Um dos grandes mitos que envolvem o consumo de produtos a base de Cannabis é que o uso sirva de porta de entrada para outras drogas. Mas será que esse receio se sustenta? De acordo com um estudo realizado por pesquisadores da Universidade da Califórnia e de Yale, a tendência é que ocorra o contrário.
Para chegar à conclusão, os cientistas escolheram uma das drogas que causa o maior impacto na saúde pública dos EUA: o fentanil. Apesar de ser um remédio legalizado, este opioide mata mais de 45 mil pessoas naquele país, todos os anos. Representa mais de dois terços de todas as mortes causadas por opiáceos nos EUA, superando inclusive a própria heroína.
Opioides x Cannabis
Então, examinaram a relação entre o número de mortes por opiáceos, de 2014 a 2018, e a presença de lojas que vendem Cannabis medicinal em 812 condados dos 23 estados em que os chamados “dispensários” são legalizados.
As informações sobre a legislação estadual sobre a Cannabis foram combinadas com dados de nível municipal sobre dispensários licenciados e taxas de mortalidade relacionadas a opioides.
Depois de controlar as características da população e outros fatores potencialmente influentes, os pesquisadores descobriram que os condados com um número maior de dispensários de Cannabis ativos estavam associados a taxas reduzidas de mortalidade relacionadas aos opioides.
De acordo com essa estimativa, a existência de dois dispensários em um condado está ligado à queda de 17% em todas as mortes por opioides. Quando considerados somente os opioides sintéticos que não a metadona, como o fentanil, a redução no número de mortes é de 21%.
Segundo os pesquisadores, a adição de um dispensário provoca uma redução adicional de 8,5% na taxa de mortalidade relacionada a todos os opioides.
Este é o primeiro estudo a examinar a associação entre dispensários de Cannabis ativos e as taxas de mortalidade relacionadas com opiáceos. Por esse motivo, os pesquisadores alertam que ainda é cedo para chegar a conclusões definitivas.
Para eles, embora a Cannabis seja geralmente considerada menos viciante do que os opioides, “não pode ser considerada como um remédio para a crise dos opioides até que uma base de evidências robusta esteja disponível”.