Começou nesta sexta-feira (16) a quarta edição do Cannabis Thinking. Com mais de 40 palestrantes, divididos em dois dias de evento, tem objetivo de discutir como a indústria da Cannabis pode apoiar as mudanças sociais e ambientais propostas pela Agenda 2030, o plano de ação global das Organizações das Nações Unidas (ONU).
O evento pode ser acompanhado de forma gratuita para todos os interessados pelo YouTube. Clique aqui para assistir o primeiro dia do Cannabis Thinking na íntegra.
A palestra de abertura ficou por conta de Patrícia Vilella Marino, fundadora do CIVI-CO, uma comunidade formada por empreendedores de impacto cívico-socioambiental e organizações do terceiro setor, sediada no bairro Pinheiros, em São Paulo, e que recebeu o evento.
“Estou feliz de ter um debate aberto onde se encontra os diferente e na nossa diferença a gente aprende a viver na diversidade. Não precisamos pensar do mesmo jeito, mas ter unidade de princípio. Pela vida, bem-estar, democracia e estado de direito.”
“É um convite para falar de regeneração social e reconciliação. Um mercado que foi criminalizado e saiu da ilegalidade pela investigação científica e exercício da cidadania. Um mercado que pode promover justiça climática e um futuro menos desigual.”
“Esse mercado tem DNA de cura e herança ancestral, como talvez nenhum outro tenha. Uma oportunidade de reparação histórica como nenhuma outra cultura e mercado. Eu acredito que a cannabis tem o potencial de regenerar o capitalismo.”
“Cidadania e ciência andam juntas. Economia e saúde andam juntas. Apesar de não ser o histórico desse País, somos cidadãos que querem escrever uma história regenerativa neste País.”
“Caminhamos a passos lentos pela aprovação de um marco legal regulatório. O acesso é inviabilizado pela dolarização do insumo, por isso a necessidade de produção nacional.”
Exemplo do Paraguai
Marcelo Demp, vice-presidente da Associação Latino Americana de Cannabis Industrial e presidente da Câmara de Cânhamo Industrial do Paraguai, trouxe a experiência do impacto da regulamentação da Cannabis no Paraguai.
“No Paraguai, o que fazemos é focar nos aspectos ESG na parte integral do negócio. Temos 1,5 milhão de pessoas em extrema pobreza. Nós focamos nessas pessoas, trabalhando em conjunto com famílias campesinas e comunidades indígenas.”
“É a primeira vez que se desenvolve um mercado de Cannabis industrial em conjunto às famílias pobres e comunidades indígenas e estamos vendo um impacto social enorme.”
“Muitas dessas famílias estavam cultivando de forma ilegal, com todos os riscos da prática, e hoje cultivam sem medo, sem riscos, com verdadeiros avanços econômicos.”
“Uma alternativa para acabar com a criminalidade é a indústria. Transformar em impacto socioeconômico sustentável. Toda a produção, que está sendo cultivada por milhares de famílias campesinas, é carbono positiva.”
“Imagina o que significaria replicar o modelo no Brasil. Não seria difícil. Mesmo clima, mesma geografia. Seria muito simples replicar. Como consequência, não só acabar com a criminalidade, não só gerar impacto econômico para as famílias, mas também está gerando matéria-prima para diversos usos.”
Guerra racista
Gabriela Arima – diretora na REDE REFORMA – Rede Jurídica pela Reforma da Política de Drogas
“Quando fala do acesso, a gente tem que definir de qual cannabis, medicinal ou maconha? A gente tem que entender que amaconha já é acessível a quem quer. O que diferencia é a quem isso chega e como essas pessoas serão tratadas na sociedade. quando é um jovem negro, pobre, é tratado como traficante. è um provilegio o acesso à Cannabis medicinal.”
“Enquanto a gente não obter o reconhecimento de que a guerra às drogas falhou. A guerra às drogas não é contra as drogas, mas uma lei racista que faz guerra contra o povo preto, que é a principal vítima dessa guerra. A reparação precisa ser o centro de qualquer discussão de drogas.”
Sem ideologia
Rogério Schietti – ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
“O grande avanço que a gente pode ter é retirar o debate do campo da moral e da ideologia. Ter coragem de conversar a respeito de drogas de maneira aberta, sem essa carga de preconceitos.”
“Temos na esfera do poder essa limitação. Ainda há uma estigmatização muito grande quando se trata de crimes previstos na lei antidrogas, como se já esperássemos uma condenação a pena privativa de liberdade.”
“Um drama social muito grande principalmente para as mulheres. Alguns estados têm um percentual elevadíssimo de mulheres presas. Não necessariamente por estarem envolvidas, mas por carregar um pouco para o marido na prisão. São presas por anos, muitas vezes sem julgamento.”
“Claro que existe o tráfico, que precisa ter uma resposta punitiva, mas não podemos colocar tudo em uma vala comum. É impossível que o judiciário, legislativo e executivo sigam insensíveis ao tema.”
Nossa vitória não será por acidente
Marcelo D2 – Músico e empresário do ramo da Cannabis
“Nesse tempo todo que venho lutando por esse debate, 30 anos, até sentar nessa mesa. Um favelado que sentia na pele as dores da ilegalidade, resolvi montar uma banda para falar disso e parece um sonho estar aqui lançando um produto de CBD. Estou aqui no papel de usuário. Mais que um defensor, sempre me coloquei no papel de usuário, e é importante ver o quanto a gente avançou.”
“Ainda me dói ter que falar da Cannabis como medicinal. Todo usuário é um paciente. Essa ideia de ter que ficar burlando a hipocrisia. É importante que seja uma pauta de inclusão. A gente sabe o quanto a gente sofre, a molecada da periferia sofre por conta disso.”
Fim da guerra
Paulo Teixeira- deputado federal pelo PT
“O objetivo de acabar com a guerra as drogas, que é responsavel pelo super encarceramento de jovens negros perifericos. Temos que acabar com a guerra às drogas e fazer políticas públicas para a juventude negra periférica do Brasil.”
“É um tema a ser resolvido no congresso nacional. Precisamos fazer um debate com a sociedade brasileira. Nós não podemos alimentar a guerra às drogas enquanto vários países entenderam que não é um caminho. A estratégia tem que ser suprapartidária.”
“A violência não vem da substância. Vem do mercado ilegal que com sua forma de funcionamento utiliza da violencia.”
Medicina integrativa e Cannabis
Paula Dall Stella – médica e pesquisadora do sistema endocanabinoide
“Falando de medicina integrativa tem um olhar diferente de como a gente fica doente. A Cannabis tem um potencial de benefício, mas a gente esquece que tem uma gênese que está relacionada à vida do paciente. Onde ele trabalha, mora. Tudo é relevante no contexto da doença.”
“Temos outras formas de modular o sistema endocanabinoide. Percebi que focamos muito na Cannabis, mas nós médicos precisamos aprender sobre o sistema endocanabinoide. Se a gente não entender sobre o sistema, a gente não vai saber o que quer do tratamento com Cannabis.”
“O estresse é o fator da disrupção do sistema endocanabinoide de maneira crônica. Não existe uma doença crônica que o sistema endocanabinoide não apresente alguma alteração. Nossa alimentação pode ser um fator de estresse e inflamação.”
“Existe um indivíduo saudável? se pensar no estresse, eu não conheço ninguém. Então a Cannabis pode causar uma proteção contra o estresse crônico. Mas a prevenção demanda alimentação saudável, atividade física, e a Cannabis entra como mais uma ferramenta.”
Acompanhe o portal Cannabis & Saúde para ficar por dentro do segundo dia do evento, que acontece neste sábado (16).