O uso de derivados da Cannabis no tratamento da esclerose múltipla tem se tornado cada vez mais comum, especialmente depois da regulamentação do Canabidiol no Brasil em 2015.
Atualmente, a discussão concentra-se na aplicação terapêutica de doses controladas de seus principais compostos, como o THC e o CBD, ou de canabinoides sintéticos desenvolvidos pela indústria farmacêutica.
Produtos à base de Cannabis têm mostrado vantagens promissoras no alívio de sintomas como dor, espasmos musculares e rigidez em pessoas com esclerose múltipla.
No entanto, devido à quantidade de informações disponíveis, muitas vezes surgem dúvidas e mitos sobre o uso medicinal da Cannabis para tratar essa condição.
Então, para te ajudar a obter um maior entendimento a respeito do assunto, prossiga com a leitura e aprenda sobre:
- Cannabis no tratamento da esclerose múltipla: como age no corpo?
- Quais estudos apoiam o uso da Cannabis no tratamento da esclerose múltipla?
- Quais os benefícios comprovados da Cannabis no tratamento da esclerose múltipla?
- É seguro usar Cannabis no tratamento da esclerose múltipla?
- Cannabis no tratamento da esclerose múltipla substitui outros medicamentos?
- Como iniciar um tratamento complementar com a Cannabis medicinal?
- Recomendações de uso da Cannabis no tratamento da esclerose múltipla
Cannabis no tratamento da esclerose múltipla: como age no corpo?
A esclerose múltipla (EM) é uma condição neurológica de origem autoimune que compromete o sistema nervoso central, afetando cerca de 2,3 milhões de pessoas em todo o mundo.
Essa doença prejudica significativamente a transmissão dos impulsos nervosos entre o cérebro e a medula espinhal.
Os sintomas mais comuns incluem espasticidade, espasmos musculares, tremores, problemas de controle da bexiga, dor neuropática, dificuldade na fala (disartria) e alterações cognitivas, como problemas de memória.
Embora existam medicamentos aprovados para desacelerar a progressão da EM e diminuir a frequência das recaídas, ainda são necessárias mais opções focadas em amenizar os sintomas debilitantes enfrentados pelos pacientes.
A respeito disso, a Cannabis possivelmente atua como agente anti-inflamatório e imunossupressor devido à sua ação nos receptores canabinoides CB1 e CB2, que ativam diferentes vias intracelulares.
Os canabinoides também afetam receptores nucleares, canais iônicos e outros receptores acoplados à proteína G, além de modularem os receptores opioides e serotoninérgicos, responsáveis pelo controle da dor e inflamação.
Entre os componentes da Cannabis, o THC é o principal agente analgésico, antiemético e também possui propriedades anti-inflamatórias, sendo utilizado no tratamento de dores neuropáticas e crônicas na esclerose múltipla.
A relação entre o THC e o sistema endocanabinoide foi identificada no final da década de 1980. O canabinoide se liga a receptores canabinoides específicos no cérebro, particularmente o receptor CB1, que está presente no sistema nervoso central.
Essa descoberta foi um marco no desenvolvimento de medicamentos à base de canabinoides, que demonstraram potencial para aliviar sintomas como a espasticidade na EM.
O CBD, por sua vez, tem sido amplamente estudado na redução de rigidez muscular, desconforto, inflamação, fadiga e depressão em pacientes com EM, promovendo melhorias na mobilidade.
Quais estudos apoiam o uso da Cannabis no tratamento da esclerose múltipla?
Um estudo de 2005 avaliou a eficácia de um medicamento à base de Cannabis em pacientes com esclerose múltipla e dor neuropática central.
Foi realizado um ensaio clínico randomizado, duplo-cego, controlado por placebo, com duração de cinco semanas, envolvendo 66 participantes.
O medicamento, administrado como spray bucal, continha tetrahidrocanabinol (THC) e Canabidiol (CBD) na mesma proporção, permitindo administração de até 48 borrifadas diárias.
O consumo médio diário foi de 9,6 borrifadas no grupo da Cannabis. A dor e os distúrbios do sono foram monitorados diariamente usando uma escala de 11 pontos.
O extrato de Cannabis demonstrou superioridade ao placebo na redução da intensidade da dor e dos distúrbios do sono.
Embora o medicamento tenha sido geralmente bem tolerado, efeitos colaterais como tontura, boca seca e sonolência foram mais frequentes neste grupo. Efeitos cognitivos, como impacto na memória de longo prazo, foram limitados.
Concluiu-se que medicamentos à base de Cannabis são eficazes como tratamento adjuvante para reduzir a dor, espasticidade e melhorar o sono em pacientes com dor neuropática central associada à EM.
