Falar sobre Cannabis na gravidez é quase sempre um tabu – mas tabus devem ser enfrentados com informação de qualidade.
Se a utilização de produtos à base de Cannabis gera polêmica e debates acalorados, o uso das substâncias extraídas da planta durante a gestação pode ser ainda mais discutível.
Em primeiro lugar, é preciso ter consciência de que qualquer alimento ou composto – medicamentos, por exemplo – podem influenciar na formação e no desenvolvimento do bebê.
Por isso, todo o cuidado é pouco na hora de definir se realizar ou mesmo manter um tratamento médico na gravidez é vantajoso.
Ponderar prós e contras vale também, portanto, quando o medicamento em questão é o canabidiol (CBD).
Neste artigo, vamos mostrar alguns pontos relacionados ao consumo de produtos provindos da Cannabis por gestantes e as consequências que as substâncias podem ter para os fetos.
Além disso, vamos esclarecer as diferenças entre Cannabis e canabidiol e repassar o que os estudos científicos dizem sobre o uso de CBD durante a gestação.
Você ainda vai conferir os benefícios do consumo medicinal do composto, se é seguro utilizá-lo na gravidez, como consumi-lo e onde encontrar médicos capazes de prescrevê-lo no Brasil.
Boa leitura!
Cannabis na gravidez: o consumo da substância entre mulheres gestantes
É de conhecimento geral que a gestação exige cuidados com a saúde, além da adoção de medidas que levem o bebê a se desenvolver da maneira mais saudável possível.
Por isso, é preciso ter atenção quando o assunto envolve gravidez e o consumo de Cannabis.
No Canadá e nos Estados Unidos, por exemplo, a ingestão dos compostos da planta entre mulheres grávidas tem aumentado, conforme um estudo publicado em 2016, chamado Pesquisa Nacional sobre Uso de Drogas e Saúde.
Se, em 2015, o número de gestantes que consumiam Cannabis era de 3,4%, o levantamento apontou que, no ano seguinte, a porcentagem subiu para 4,9%.
É importante ressaltar que tais números envolvem o uso recreativo, ou seja, com maiores taxas de tetrahidrocanabinol (THC), outro componente da Cannabis, que também possibilita o uso medicinal.
Em 2019, o resultado dessa mesma pesquisa indicou que o número de grávidas que fazem uso de Cannabis mais do que dobrou em 15 anos (entre 2002 e 2017).
Os dados foram coletados por meio de quase 470.000 mulheres com idade entre 12 e 44 anos.
O número de consumidoras subiu de 3,4% no início deste século, entre os anos de 2002 e 2003, para 7%, entre os anos de 2016 e 2017.
Já quando falamos do uso medicinal e controlado da Cannabis por gestantes, não há dados consistentes a divulgar.
No entanto, como veremos ao longo deste conteúdo, o principal composto utilizado é o CBD, com raros efeitos adversos e muitos benefícios, seja no alívio de sintomas ou no tratamento de uma série de doenças.
Cannabis na gravidez: O uso durante a gravidez pode oferecer riscos ao bebê?
Conforme já citamos antes, os cuidados com a alimentação e com a ingestão de substâncias diversas, como toxinas, durante a gravidez devem ser redobrados.
Ou seja, os alimentos são a base para o desenvolvimento físico e cerebral do feto.
Nesse sentido, muitas coisas podem influenciar no processo, levando à perda ou ao ganho de peso e a um parto mais ou menos complicado.
Por enquanto, todas as respostas em relação ao consumo de CBD durante a gravidez ainda são inconclusivas.
Não há, até o momento, estudos que consigam dimensionar os efeitos e as consequências do uso da substância na gestação.
O certo é que, como todo alimento ingerido pela gestante, os bebês também são capazes de interagir com os compostos químicos encontrados no CBD.
Essa é mais uma razão que reforça a necessidade de sempre buscar um médico especialista para utilizar o canabidiol ou qualquer outro remédio, seja durante a gestação ou não.
Cannabis na gravidez: Qual é a diferença entre Cannabis e canabidiol?
Nem todo mundo está ciente disso, mas há maneiras diferentes de se consumir Cannabis.
