Quando falamos de Cannabis temos peculiaridades incontáveis para serem colocadas na equação e uma delas com certeza é o fato de se tratar de uma planta que está em contato com a humanidade há milhares de anos sem ter trazido grandes prejuízos; quando se pensa na quantidade de pessoas que foram e tem sido expostas à ela.
Claro, tudo muda quando falamos de formas sintéticas ou das novas apresentações disponíveis em países onde o uso adulto é liberado sem regulamentação cautelosa.
Estudando sobre os efeitos da Cannabis a longo prazo nos deparamos com estudos que avaliam o consumo crônico da planta do quimiotipo 1 (alto THC e baixo CBD); por ser esse o quimiotipo de Cannabis ao qual o maior número de pessoas ainda tem acesso.
Quando prescrevemos canabinoides geralmente prescrevemos uma planta do quimiotipo 3 (alto CBD e baixo THC), o que torna a prescrição ainda mais segura
Extrapolando os dados dos estudos da exposição crônica do quimiotipo 1, para o quimiotipo 3, conseguimos ter ainda mais segurança nas nossas conclusões pelo maior índice terapêutico (quantidade segura de se usar) do CBD sobre o THC.
Acho importante para o médico prescritor lembrar de atuar com “esmero e manualidade” com cada paciente, muitas vezes reconheço que seja difícil ter o controle de todos mas é desse jeito quando se trata de “medicina canabinoide”, mesmo que quiséssemos de maneira diferente simplesmente não dá pra fazer rápido.
Finalmente sabemos que em uma exposição prolongada de canabinoides nos receptores CB1 os mesmos acabam sofrendo um fenômeno de downregulation, que ocorre quando eles saem da superfície da parede celular e entram para o citoplasma; isso pode fazer com que você precise de uma dose maior do que anteriormente para obter o mesmo efeito.
Receptores CB1 e CB2
Lembro aqui que falamos dos receptores CB1 pois eles que estão presentes no sistema nervoso central (SNC) e que causam os efeitos a esse nível. Os CB2 encontram-se perifericamente se relacionando ao sistema imunológico.
Sistema endocanabinoide
Acontece que o sistema endocanabinoide (SEC) nos trouxe mais uma grata surpresa quando se trata de uso crônico da planta: parece que em 2 dias com abstinência de Cannabis os receptores CB1 começam a normalizar em quantidade e em 3 semanas a presença de receptores de quem usava em excesso fica igual a de quem não costuma ter contato com a Cannabis.
Como isso se traduz em prática médica?
Se você tem um paciente que usa alta dosagem de CBD e começa a parar de responder experimente cessar o tratamento por 3 semanas.
Como isso pode ser útil para o paciente que lê essa coluna?
Se você costuma fazer o uso adulto da Cannabis há muito tempo e em grande quantidade experimente ficar 3 semanas sem; os primeiros 2 dias serão os mais difíceis mas é completamente possível.
Para recordar o básico: o paciente saudável não deve fazer exposição a Cannabis antes dos 21 anos de idade, por isso o termo “adulto” é preferível ao “recreativo”.
Quanto antes se expor a grandes quantidades de THC, como na adolescência, pior é o prognóstico com transtornos relacionados ao uso; e quem sabe você não precise usar o termo “medicinal” já que a definição pode ter interpretação variada e equívoca.