannabis. Já tinha escutado sobre diversas patologias que encontraram tratamento com Cannabis, poderia ser que servisse para ele também. Em uma lista de médicos prescritores, encontrou o nome do dr. André Cavallini, que, além de trabalhar com Cannabis, é especialista em otorrinolaringologia.
Na primeira semana tomando o medicamento de Cannabis, sentiu uma pequena redução na ansiedade. Os dias passaram, e ficou nisso. Perto de completar um mês, pensou que o que havia sentido era placebo. “O dr. André disse que podia sentir uma sonolência por causa do medicamento, e nem isso eu sentia. Quanto você toma antidepressivo, logo sente o efeito, o impacto. A Cannabis eu sentia que estava tomando um suco de maracujá.”
Efeito Cannabis
Até que em um feriado de novembro de 2020, o som alto chegou na vizinhança. Como sempre, sentiu uma ansiedade, mas estava diferente. “A ansiedade chegava como se estivesse batendo em um muro de concreto. Dessa vez, foi como se estivesse batendo em um colchão.”
Não contente, Jaime quis testar se era isso mesmo. “Correndo o risco de ter uma crise de pânico, eu fui até a rua, perto de onde estava o barulho. Era como se tivesse amortecido. O som bate no ouvido, vem a ansiedade, mas na forma de um incômodo só”, comemora.
“E pensei que o negócio tá funcionando mesmo. Comecei a pensar no mês que já estava tomando, e percebi que não teve nenhuma crise mais intensa. A Cannabis funciona como um cobertor, que vai te cobrindo aos poucos, e você nem sente.”
Desde então, é assim. “Tive muitas crises de ansiedade no ano passado. Desde então (novembro de 2020), não lembro de nenhuma vez de uma crise de ansiedade que me levou a um ataque de pânico.”
“Uma mudança enorme. Não tenho que lidar com a ansiedade o tempo todo, então fica mais fácil lidar com o TDAH.”
*Jaime é um um nome fictício; o entrevistado pediu para não ter seu nome verdadeiro divulgado.