As regulamentações da Cannabis para uso medicinal em diversos países têm aberto portas para novas pesquisas e tratamentos, especialmente para populações vulneráveis, como pessoas na terceira idade. Esta planta, comumente associada à juventude, tem potencial para proporcionar bem-estar e melhorar a qualidade de vida para essa faixa etária.
As propriedades analgésicas, anti-inflamatórias, antioxidantes e ansiolíticas da Cannabis podem ser uma alternativa para idosos que convivem com dores crônicas, dificuldades para dormir, rigidez muscular e outras condições.
Porém, ainda existem poucos estudos científicos sobre a segurança e a eficácia dos tratamentos com canabinoides a longo prazo. Com o objetivo de preencher essa lacuna, pesquisadores da Suíça fizeram um estudo com pacientes da terceira idade com demência severa, acompanhando-os por um ano.
Um estudo em casa de repouso para a terceira idade
Em uma casa de repouso para idosos, os cientistas acompanharam 19 pacientes com média de idade de 81 anos. Todos já recebiam múltiplos medicamentos e receberam uma combinação dos dois canabinoides mais populares: canabidiol (CBD) e delta-9-tetrahidrocanabinol (THC), em uma proporção 2:1 (24,8 mg de CBD e 12,4 mg de THC por dia).
O estudo observacional Cannabinoids for behavioral symptoms in severe dementia: Safety and feasibility in a long-term pilot observational study in nineteen patients, publicado na revista Frontiers in Aging Neuroscience, tinha como objetivo principal avaliar a segurança e os possíveis benefícios clínicos do tratamento, como a redução da agitação, rigidez muscular e problemas comportamentais.
Além disso, os pesquisadores observaram como o corpo metabolizava os canabinoides e se havia risco de interações medicamentosas com os remédios já utilizados pelos idosos. Essas informações são importantes, já que muitos dos participantes apresentavam comprometimento cognitivo e eram polimedicados.
Este foi provavelmente o primeiro estudo de longo prazo a avaliar o uso medicinal da Cannabis em uma população da terceira idade com diagnóstico de demência severa.
Redução de antipsicóticos
Os resultados foram animadores e incentivaram os pesquisadores a propor um estudo clínico mais aprofundado. As pontuações clínicas que mediram a gravidade dos sintomas comportamentais e físicos mostraram uma melhora significativa e estável ao longo do estudo.
Além disso, o uso de outros medicamentos, especialmente antipsicóticos, foi reduzido após a introdução dos canabinoides. Esse tipo de tratamento geralmente é uma alternativa para reduzir sintomas como agitação, ansiedade e insônia.
Outro ponto importante foi a melhora na aceitação dos cuidados pelos pacientes, o que facilitou o trabalho dos cuidadores e permitiu a aplicação de mais de intervenções não medicamentosas.
Nesse sentido, ao longo dos 13 meses de tratamento, os pacientes não relataram efeitos colaterais graves, e as reações adversas foram limitadas.
Atenção às interações medicamentosas
No estudo, um dos pontos mais importantes foi sobre interações medicamentosas entre o produto à base de Cannabis e outros remédios que os participantes tomavam. Como muitos desses pacientes já faziam uso de diversos medicamentos simultaneamente, a introdução de novas substâncias exige uma análise cuidadosa das possíveis interações entre os fármacos.
Os pesquisadores analisaram a atividade das enzimas hepáticas, principalmente as enzimas CYP1A2 e CYP2C19, que são responsáveis pelo metabolismo de vários medicamentos, inclusive antidepressivos e antipsicóticos.
Os resultados mostraram que o tratamento com Cannabis causou uma leve redução na atividade dessas enzimas, o que poderia levar ao acúmulo de certos medicamentos no organismo, aumentando o risco de efeitos colaterais.
Por exemplo, antidepressivos como a fluoxetina e antipsicóticos como a olanzapina dependem dessas enzimas para serem metabolizados corretamente. Com a inibição dessas enzimas, existe o risco de acúmulo desses medicamentos e potenciais efeitos tóxicos.
No entanto, o estudo não identificou efeitos colaterais graves relacionados a essas interações medicamentosas. Os pesquisadores observaram que os canabinoides foram metabolizados de forma adequada, sem acúmulos ou efeitos tóxicos a longo prazo.
Eficácia e segurança
Como um dos primeiros estudos científicos a avaliar o uso de medicamentos com Cannabis por pacientes na terceira idade a longo prazo, os resultados foram encorajadores. A combinação CBD e THC foi segura, proporcionou melhoras na qualidade de vida dos indivíduos e possibilitou a redução de medicamentos convencionais, além de facilitar o trabalho dos cuidadores.
Entretanto, os pesquisadores destacaram que, embora os resultados sejam positivos, novos estudos são necessários.
“Apesar da particularidade da população, na qual poderíamos esperar eventos adversos ou complicações, os efeitos colaterais foram limitados. Além disso, o perfil farmacológico foi favorável e não forneceu evidências de interações medicamentosas críticas. O interesse pela Cannabis medicinal está aumentando. Com base nos resultados deste estudo, esta nova abordagem pode representar uma alternativa válida, viável e segura para pacientes com demência.”
Cannabis e envelhecimento saudável
Recentemente, a médica geriatra Gabriela Mânica participou de uma LIVE aqui no Cannabis & Saúde sobre Cannabis e envelhecimento saudável. Ela respondeu dúvidas do público e explicou porque os canabinoides trazem tantos benefícios para as pessoas da terceira idade.
“Nós produzimos a nossa maconha natural, os endocanabinoides, que são responsáveis por um equilíbrio do nosso corpo. E, como diversos sistemas no nosso corpo envelhecem e se tornam deficitários, também pode acontecer com o nosso sistema endocanabinoide. Assim, nós não produzimos a quantidade necessária de endocanabinoides e usamos os fitocanabinoides — as moléculas provenientes da planta — que vão colocar o nosso corpo em equilíbrio novamente.”
Os medicamentos com Cannabis se apresentam como uma alternativa terapêutica capaz de proporcionar qualidade de vida e bem-estar para as pessoas na terceira idade. Se no estudo a planta foi segura para pacientes em condição grave, outras pessoas podem usufruir de um envelhecimento saudável seguindo um caminho semelhante.
Ajuda para iniciar um tratamento com Cannabis
Se você deseja iniciar um tratamento com medicamentos à base de Cannabis, é necessário ter o acompanhamento de um profissional da saúde. Pelas regras em vigor no Brasil, essa é a maneira de ter acesso legal e seguro a produtos com canabinoides.
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