Além disso, apresentam um perfil de segurança aceitável, com efeitos adversos facilmente manejáveis.
Quais os benefícios comprovados da Cannabis no tratamento da esclerose múltipla?
Quem convive com a esclerose múltipla sabe que os sintomas podem ser crueis: dores persistentes, espasmos musculares debilitantes, e a constante sensação de que o corpo não responde como deveria.
É por isso que a busca por tratamentos que não apenas aliviam os sintomas, mas tragam qualidade de vida, é tão urgente.
Medicamentos como o Mevatyl e o Sativex, desenvolvidos a partir dos princípios ativos da Cannabis, têm ganhado espaço no arsenal terapêutico contra a esclerose múltipla.
Esses medicamentos são aprovados em diversos países e têm se mostrado eficazes no alívio de sintomas que afetam diretamente o bem-estar dos pacientes.
Mas como isso funciona? Por que a Cannabis, que é uma planta tão controversa para alguns, está sendo cada vez mais reconhecida na Medicina?
Os estudos sobre o impacto da Cannabis na esclerose múltipla apontam para um mecanismo biológico: a interação dos canabinoides com o sistema endocanabinoide do corpo humano.
Esse sistema, responsável por regular funções essenciais como dor, humor e resposta muscular, é profundamente afetado em pessoas com esclerose múltipla.
Quando a Cannabis é introduzida como parte do tratamento, ela ajuda a restaurar o equilíbrio perdido, trazendo os possíveis benefícios que conheceremos abaixo. Mas isso é apenas o início da conversa.
Quer entender como essa planta tem mudado a realidade de tantos pacientes? Assista a LIVE do Dr. Thiago Junqueira, onde ele explica, em detalhes, como a Cannabis medicinal está ajudando a transformar o tratamento da esclerose múltipla.
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Redução dos espasmos musculares
Quem lida com os espasmos musculares da esclerose múltipla sabe como eles podem ser limitantes. Esses movimentos involuntários, muitas vezes dolorosos, dificultam tarefas simples como vestir-se ou caminhar.
A espasticidade é um sintoma comum da EM, afetando 60–84% dos pacientes, particularmente ao longo da progressão da doença. É causada por lesão dos neurônios motores, e normalmente vem acompanhada de dor e inflamação.
Quando os canabinoides presentes na planta — principalmente o THC — entram em cena, eles interagem diretamente com os receptores CB1, que estão presentes no sistema nervoso central.
Essa interação diminui a atividade exagerada dos nervos responsáveis pelas contrações musculares, trazendo relaxamento e controle.
E o efeito não para por aí. O CBD complementa a ação ao reduzir a inflamação que pode piorar os espasmos. Esse equilíbrio ajuda a aliviar o desconforto e permite que o corpo funcione de maneira mais fluida.
Medicamentos como o Sativex, que combinam THC e CBD em proporções balanceadas, têm demonstrado resultados impressionantes em estudos clínicos.
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Alívio da dor neuropática
A dor neuropática é resultado de um sistema nervoso que envia sinais confusos ao cérebro.
Ela pode ser descrita como queimação, formigamento ou até mesmo como choques elétricos — sensações que nenhum analgésico comum consegue aliviar completamente.
O THC, ao se ligar aos receptores CB1 no sistema nervoso central, regula esses sinais desordenados, diminuindo a intensidade da dor.
Os receptores CB1 são encontrados principalmente em terminais no sistema nervoso central e em alguns tecidos periféricos.
Como ele bloqueia as vias da dor no cérebro e na medula espinhal, a principal função do THC no receptor CB1 é suprimir a liberação de neurotransmissores que sinalizam a dor, o que explicaria o efeito analgésico da Cannabis
Ao mesmo tempo, o CBD atua nos receptores CB2, reduzindo a inflamação nas áreas afetadas e modulando a resposta imunológica que frequentemente agrava a condição.
O CBD também age de maneira indireta, melhorando os níveis de serotonina, o nosso “opioide natural”. E, além de aliviar a dor, ele ajuda a combater os impactos emocionais que ela traz, como a ansiedade e o desânimo.
Estudos têm mostrado que pacientes que utilizam medicamentos à base de Cannabis no tratamento da esclerose múltipla experimentam uma diminuição substancial na dor neuropática.
Mais do que isso, relatam uma melhora geral no humor, no sono e na disposição para enfrentar o dia a dia.
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Alívio da dor muscular
A dor muscular na esclerose múltipla carrega o peso de dias difíceis e noites mal dormidas. Essa dor é causada pela rigidez dos músculos ou pelos espasmos constantes, tornando tarefas simples um desafio diário.
Quando a Cannabis é utilizada, a mudança é perceptível. O THC pode reduzir a tensão muscular, permitindo que o corpo encontre um estado de maior relaxamento.
