À medida que mais países regulamentam o uso da Cannabis para uso adulto e medicinal, também desponta uma preocupação com o impacto que o consumo de produtos com canabinoides pode ter nos jovens.
Uma questão que sempre atrai o debate é sobre a saúde mental e o desenvolvimento do cérebro dos jovens que venham a consumir Cannabis, especialmente quando são produtos com altos teores de delta-9-tetrahidrocanabinol (THC).
Nesse sentido, um novo estudo investigou a relação entre o teor de THC na Cannabis consumida por jovens e o aparecimento de episódios psicóticos. Esta seria a primeira vez que cientistas analisaram a longo prazo a relação entre episódios psicóticos na adolescência e consumo de canabinoides.
Estudo de longo prazo
Os dados do estudo Incident psychotic experiences following self-reported use of high-potency cannabis: Results from a longitudinal cohort study foram publicados na revista científica Addiction e foram extraídos de um estudo mais abrangente chamado “Children of the 90’s”. Iniciado há mais de 30 anos em Bristol, cidade a oeste de Londres, na Inglaterra, esse estudo coletou informações sobre a saúde de milhares de famílias da região.
Quase 14 mil pessoas participaram do estudo desde o nascimento e muitos ainda estão envolvidos na pesquisa. Entre os 16 e 18 anos, os participantes responderam sobre o uso recente de Cannabis. Depois disso, na faixa dos 24 anos, eles informaram sobre o tipo de produto que consumiram e relataram as impressões que tiveram, incluindo experiências psicóticas.
Aqui cabe mencionar a diferença entre a experiência psicótica e a psicose crônica. A experiência ou episódio psicótico é um fenômeno temporário em que uma pessoa sente sintomas como alucinações, delírios e pensamento desorganizado.
Psicose é um termo mais amplo que está relacionado a episódios contínuos ou recorrentes dos sintomas. É um estado mental onde a pessoa perde contato com a realidade. A psicose não é uma doença, é um conjunto de sintomas que podem ocorrer em algumas doenças como esquizofrenia, transtorno bipolar ou transtornos de personalidade.
Portanto, o estudo não avaliou o desenvolvimento de alguma doença neurológica ou de sequelas permanentes. As experiências psicóticas dizem respeito a uma experiência temporária e extremamente desafiadora para quem a experimenta.
Crianças e adolescentes longe do THC
De acordo com os resultados do estudo, jovens que consumiam Cannabis com alta concentração de THC tinham duas vezes mais chances de ter experiências psicóticas, como alucinações e delírios, comparados aos que consumiam produtos com menos potência. Esses jovens não relataram essas experiências antes de começar a consumir Cannabis, sugerindo que o contato com altas doses de THC nessa idade pode levar a essas experiências desafiadoras.
Os pesquisadores agora defendem mais análises sobre os efeitos do uso de Cannabis rica em THC e medidas para reduzir a disponibilidade desse tipo de produto para jovens com menos de 21 anos. Na Alemanha, por exemplo, a regulamentação de Cannabis para uso adulto limita o teor de THC nos produtos disponíveis para jovens até 21 anos.
Também é importante ressaltar que os produtos ricos em canabidiol (CBD) não causam esse tipo de efeito em quem os consome. Esse outro canabinoide, produzido naturalmente pela planta, possui propriedades terapêuticas muito valiosas para diversas condições de saúde.
Contudo, para crianças com condições de saúde graves, como epilepsia e espasmos musculares, o uso do THC pode ser benéfico. Com a ajuda de algum profissional da saúde, as propriedades desse canabinoide podem trazer impacto positivo na qualidade de vida e bem-estar de alguns pacientes.
Tratamentos com Cannabis para jovens
Iniciar um tratamento com Cannabis com a orientação de um médico ou dentista pode trazer benefícios imensos, superando muitas vezes o tratamento com medicamentos convencionais. Esses profissionais podem recomendar a melhor combinação de canabinoides para combater os sintomas de cada paciente.
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Como cada pessoa reage de forma única ao uso dos canabinoides, é importante ter um bom diálogo com a equipe médica. Assim, é possível colher os melhores resultados possíveis e evitar os efeitos adversos indesejados em crianças, adolescentes, adultos ou idosos.
A Cannabis está ficando “mais potente”?
Existe uma crença no imaginário coletivo de que a Cannabis consumida hoje em dia tem mais THC do que a consumida nas décadas anteriores, como a dos anos 1970. Acredita-se que as plantas eram “mais fracas” no passado e as atuais são tão fortes que causam efeitos prejudiciais.
De fato as técnicas de cultivo evoluíram e é possível colher plantas com maiores concentrações deste canabinoide. Porém, isso não significa que não se consumiam altas doses de THC no passado. Esse argumento mostra uma visão limitada do mundo ao não levar em consideração o consumo tradicional de extratos e concentrados feitos à base de Cannabis em algumas regiões da Ásia e do Oriente Médio.
Essas preparações concentradas tradicionais de Cannabis são conhecidas como “haxixe” e a concentração de THC podia variar entre 50 e 80%. As formas de consumo mais comuns eram por ingestão ou inalação e datam de séculos atrás.
O haxixe chegou ao ocidente muitos anos antes dos hippies e da contracultura nos EUA, com destaque para o “Club des Hashischins”, em Paris. Ativo entre os anos de 1844 e 1849, era um lugar onde pessoas da elite intelectual parisiense se reuniam para consumir concentrados que vinham do Egito e da Argélia. Entre os membros mais conhecidos desse clube, podemos mencionar o poeta Charles Baudelaire, o escritor Alexandre Dumas (autor de Os Três Mosqueteiros e O Conde de Monte Cristo) e o pintor Eugène Delacroix.
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