Por isso, é fundamental deixar bastante claro que nem toda substância proveniente dela causa efeitos psicotrópicos ou euforia.
Para o uso medicinal, não há apenas o THC e o CBD – eles são somente dois dos mais de 100 canabinoides que compõem as plantas do gênero.
É importante frisar que o óleo de canabidiol é o componente terapêutico da Cannabis mais acessível e estudado.
Também é interessante destacar que ela é uma planta muito antiga, utilizada há mais de 10 mil anos e cultivada há pelo menos 6 mil anos.
Ela é nativa do continente asiático, mais precisamente da região onde hoje estão localizados países como China e Mongólia, além da Sibéria, que integra partes da Rússia e do norte do Cazaquistão.
Em resumo: a Cannabis é a planta em si, com os seus galhos, folhas, sementes e caule.
Já o canabidiol é uma das diversas substâncias que a compõem, sendo, desse modo, extraído e utilizado para fins medicinais e terapêuticos.
O que os estudos científicos dizem sobre o uso de CBD na gestação?
Até o momento, os cientistas não têm plena certeza dos efeitos do consumo de Cannabis durante a gravidez.
No entanto, pesquisas sugerem que fumar maconha pode ser prejudicial para o feto.
Um estudo publicado no ano passado na revista científica norte-americana JAMA Psychiatry indica que o ato de fumar maconha durante a gestação pode influenciar no desenvolvimento cerebral do bebê.
As possibilidades de alterações vão desde padrões cognitivos até distúrbios do sono e comportamentos psicóticos.
Mais uma vez, é preciso separar as formas de uso da planta e focar nos aspectos medicinais.
É consenso que o uso terapêutico não tem ligação com o consumo recreativo adulto e, portanto, não leva a efeitos alucinógenos.
Além disso, considere que um número cada vez maior de mulheres depende de produtos à base de Cannabis, como o canabidiol, para evitar sintomas como náuseas e vômitos.
O médico prescritor de CBD será sempre o seu guia no tema, avaliando caso a caso e informando se o tratamento é indicado e seguro.
Há pesquisas que indicam que a utilização de Cannabis durante a gravidez pode aumentar o risco de parto prematuro e descolamento da placenta.
É o caso do estudo realizado pelo Journal of the American Medical Association (JAMA), em 2017, que baseou-se em números do instituto canadense Ontario Better Outcomes Registry & Network.
Mas nem todos os experimentos e análises publicam conclusões idênticas, a exemplo da pesquisa intitulada Prenatal Marijuana Exposure and Neonatal Outcomes in Jamaica: An Ethnographic Study, que mostrou resultados distintos.
Esse estudo é mais antigo, publicado em 1992, e, conforme os seus dados, gestantes que usaram Cannabis teriam gerado crianças com melhor estabilidade física para o primeiro mês de vida, além de apresentarem maior grau de atenção.
Após cinco anos, os sistemas autônomo e motor também seriam mais fortes e com menos irritações.
O interesse da sociedade, entretanto, tem aumentado de maneira bastante acelerada.
Uma pesquisa apresentada no Encontro Anual de Anestesiologia, em 2019, indica que a quantidade de mulheres que acreditam que o CBD é menos nocivo à saúde do que o uso de álcool ou recreativo de Cannabis tem crescido.
Conforme a publicação:
“Enquanto apenas 9% das mulheres diziam acreditar que uma dose de álcool por semana seria segura, 29% creem que o CBD seria seguro. Anestesistas e enfermeiras parteiras certificadas mostraram-se bem mais céticos: apenas 18% dos médicos anestesistas e 20% das enfermeiras creem que o CBD seja seguro. No entanto, as doulas, em sua maioria, acreditam ser seguro. Ao menos 70% disseram acreditar na segurança do uso de CBD durante a gravidez.”
Portanto, por ser cada vez mais evidente o interesse, cresce a necessidade de mais investimentos e de um maior aprofundamento nos estudos relacionados ao tema.
Cannabis na gravidez: Quais são os benefícios medicinais do CBD?
Vamos começar este tópico listando doenças e condições que integram as investigações do uso terapêutico da Cannabis por meio do canabidiol.