Por outro lado, o CBD entra em cena para ajudar a diminuir a sensibilidade dolorosa. Ou seja, ele não apenas mascara o sintoma, mas auxilia no manejo das causas, proporcionando alívio real ao paciente.
Além disso, a ação relaxante dos canabinoides pode permitir ao paciente recuperar movimentos que antes pareciam impossíveis.
É seguro usar Cannabis no tratamento da esclerose múltipla?
Para muitas pessoas, a ideia de usar Cannabis no tratamento da esclerose levanta dúvidas. É seguro? A resposta é sim, mas há ressalvas.
Por um lado, há relatos positivos de pacientes que encontraram na Cannabis uma forma de aliviar espasmos musculares, dores constantes e até a insônia – sintomas que minam a qualidade de vida.
No tratamento da esclerose múltipla, o foco está nos derivados medicinais da planta, como o THC e o CBD. Mas mesmo assim, o uso deve ser cuidadoso e orientado por um médico.
Outro ponto que pesa na balança da segurança é a origem do produto. Infelizmente, em alguns países, o acesso à Cannabis medicinal de qualidade ainda é limitado, o que pode expor os pacientes a produtos mal processados ou contaminados.
É aqui que entra a importância de buscar fornecedores confiáveis e regulamentados. Afinal, quando se trata da saúde, cada detalhe importa.
Além disso, cada pessoa reage de forma única. O que funciona bem para uma pode causar desconfortos para outra.
Isso faz com que o acompanhamento médico seja indispensável, não apenas na prescrição inicial, mas durante todo o tratamento.
O segredo para um tratamento seguro está em encontrar a dose certa, no formato mais adequado, seja em forma de óleo, cápsulas ou spray.
Pode apresentar efeitos colaterais?
Como qualquer terapia, a Cannabis medicinal tem seus altos e baixos, e um deles é a possibilidade de efeitos colaterais. Isso não significa que o tratamento seja ruim, mas é algo que precisa ser levado em consideração.
Ninguém gosta de surpresas, especialmente quando se trata da saúde, e entender os possíveis desconfortos ajuda a tomar decisões mais conscientes.
Muita gente relata que o uso de Cannabis, especialmente produtos ricos em THC, pode causar sonolência, aquela sensação de estar mais devagar.
Para alguns, isso é quase como um alívio, mas para outros pode atrapalhar tarefas simples do dia a dia. Além disso, a famosa “boca seca” também é uma queixa comum. Não é nada grave, mas pode ser incômodo.
Outros efeitos são mais sutis, como leves tonturas ou uma sensação de cabeça leve. Geralmente, isso acontece no início do uso ou quando a dose é ajustada, e costuma melhorar com o tempo.
Já em doses maiores, podem surgir reações mais fortes, como ansiedade ou, em casos mais raros, um estado de paranoia.
Por isso, os médicos normalmente recomendam começar devagar e aumentar a dose de forma gradual, sempre sob orientação. Ou seja, a Cannabis pode sim ter efeitos colaterais, mas a maioria deles é manejável.
Cannabis no tratamento da esclerose múltipla substitui outros medicamentos?
Quem convive com a esclerose múltipla sabe que o tratamento não é só sobre aliviar sintomas, mas também sobre frear a progressão da doença.
Por isso, surge uma dúvida comum: Cannabis medicinal pode substituir outros medicamentos? A resposta, na maioria das vezes, é não – mas ela pode ser uma peça fundamental no tratamento.
Vale ressaltar que medicamentos derivados da Cannabis, como o Mevatyl, já são aprovados por autoridades de saúde como um tratamento direto para esclerose múltipla.
No entanto, ainda há outros remédios para esclerose múltipla, como imunomoduladores e imunossupressores, que têm a função de proteger o sistema nervoso e reduzir a frequência dos surtos.
Eles atuam diretamente na raiz do problema, enquanto a Cannabis foca nos sintomas que tornam a vida diária um desafio, como os espasmos musculares dolorosos, fadiga extrema e dor.
Em muitos casos, a Cannabis entra como um reforço, não como uma substituição.
Por isso, um paciente que luta contra a espasticidade pode continuar com o tratamento convencional enquanto usa a Cannabis para melhorar sua mobilidade e qualidade de vida.
Mas é importante lembrar: integrar a Cannabis ao tratamento não é algo simples. É preciso considerar interações medicamentosas, ajustar doses e acompanhar de perto os resultados.
Outro ponto relevante é a mentalidade de quem busca a substituição completa. Muitas vezes, isso surge de uma frustração com os efeitos colaterais dos medicamentos convencionais.
