De acordo com pesquisa dos EUA, usuários têm maior disposição para cumprirem tarefas e seguirem objetivos
Um receio comum entre pais é que o uso de Cannabis medicinal em adolescentes deixe seus filhos apáticos. A famosa “preguiça” associada ao uso da Cannabis não passa de um mito — é o que revela um estudo recente publicado por um grupo de cientistas do Tennessee, nos Estados Unidos.
A pesquisa é um aprofundamento de uma discussão recente que indicava uma relação entre o consumo de Cannabis e a síndrome amotivacional, um distúrbio psiquiátrico crônico caracterizado por estados emocionais e cognitivos de distanciamento, diminuição de desejos e danos relacionados à memória e à atenção.
Imaginava-se que a Cannabis teria um efeito indireto na produção de dopamina no sistema mesolímbico, que controla algumas características cognitivas como a saliência motivacional (processo que motiva ou impulsiona o comportamento de um indivíduo) e o aprendizado reforçado (capacidade de tomar decisões em sequência), além de medo e motivação.
De acordo com essa teoria, quanto mais Cannabis um indivíduo consome, maior é o impacto negativo do sistema mesolímbico, resultando em um estado geral de apatia e inação.
Para testar essa tese, os pesquisadores reuniram um grupo de 47 estudantes universitários. Mais da metade, 25 deles, eram usuários de Cannabis — destes, 68% tinham hábitos de abuso do uso de Cannabis. Completavam o grupo, como controle, outros 22 estudantes que não faziam uso da substância.
Aos participantes foi solicitado que fizessem um teste para medir o dispêndio de esforço na obtenção de recompensar (Effort Expenditure for Rewards Taks, EEfRT, na sigla em inglês). Os resultados foram então analisados pelos pesquisadores.
A avaliação geral demonstrou que os participantes tinham uma tendência maior de participar de tarefas que requerem esforço caso a recompensa fosse maior ou tivesse mais chances de ser obtida.
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Em um aprofundamento da análise, os cientistas notaram que os estudantes que faziam uso intenso de Cannabis e que tinham consumido a substância no mês anterior ao teste tinham maior probabilidade de escolher tarefas que requerem mais esforço e ofereciam maiores recompensas.
De acordo com o estudo, “Os resultados fornecem evidências preliminares sugerindo que estudantes universitários que usam Cannabis são mais propensos a despender esforços para obter recompensas, mesmo depois de controlar a magnitude da recompensa e a probabilidade de recebimento da recompensa. Assim, esses resultados não suportam a hipótese da síndrome amotivacional.”
Apesar de os resultados contrariarem a difundida tese que relaciona o uso de Cannabis à “preguiça”, os pesquisadores afirmam que estudos mais abrangentes são necessários para avaliar mais detalhadamente as associações entre o uso de Cannabis e os padrões de comportamento de esforço em um ambiente real e a longo prazo.