São elas:
- Ansiedade
- Artrite reumatoide
- Artrose
- Autismo
- Câncer
- Dependência química
- Depressão
- Dermatites, acne e psoríase
- Diabetes
- Doença de Alzheimer
- Doença de Parkinson
- Doenças gastrointestinais
- Dor neuropática
- Dores de cabeça
- Endometriose
- Enxaqueca
- Epilepsia
- Esclerose múltipla
- Fibromialgia
- Glaucoma
- Insônia
- HIV
- Lesões musculares
- Obesidade
- Osteoporose
- Paralisia cerebral
- Síndrome de Tourette
- Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)
- Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT)
- Doenças veterinárias.
Mesmo com a necessidade de mais estudos serem desenvolvidos e concluídos para que a aplicação medicinal da Cannabis avance, o que é quase um consenso é que as plantas do gênero são subaproveitadas em termos de tratamento médico.
O canabidiol é administrado principalmente na forma de extrato, ou seja, apenas uma parte dela, que também precisa passar por mais análises aprofundadas sobre a sua utilização.
O certo, porém, é que ele tem eficácia terapêutica comprovada em muitos casos.
Algumas das propriedades encontradas no óleo de canabidiol são: analgésica, anti-inflamatória, relaxante muscular, reguladora de humor e neuroprotetora.
No caso do anti-inflamatório e analgésico, os efeitos ocorrem por meio de terpenos (elementos que carregam o aroma das plantas), como o mirceno e o beta-cariofileno, e de canabinoides como o canabicromeno (CBC).
Um artigo, intitulado Why Athletes Are Ditching Ibuprofen for CBD (Por que atletas estão trocando Ibuprofeno por CBD), indica que as qualidades analgésicas do CBD são superiores às dos medicamentos comuns.
Em relação aos efeitos de relaxamento dos músculos, associado ao thc, o canabidiol pode auxiliar pacientes que sofrem de esclerose múltipla.
Como regulador de humor, ele pode ser útil para quem tem transtorno bipolar.
Já no caso de ser um neuroprotetor, o CBD atua no controle de doenças neurológicas, a exemplo da epilepsia.
O avanço total e completo do uso do canabidiol e de derivados da Cannabis, entretanto, depende de uma maior quantidade de estudos que divulguem mais informação e uma consequente diminuição do preconceito.
Somente assim será possível agrupar a medicina moderna a uma alternativa eficaz que só tende a trazer inúmeros benefícios à saúde.
É seguro usar medicamentos ou produtos à base de CBD durante a gestação?
Como já vimos neste conteúdo, todo e qualquer alimento, substância ou medicamento ingeridos pela gestante interagem com o bebê.
E isso pode trazer consequências tanto positivas quanto negativas para o desenvolvimento do feto.
Ainda não é possível afirmar se o consumo de produtos à base de Cannabis pode influenciar ou não a saúde do bebê, mas os cientistas sabem que a criança compartilha dos compostos extraídos da planta.
A explicação para isso vem do fato de o sistema endocanabinoide estar presente no embrião desde o início da gestação.
Por esse motivo, os canabinoides encontrados na Cannabis interagem com o corpo por meio dele.
Vale ressaltar que o sistema endocanabinoide é composto por uma espécie de trilhos que, interligados, são responsáveis por manter as funções orgânicas e os processos fisiológicos do corpo humano de maneira perfeita.
É o que garante a homeostase – ou seja, o equilíbrio do organismo.
Como consumir CBD com segurança durante a gestação?
O óleo de canabidiol pode ser consumido, principalmente, nestas quatro formas distintas: administração sublingual, ingestão, uso tópico e inalação.
Antes de trazer detalhes sobre os formatos, vale destacar o que diz a RDC Nº 327/2019 da Anvisa, segundo a qual “os produtos de Cannabis serão autorizados para utilização apenas por via oral ou nasal”.
A via oral inclui o uso sublingual, no qual o paciente coloca o remédio embaixo da língua por meio de um dosador.
Isso permite que o óleo seja absorvido diretamente pela membrana mucosa da boca, sem necessidade de passar pelo sistema digestivo.
O método de ingestão pode ser executado com cápsulas ou por meio de comidas e bebidas, como chás.
É possível ainda usar o óleo em receitas culinárias.
O tempo de efeito depende da quantidade ingerida e também da última vez em que o paciente comeu.