A boa notícia é que, com o suporte médico adequado, é possível encontrar um equilíbrio que permita aliviar sintomas sem abrir mão da proteção oferecida pelos remédios de base.
Como iniciar um tratamento complementar com a Cannabis medicinal?
O tratamento com Cannabis medicinal para esclerose múltipla inicia-se após a prescrição por meio de um médico experiente no uso terapêutico de canabinoides.
Muitos profissionais já reconhecem os avanços científicos e os benefícios da Cannabis medicinal para diversas condições de saúde, por isso, hoje é muito mais fácil iniciar um tratamento do que já foi um dia.
E para facilitar o acesso a esses especialistas, o portal Cannabis & Saúde disponibiliza uma lista atualizada de médicos que atuam na área de medicina canabinoide.
Depois de identificar o especialista ideal, o próximo passo é marcar uma consulta com ele. Durante o atendimento, o médico avaliará se o tratamento com Cannabis é adequado para o seu caso.
Caso seja indicado, você receberá a prescrição médica necessária para adquirir o produto, que pode ser obtido em farmácias autorizadas ou por importação regulamentada, dependendo do produto prescrito.
Com o suporte do portal Cannabis & Saúde e um acompanhamento médico qualificado, o processo de iniciar o tratamento com Cannabis medicinal para esclerose múltipla torna-se muito mais simples!
Recomendações de uso da Cannabis no tratamento da esclerose múltipla
O uso da Cannabis no tratamento da esclerose múltipla desperta interesse tanto no meio médico quanto entre pacientes que buscam alternativas para aliviar sintomas refratários.
Contudo, ao considerar essa opção, uma postura responsável e informada é indispensável.
A decisão de incorporar a Cannabis à rotina terapêutica não deve ser tomada de maneira impulsiva, por conta própria ou baseada exclusivamente em relatos isolados.
Afinal, trata-se de um recurso que, apesar de seus potenciais benefícios, exige atenção rigorosa a diversos aspectos. Veja o que considerar para iniciar esta abordagem da melhor forma:
1. Pesquise sobre a procedência do produto
Antes de adquirir qualquer derivado de Cannabis, é fundamental certificar-se da procedência do produto. O mercado oferece uma variedade de opções, mas nem todas atendem aos padrões de qualidade necessários.
Produtos contaminados ou com composições desconhecidas costumam comprometer os resultados esperados, além de pôr em risco a saúde do usuário.
Portanto, procure por fornecedores confiáveis, que apresentem certificações adequadas e ofereçam transparência sobre o cultivo, extração e formulação dos produtos.
No contexto da esclerose múltipla, onde o corpo já enfrenta desafios constantes, priorizar a qualidade do que está sendo ingerido é uma questão a não ser negligenciada.
2. Evite tomar decisões sem orientação médica
A empolgação diante de relatos de sucesso pode levar algumas pessoas a iniciarem o uso da Cannabis sem buscar a orientação de um profissional de saúde. No entanto, essa prática é arriscada.
Cada organismo responde de forma única, e o que funciona para um paciente pode não surtir o mesmo efeito em outro.
Além disso, apenas um médico especialista tem a capacidade de avaliar possíveis interações com outros medicamentos, ajustar dosagens e monitorar a evolução do tratamento.
O acompanhamento regular também oferece suporte em caso de efeitos adversos inesperados, garantindo que o uso da Cannabis seja seguro e realmente benéfico.
3. Considere combinar Cannabis com outros tratamentos
A Cannabis pode ser uma aliada poderosa, mas raramente atua como solução isolada para os desafios da esclerose múltipla.
Converse com seu médico sobre a possibilidade de integrar esse recurso ao plano de tratamento já existente.
Profissionais qualificados estão aptos a recomendar a combinação de canabinoides mais adequada, explorando a sinergia entre diferentes abordagens terapêuticas.
Para aqueles que ainda não experimentaram essa intervenção, é válido discutir a inclusão da Cannabis como parte de uma estratégia abrangente.
Conclusão
Como vimos, manejar com Cannabis uma condição tão complexa quanto a esclerose múltipla exige um compromisso com a qualidade do tratamento e a orientação de profissionais capacitados.
É necessário entender que cada passo nesse caminho deve ser pautado pela segurança, pelo conhecimento e pelo acompanhamento adequado, sempre respeitando as particularidades de cada paciente.
A ciência continua avançando, e o potencial dos canabinoides para melhorar a qualidade de vida de quem enfrenta a esclerose múltipla está apenas começando a ser compreendido em toda a sua profundidade.
Quer expandir seu entendimento sobre o papel da Cannabis e descobrir mais sobre suas propriedades terapêuticas? Explore os artigos disponíveis no portal Cannabis & Saúde.
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