Entretanto, não tente se engane: o fato de consumir o produto de estômago vazio para gerar uma reação mais rápida pode ocasionar um resultado final menos intenso e duradouro.
Na aplicação de pomadas, cremes ou loções, que caracterizam o uso tópico do canabidiol, os ingredientes ativos são absorvidos pela pele.
A vantagem desse formato é que o produto pode ser administrado diretamente no local desejado, o que gera um efeito mais uniforme.
Por fim, a inalação do óleo de canabidiol ocorre por meio da vaporização.
Nesse processo, o CBD entra nos pulmões e difunde-se pela corrente sanguínea, evitando passar por outros órgãos, como o fígado, por exemplo.
No entanto, é importante reforçar que no Brasil só é permitido o uso da substância via oral e nasal.
Seja qual for a forma de consumo, ele só deve ser feito mediante orientação e acompanhamento médico.
Somente um especialista será capaz, por exemplo, de indicar qual é a dosagem ideal para cada caso, assim como a concentração dos compostos extraídos da Cannabis.
Por isso, conversar com um profissional deve ser sempre o primeiro passo ao realizar tratamentos à base de CBD.
Cannabis na gravidez: onde encontrar médicos que prescrevem CBD no Brasil?
É fato que o tratamento à base de canabidiol e outros derivados da Cannabis ainda desperta muitas dúvidas nas pessoas.
O mais comum é confundir o uso medicinal e terapêutico com o uso adulto como droga – que ainda é proibido no Brasil.
Com alguns médicos, a situação não é tão diferente.
No entanto, aos poucos, o pensamento dos profissionais tem mudado.
Em um estudo do Centro de Câncer da Universidade do Colorado, ao menos 73% dos médicos oncologistas norte-americanos dizem acreditar nos benefícios que os tratamentos à base de Cannabis medicinal podem proporcionar.
Esse número significa que sete entre dez profissionais da saúde creem que substâncias provindas da planta podem ajudar no tratamento contra o câncer.
Por outro lado, somente 46% deles, ou seja, menos de cinco em cada dez, afirmaram que sentem-se prontos para receitar os remédios provindos da Cannabis.
No Brasil, de acordo com o Conselho Federal de Medicina (CFM), apenas mil médicos, de um total de 450 mil, prescrevem medicamentos contendo CBD.
Esses números mostram uma tendência de que o paciente é o maior responsável por buscar conhecimento e um possível tratamento à base de canabidiol.
Além disso, muitos acabam perdendo um tempo precioso buscando um profissional adepto à Cannabis medicinal – fator que nem sempre pode ser desperdiçado.
Com o objetivo de facilitar o acesso aos tratamentos, o portal Cannabis & Saúde disponibiliza um cadastro online de médicos prescritores de Cannabis medicinall.
Acesse o link, escolha o profissional mais próximo de você ou, se preferir, marque a sua consulta a distância.
Conclusão
Como vimos neste artigo, ainda é necessário mais aprofundamento nos estudos a respeito do uso controlado, medicinal e terapêutico da Cannabis na gravidez.
Além disso, é importante saber diferenciar as possíveis aplicações dos compostos – uma preocupação que só se resolve ao buscar um médico especialista.
Também é preciso sempre ter cuidado com a questão da compra do produto, já que, no Brasil, só é possível adquiri-lo por meio de receita médica aprovada pela Anvisa.
Seja como for, o que não pode deixar de ser considerado é a quantidade de enfermidades que o canabidiol ajuda a combater, inclusive doenças graves, até mesmo substituindo fármacos tradicionais, encontrados em farmácias.
A busca por mais rigor científico e, consequentemente, de extrema qualidade dos produtos à base de Cannabis passa também por uma maior tolerância aos experimentos científicos.
Em outras palavras, é preciso investir em conhecimento e informação, pois só assim será possível banir de vez o preconceito frente às substâncias que podem melhorar a qualidade de vida e até mesmo salvar muitas pessoas.
Para continuar por dentro dos avanços da ciência nessa área, fica desde já a dica: leia regularmente os conteúdos publicados aqui no portal Cannabis & Saúde, a sua fonte confiável sobre Cannabis medicinal.